Quem observa as cantoras sertanejas no palco, veneradas pelo público e cantando seus hinos — sejam de sofrência ou de superação –, não consegue enxergar as batalhas que elas já enfrentaram antes de arrastar milhões de fãs por aí.
Por anos, o pai de Simone e Simaria, já falecido, trabalhou como garimpeiro e a mãe lavando roupas no rio. Ainda adolescentes, conseguiram um trabalho como backing vocals do cantor de forró Frank Aguiar. “Meu sonho era ter um banheiro maravilhoso com boxe”, revela Simaria Mendes Rocha, 35 anos. Demorou para o dinheiro da música chegar. Nas piores fases, pensaram em desistir e se separaram. Voltaram a se reunir em Fortaleza para participar de uma banda de forró. “Eram 20 mil, 30 mil pessoas nos assistindo, uma visão maravilhosa. Mas eu não me esqueço das noites carregando instrumentos”, lembra Simone, 33 anos.
O preço do sucesso atual é alto. “As pessoas, até as mais próximas, acham que você é uma máquina. Não sou. E tenho meus filhos”, diz Simaria, mãe de Giovanna, 4 anos, e Pawel, 1. “Eles são prioridade. Mas aí o show já está fechado, fãs esperando… Fazer o quê? Eu sigo. A cabeça longe, aquela angústia. Boto os cílios e canto, linda, dilacerada por dentro”, desabafa.
Maiara Pereira, 29 anos, faz dupla com sua irmã gêmea, Maraisa Pereira. As mato-grossenses trabalham duro para manter o espaço conquistado a duras penas. Foram recusadas muitas vezes por escritórios que administram a carreira de artistas com justificativas absurdas. “Ouvíamos que mulher não faz sucesso porque menstrua. Davam a desculpa de que o público não se identificaria com as nossas canções, que falam de bebida e balada”, lembra Maiara. “Eu sempre rebati.”
As gêmeas furaram a bolha há pouco mais de dois anos e, desde então, só tiraram dez dias de férias. Com a goiana Marília Mendonça, 22 anos, rodam o país com a Festa das Patroas, festival que reúne as duas atrações. “Estamos pensando no futuro”, interrompe Maraisa. “Agora não dá para aproveitar o que conquistamos, mas, na hora que Deus quiser, vamos diminuir o ritmo e lembrar do que passou.”
Conhecida como a rainha da sofrência, Marília Mendonça fala das tristezas vividas no amor. “As coisas não deram muito certo para mim até hoje”, justifica com um sorrisão no rosto. Já foi xingada de vagabunda e se lembra de ter ouvido que fazia canções de prostituta, mas logo se impôs. Encabeçou as paradas de sucesso em 2016 e 2017, quando lançou o segundo DVD, Realidade – Ao Vivo em Manaus.
Qual pior lado da fama?, questionamos. “As pessoas acham que a gente é perfeita, não pode espairecer, ter uma noite de bebedeira, beijar alguém. Eu sou humana também. Fico com fome, sono, saudade de casa, carente. Cada dia entendo mais que realizar meu sonho de cantar no palco tem sua cruz.”
Esse é só um aperitivo da reportagem QUEM MANDA AQUI?, presente na CLAUDIA de novembro, já nas bancas. Garanta a sua e leia na íntegra!