Foi preciso muito sangue frio para assistir ao programa do último domingo (09) do Big Brother Brasil sem se sentir mal. O reality de entretenimento se assemelhou às antigas apresentações do Coliseu romano em que um humano era jogado aos leões para o deleite do público. Só que dessa vez, entretanto, acompanhamos um relacionamento abusivo e violento transmitido em rede nacional sem o menor pudor. Sim, precisamos falar de Marcos e Emilly.
Ao contrário do que poderíamos imaginar, a Globo não poupou os espectadores das cenas mais indignantes protagonizadas pelo homem do casal. Acompanhamos em detalhes cada aperto no braço da gêmea (com direito a reclamação de dor), cada grito contra ela, cada tentativa do médico de convencer Emilly de que ela era a culpada de tudo.
Diante da indignação popular, que clamou a expulsão de Marcos por agredir Emilly, a Globo acabou optando pela saída mais covarde: chamou cada um separadamente no confessionário para dar instruções. Ao Marcos, avisaram que ele deveria maneirar nas brigas, já para Emilly o aviso foi de que ela poderia denunciar as agressões quando quisesse.
É preciso mesmo mais denúncias além de reclamar de dor ao ser agredida em frente às câmeras? O posicionamento da emissora frente a este caso lembra o das pessoas que dizem que em briga de marido e mulher não se mete a colher. Mas sabemos que denunciar uma agressão não é tarefa trivial para quem é agredida. E que ao presenciar uma agressão é fundamental interferir. Jogar a responsabilidade de resolver o problema nas mãos de Emilly é cruel.
O tiro saiu pela culatra, porque logo depois da conversa no confessionário Marcos deve ter percebido do que se tratava a ~bronca~ e tentou mostrar um comportamento totalmente diferente na casa, sem muito sucesso. Ele pode até ter mudado o tom de voz e ficado mais atencioso, mas continuou insistindo que Emilly era a única responsável por tudo o que estava acontecendo.
Para coroar de vez o machismo, o programa do último domingo eliminou Marinalva com a incrível marca de 77%. Quem discorda da agressão então se viu impotente: estamos vendo uma agressão física e psicológica pesada contra uma mulher em um reality show e não há nada a se fazer, pois aparentemente a maior parte da audiência apoia Marcos.
A Globo lavou as mãos e entregou à vítima o direito de decidir denunciar o homem que ela ama e que a agride. Curiosamente, há uma semana a emissora vestiu a camisa contra o machismo no caso José Mayer e gritou para os quatro ventos que “mexeu com uma, mexeu com todas”. Talvez Emilly não conte para essa campanha.
E o público, que também poderia fazer algo, não faz sua parte votando pela eliminação de um participante claramente desequilibrado e agressivo. Será porque o machismo está tão internalizado que esse tipo de atitude do Marcos é considerado normal? Será porque querem ver o circo pegar fogo? Só podemos falar que o reality show deixou de ser aquele entretenimento para se tornar em algo muito triste de se assistir.