Nova série, novos rumos e namoro com mulher: um papo com Leilane Neubarth
Jornalista e apresentadora do programa O Tempo Que A Gente Tem, Leilane quebra os tabus e preconceitos que existem em torno da maturidade
Finita. Esta é a palavra que define a vida. Afinal, quanto tempo que a gente tem? Se quantificar é impossível, é na maneira como usamos esse recurso limitado que está o aprendizado para viver bem. Essa reflexão que a jornalista Leilane Neubarth propôs em conversa com CLAUDIA tem tudo a ver com o novo projeto que ela está tocando em sua carreira.
Aos 62 anos, ela está à frente da apresentação da série O Tempo Que A Gente Tem, no GNT, disponível no Globoplay. Voltada para as mulheres 50+, a série, dividida em quatro episódios temáticos, não tem apenas este público como alvo, afinal, “envelhecer interessa a todos”, diz a apresentadora.
“Envelhecer não é um assunto de velho, é algo que tem que ser falado porque estamos vivendo mais e viver melhor é bom para todo mundo”, defende Leilane.
Idealizado pela jornalista, o projeto foi desenvolvido para falar não somente sobre o envelhecimento, mas para desconstruir os padrões e tabus sociais e históricos em torno deste processo, em geral, focados em perdas.
“Eu não vou dizer pra você que não há perdas, pois há sim. Eu não tenho mais a aparência que eu tinha com 20 ou 30 anos, não tenho a mesma força física que eu tive lá atrás, mas há uma série de outras questões que suprem ou ocupam esses espaços”, diz Leilane, que celebra a liberdade e o autoconhecimento presentes na maturidade.
Para atingir o objetivo, a jornalista se baseou na troca de experiências entre ela e as entrevistadas. Em clima de roda de conversa entre amigas, sem máscaras sociais, a telespectadora, além de compreendida e representada, também se sente parte do programa.
Fazer parte desta roda, diz Leilane, foi uma experiência livre de obstáculos, afinal, cada abordagem nasceu da observação das necessidades, angústias e sonhos que ela observou em si própria na atual fase de sua vida. “Eu sou esta personagem. Estou vivendo tudo isso e eu comecei a perceber que as mulheres da minha idade, de uma maneira geral, não estão sendo representadas”, diz.
“As pessoas envelhecem, mas nem por isso elas deixam de ter uma série de características. Precisamos acabar com essa essa história de que só o jovem é belo, produtivo, legal. A gente tem muita coisa legal. Existe vida depois dos 50, dos 60”, afirma Leilane.
Ela tem vivido uma série de descobertas e reinvenções na maturidade e dita a ânsia pela novidade como uma característica quase que essencial do processo de envelhecimento.
‘O que eu ainda não fiz, mas quero fazer?’
“A pergunta é muito comum entre as mulheres da minha idade, porque percebemos que os anos estão passando e o tempo que temos é menor do que o que já tivemos”, aponta. “É muito comum ver mulheres que, depois que os filhos crescem, vão fazer faculdade de história, trabalho voluntário. Elas descobrem uma outra atividade sobre a qual nunca tinha pensado.”
“Por volta dos 55 anos, eu parei e pensei: ‘eu adoro jornalismo, estou super realizada e feliz na minha profissão, mas eu quero fazer alguma coisa diferente’. Foi então que eu aprendi a fazer arranjo e hoje eu sou florista. As descobertas podem acontecer em vários campos”, diz Leilane, que também compartilha uma outra descoberta, desta vez no amor.
“Eu vivi casada com meu segundo marido por 22 anos. Quando eu me separei tive um período muito difícil de luto, claro, mas curiosamente e surpreendentemente eu fiz uma descoberta em mim: eu me apaixonei por uma mulher. As pessoas perguntam ‘então você era gay e era infeliz?’ Não! Eu era muito feliz. Sempre gostei e continuo gostando de homem, eu só descobri que tinha uma outra coisa que eu também gostava, mas não sabia.”
“A gente tem que se dar o direito de experimentar. Não temos que fazer as mesmas coisas de sempre só porque disseram que temos que fazer.”
Leilane Neubarth
Para a jornalista, esta forma egoísta — no bom sentido — de pensar é um reflexo das prioridades que são eleitas com a experiência e com a maturidade. “Você começa a se dar o tempo, a ser menos exigente consigo mesma e a pensar um pouquinho menos na opinião do outro, afinal é a sua vida”, afirma. “Você tem a chance todo dia de viver o novo.”
Leilane ainda celebra que suas concepções de mundo e pensamentos foram confirmadas e reafirmadas com as trocas realizadas entre ela e as convidadas do programa, selecionadas especialmente para inspirar as telespectadoras com a sua disposição para a vida, dentre elas Malu Mader, Helena Schargel, Vera Fischer e Christina Xavier.
Para o futuro, fica apenas o desejo de continuar trazendo pautas em torno do envelhecimento para as rodas de conversa. “Minha geração não tem referencial, porque antigamente as mulheres e mães com 50, 60 anos já estavam em casa aposentadas da vida. Hoje não é mais assim e nós, como referência para as gerações mais novas, temos a responsabilidade de trabalhar como uma picareta abrindo o caminho sobre o que é o envelhecer na modernidade, justamente para inspirar os filhos, noras e genros”, finaliza.
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A série O Tempo Que a Gente Tem se encontra disponível na plataforma de streaming do GloboPlay.