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Mari Xavier: ‘Virei gorda pois tentei ser magra do jeito errado’

Simpática e pé no chão, a atriz de "A Força do Querer" conversou com o MdeMulher sobre sua relação com a fama, com o próprio corpo e com os dias difíceis.

Por Giovana Feix
Atualizado em 20 jan 2020, 11h04 - Publicado em 3 jul 2017, 14h57
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  • Sim, Mariana Xavier é tão bem-humorada quanto Marcelina, sua personagem em “Minha Mãe É Uma Peça”. Não é por isso, no entanto, que ela deixa de tocar em assuntos mais ~cabeludos~. Além de estar atualmente na novela das nove, “A Força do Querer“, ela está arrasando em seu canal do YouTube, o “Mundo Gordelícia, que começou há cerca de seis meses. Por lá, ela usa todo o gingado que tem com as palavras para abordar questões tão polêmicas quanto relevantes – como o que ela chama de “ditadura da estética”, por exemplo, ou a importância de falarmos sobre HPV.

    Hoje com 37 anos, a atriz trabalha no ramo desde os nove anos de idade – e, entre o palco, a televisão e, agora, o YouTube, é verdadeiramente apaixonada pelo que faz. Por sua mais recente personagem, Abigail, ela já é reconhecida pelo público nas ruas. Mariana se esforça constantemente, no entanto, em manter o pé no chão. Para ela, ser atriz é “um ofício como qualquer outro”.

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    Além do horário nobre global, a atriz vai aparecer cada vez mais na sua vida nos próximos dias. Isso porque ela é protagonista da mais recente campanha da Marisa, que promove a nova coleção da marca, pensada especialmente para o público plus size. As peças chegaram às lojas na semana passada, no dia 29 – e, em evento promovido pela marca, a atriz conversou um pouco com o MdeMulher sobre a carreira, a condição de mulher gorda e a forma como ela encara a vida de celebridade.

    Leia a conversa completa aqui embaixo:

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    Registro desse evento delicioso pra conhecer os lançamentos da linha plus size da @voudemarisa! Amanhã a coleção já estará nas lojas! Confiram meu stories pra matar um pouquinho a curiosidade! 😉 #voudemarisa #moda #dicadamarixa

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    MdeMulher: Como foi o seu processo de aceitação do próprio corpo do jeito que ele é?

    Mariana Xavier: Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, eu não fui um poço de autoestima a vida inteira. Eu sou também uma vítima da ditadura de estética. Até o fim da adolescência meu peso era muito estável, mas aos 18 anos eu comecei a ganhar um pouco de peso e, por ser justamente uma vítima da estética, eu logo pensei, ‘Preciso emagrecer’. Eu me tornei gorda porque tentei ser magra do jeito errado: eu realmente me envenenei com remédios para emagrecer – e, a cada vez que parava de tomar, eu engordava mais.

    Depois de um tempo, percebi que só estava piorando as coisas, que devia parar, antes que minha saúde virasse uma bomba-relógio. Decidi a partir daquele momento fazer escolhas melhores na minha vida. A melhor escolha que fiz foi entender que sou muito mais do que uma embalagem, muito mais do que um corpo. Que todos nós temos muito mais valor do que simplesmente essa casca. É o que eu falo: nosso corpo é a parte mais descartável de nós. Não é a ele que a gente tem que se apegar. A gente tem que se apegar ao nosso valor como ser humano. A partir daí, isso acabou fluindo naturalmente…

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    Não é uma coisa de uma hora para a outra, né?

    Claro que não! Tem dias em que você não está super feliz. Eu não sou a Mulher-Maravilha, nenhuma de nós é. Nenhuma mulher é, por mais dentro do padrão que ela esteja! Tem dia que ela vai se olhar no espelho e não vai se gostar. Isso é inerente ao ser humano. É importante até que tenhamos esses momentos de fragilidade – até para que a gente se reconheça como humano. O que a gente não pode é deixar que esse momento ruim tome conta da nossa vida. É entender que é um momento ruim, que a gente precisa passar por ele mas que amanhã vai ser melhor.

    E o que você costuma fazer quando tem dias assim? 

    Sou uma pessoa do ‘compartilhar’. Hoje em dia, saber que posso ajudar outras pessoas a se aceitarem me motiva muito. Então, em geral, quando eu tenho esses momentos de fragilidade, em vez de esconder, eu divido. Chego lá no Instagram Stories e digo, ‘Gente, sabe o dia do não? Aquele dia em que você bota tudo e fala não, não está bom, está feio’? Eu normalmente compartilho isso, para que as pessoas saibam que elas não estão sozinhas neste tipo de situação. Isso me faz sentir melhor.

    Eu sou gorda, mas essa não é a minha única característica e nem a principal

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    Fazer os vídeos para seu canal no YouTube também ajuda?

    O canal surgiu como uma necessidade minha de, justamente, compartilhar essas experiências, de mostrar para as pessoas o lado humano da celebridade – ‘olha, posso ser famosa mas na essência sou que nem você’. Eu senti essa necessidade de ter uma espaço no qual eu pudesse falar das coisas com mais fluidez do que nas redes sociais. Minha ideia era não falar só do que está relacionado ao sobrepeso, apesar do nome do canal [‘Mundo Gordelícia’]. Eu falo sobre questões humanas, e também de bobeiras, sabe. Tudo o que tem no meu mundo cabe aqui. Eu sou gorda, mas essa não é a minha única característica e nem a principal.

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    É uma oportunidade de as pessoas conhecerem a Mariana, pessoa física. Sair desse glamour, de estar sempre maquiada, arrumada. As pessoas me dizem, ‘Você ficou famosa da noite para o dia, está rica, milionária, só anda de carro blindado…’. Não! Meu vídeo de ontem é no meio das caixas, falando: ‘Me mudei mas ainda (não?) tenho fogão, máquina de lavar e eu vou botando quando der’. Eu tenho uma preocupação muito grande em desconstruir esse mito da celebridade. Em mostrar que, puxa, é só um ofício. Eu sou igual a qualquer um, só que com menos privacidade.

    Agora que você é oficialmente uma ~atriz de novela das 9~, é reconhecida pelas pessoas quando sai na rua? Como é isso?

    Sim, muito! Já rolava muito isso, por causa da Marcelina [personagem de “Minha Mãe é Uma Peça“] principalmente. Por causa do Video Show também. E o melhor: de uma forma geral, as pessoas são bastante carinhosas com meu trabalho.

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    Qual personagem mais gostou de interpretar na vida?

    Essa pergunta é muito difícil, porque cada personagem é uma paixão. Eu acho que a melhor é sempre a que você está fazendo naquele momento, porque todas foram muito marcantes. A Marcelina não tem como não lembrar, todo mundo lembra. Mas eu sou apaixonada por minha personagem atual, a Biga [Abigail, em “A Força do Querer”], principalmente porque ela vem para preencher uma lacuna pela qual eu batalhava há muito tempo, que é a da mulher que é gorda, mas é uma pessoa normal. O peso não é uma questão na vida dela, e ela não é uma ‘gordinha engraçada’, boba da corte o tempo inteiro. Ela é uma pessoa normal, complexa como qualquer outra, com momentos engraçados, com momentos dramáticos… Eu estou muito feliz com essa oportunidade, eu sempre batalhei por isso. Num passado muito recente as personagens gordas eram sempre as rejeitadas, motivo de chacota. Depois, a gente foi para um outro extremo: a gorda extremamente sexualizada. Faltava chegar neste meio termo, que é uma pessoa normal.

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    As pessoas estão entendendo que as mulheres podem estar gordas mas querem ser sexies e modernas, com estilo

    Como você acha que a representatividade influencia a vida das pessoas?

    Eu já ouvi de várias amigas um pouco mais velhas: ‘se quando eu era adolescente existisse alguém como você na TV, ou num canal do YouTube, ou numa revista, a minha vida teria sido muito menos sofrida’. Porque é isso, as pessoas quando veem alguém mais próximo da realidade delas [fazendo sucesso] entendem ‘eu também posso’, ‘tudo bem eu ser como sou’. Quando vem uma pessoa muito distante, um corpo muito distante, um cabelo muito distante, você começa a se sentir excluído, a se sentir errado, e aquilo é um sofrimento muito grande.

    Eu acabei de fazer um clipe do Dilsinho, cantor de pagode. Chama ‘Cansei de Farra’. E aí eu sou a mocinha do clipe dele. As pessoas ficaram enlouquecidas, felizes! As fãs dele amaram, porque, como eu sou uma pessoa mais próxima da média da população, quando elas viram o clipe elas pensaram, ‘Caramba, se a Mariana beijou o Dilsinho, eu também poderia beijar!’. Elas ficaram muito felizes com isso.

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    Isso me emociona demais. Uma amiga me disse que eu salvo vidas. As mensagens que eu recebo, eu tenho medo de acreditar demais em tudo o que possa me tirar do chão, que possa me superestimar, que me faça sentir a última Coca-Cola gelada do deserto. Eu procuro manter o pé no chão. Mas realmente há pessoas que me fazem ver que estou ajudando pessoas. Se eu morrer amanhã, minha missão está cumprida.

    Você se considera feminista?

    Sim, eu me considero feminista. Eu acho que, se você quer que as mulheres tenham os mesmo direitos que os homens, você é feminista.

    Qual é a importância de marcas lançarem coleções plus size?

    Eu acho que o mercado de uma forma geral está se abrindo, e a Marisa já era mais aberta a isso. Quando eu engordei, foi uma das primeiras lojas em que consegui encontrar alguma coisa para mim. Mas é um processo gradativo, as pessoas estão entendendo que as mulheres podem estar gordas mas querem ser sexies e modernas, com estilo. É incrível ter uma coleção que começa no meu tamanho. Eu estou no limbo, ainda consigo comprar roupa em algumas coleções que não seja especificamente plus size. Mas, às vezes, uso alguma coisa e as minhas fãs veem e querem usar e aí descobrem que o meu tamanho era o maior na loja.

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