Os discursos mais impactantes e emocionantes do Oscar 2017
Viola Davis, Janelle Monaé, Gael Garcia e Asghar Farhadi debateram sobre inclusão social, empoderamento feminino e a questão dos refugiados no Oscar.
Além da grande confusão durante a entrega da estatueta de Melhor Filme, a cerimônia do Oscar 2017 — que aconteceu no último domingo (26), em Los Angeles — foi marcada também por discursos incríveis e extremamente politizados. As falas de diversos atores e profissionais ligados ao meio cinematográfico mostraram apoio a causas relacionadas à questão da xenofobia, racismo e empoderamento feminino. Confira abaixo alguns dos mais emblemáticos da maior premiação do cinema norte-americano:
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Gael Garcia
O ator mexicano não poupou palavras para criticar a nova política de imigração dos Estados Unidos. Encabeçada pelo recém-eleito presidente Donald Trump, a medida consiste em construir um muro separando a fronteira do país com o México, bem como, limitar a imigração de refugiados políticos oriundos de países de maioria muçulmana.
“Atores são trabalhadores migrantes. Nós viajamos por todo o mundo, formamos famílias, construímos histórias, uma vida que não pode ser dividida. Como mexicano, latino-americano, trabalhador migrante e ser humano, sou contra qualquer muro que queira nos separar“, declarou Garcia, que subiu ao palco ao lado da atriz Hailee Steinfeld para anunciar o vencedor da categoria de Melhor Filme de Animação.
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Giorgio Gregorini
Quando foi ao palco do Teatro Dolby pare receber a estatueta na categoria de Melhor Maquiagem e Cabelo pelo trabalho realizado no longa “Esquadrão Suicida”, o maquiador italiano fez uma contundente dedicatória: “Dedico este Oscar a todos os imigrantes, porque, como vocês sabem, eu sou um imigrante, sou italiano.”
Janelle Monaé
A cantora e atriz subiu ao palco, ao lado de suas companheiras de cena do longa “Estrelas Além do Tempo”, Octavia Spencer e Taraji Hanson, para anunciar o vencedor na categoria de Melhor Documentário. Antes de divulgar o premiado, ela fez um discurso incrível sobre o ofuscamento das mulheres negras na história.
“Filmes sobre os grandes feitos de homens e mulheres sempre foram muito populares nos livros de história. Mas nem sempre todos foram incluídos, é por isso que precisamos produzir longas para destacar nomes poucos conhecidos, porque suas histórias devem ser lembradas. É o caso de três mulheres que devido às suas genialidades possibilitaram as conquistas astronômicas da nação e iluminaram a condição humana”, disse a intérprete momentos antes de receber Katherine G. Johnson, que aos 98 anos, foi uma das primeiras cientistas espaciais negras da NASA, na qual a trama foi inspirada.
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Viola Davis
A atriz norte-americana é a primeira mulher negra a ganhar o Emmy Awards, Tony e Oscar — o último, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante pelo longa “Um Limite Entre Nós”. Denzel Washington e Viola Davis estrelaram, em 2010, uma re-encenação da peça de August Wilson, datada de 1983.
“Existe um lugar em que se reúnem todas as pessoas que têm um grande talento. E este lugar é o túmulo. As pessoas me perguntam o tempo todo: ‘Que tipo de histórias você quer contar, Viola?’. E eu respondo: ‘Vocês têm que exumar esses corpos, essas histórias, as pessoas que quiseram e nunca conseguiram conquistar seus sonhos. Eu consegui. Eu me tornei uma artista. E esta é a única profissão que celebra o que significa viver uma vida’, disse emocionada que completou o discurso dedicando o prêmio ao marido Julius Tennon: “Você é a base da minha vida.”
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Asghar Farhadi
O diretor iraniano do drama “O Apartamento”, que foi laureado com a estatueta na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, não compareceu a 89ª edição do evento como forma de protesto às recentes medidas contra a imigração tomadas pelo governo de Trump. O diretor já recebeu o Oscar, no ano de 2012, pelo longa “A Separação”, nas categorias de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original.
Em uma carta enviada à Anousheh Ansari e Firouz Naderi, dupla de amigos de Farhadi que o representaram no evento e que possuem cidadania norte-americana e iraniana, o cineasta agradeceu o prêmio e confessou: “Sinto muito não estar com vocês esta noite. Minha ausência é por respeito àqueles do meu país e aos das seis nações que foram desrespeitados pela lei desumana que proíbe a entrada de imigrantes nos EUA. Dividir o mundo nas categorias ‘nós’ e o ‘inimigo’ cria medo. É uma justificativa enganosa para a regressão e a guerra. Estas guerras impedem a democracia e os direitos humanos nos países em que eles próprios foram vítimas de agressões. Os cineastas podem usar suas câmeras para captar qualidades humanas compartilhadas e romper estereótipos de várias nacionalidades e religiões. Eles criam empatia entre nós e os outros. Uma empatia que precisamos hoje mais do que nunca.”
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Adele Romansky
Após a confusão da troca de cartões protagonizada pelos atores Warren Beatty e Faye Dunaway, na categoria de Melhor Filme, o musical “La La Land: Cantando Estações” perdeu a disputa para “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. Então, ao lado da equipe da película, a produtora Adele Romanski subiu ao palco e disse, emocionada e ainda incrédula com o que havia acontecido: “Dedico esse prêmio às meninas e aos meninos negros que se sentem marginalizados, que este filme possa inspirá-los a alcançarem seus sonhos.” A produção é a única com um um protagonista gay a vencer a categoria mais solene da noite, além de ser a primeira vez na história do Oscar que duas pessoas negras levam as estatuetas de Melhor Roteiro.
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