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Regina Casé é a personificação pública do movimento ageless

A apresentadora, atriz e diretora Regina Casé, que sempre rompeu barreiras, prova que idade não é limite para nada. Muito menos para ser feliz

Por Guta Nascimento Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 nov 2017, 15h26
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  • Ela tem um filho de 4 anos e um neto de 4 meses. Uma carreira de mais de 40 anos em teatro, cinema e TV e uma equipe de trabalho em que a integrante mais velha tem 27 anos. Amigos com mais de 80 e muitos com menos de 20.

    No começo desta entrevista, Regina Casé propõe uma brincadeira à leitora de CLAUDIA: “Não fale a minha idade e peça pra todo mundo adivinhar. Não vale ir ao Google. Quantos anos você acha que a Regina tem?”.

    É comum as pessoas não acreditarem na idade de Regina. Até o porteiro do prédio onde ela mora, no Rio de Janeiro, um dia duvidou. Para convencê-lo, foi necessário que o assessor Pedrinho (Pedro Figueredo, fiel escudeiro há seis anos) puxasse o celular do bolso e mostrasse ao funcionário a biografia dela no site da Wikipédia.

    A incredulidade talvez seja fruto do fato de a atriz, humorista, apresentadora, diretora, mãe do Roque e da Benedita, 27 anos, e avó do Brás ser a personificação pública do movimento ageless, palavra de origem inglesa que, em português, pode ser traduzida como “sem idade”.

    E o que significa “não ter idade”? Quer dizer, sobretudo, estar livre das amarras impostas pela sociedade. Conseguir libertar-se da patrulha que leva muitas mulheres a dizer que “não têm mais idade para fazer isso” – seja lá o que “isso” for. É escapar da prisão que pode ser o lugar, o comportamento ou a vida imaginada pelos outros para nós ao atingirmos determinado patamar etário.

    Veja mais: Regina Casé sobre fim do “Esquenta!”: “Ficará no coração”

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    Vestido, Fátima Scofield; brincos, acervo pessoal • Coroa de flores, Vik Meirelles e Aparecida Helena Leme (Gui Paganini/CLAUDIA)

    #BELEZA NÃO TEM IDADE

    “Eu vejo mulheres de 27 anos preocupadas porque vão fazer 30. Mulheres belíssimas de 38 que perderão os dois próximos anos arrasadas porque farão 40. Mulheres ma-ra-vi-lho-sas, gatas, com 47 anos, que perdem três anos preocupadas por antecipação porque vão fazer 50”, diz soltando aquela risada rouca, inconfundível, que há tantas décadas ouvimos na TV e se tornou familiar.

    “Eu acho tétrico quando vejo uma mulher que é linda e velha, e a pessoa fala: ‘Nossa, ela deve ter sido tão bonita’. Ela é bonita! Só tem outra idade. Como se você só pudesse ser bonita quando é novinha.”

    Regina se orgulha de sua beleza hoje. Dos seios cantados por Caetano, a quem inspirou na letra de Rapte-me Camaleoa (1981): “Leitos perfeitos/Seus peitos direitos me olham assim”.

    Meu peito não é de silicone, ele mexe”, diz, bem-humorada, balançando o corpo para provar. “Quando movimento o cabelo, não tem aplique. Isso cria uma jovialidade. Cheguei à minha idade sem uma gota de Botox. Nenhuma intervenção, nada de preenchimento. Não julgo quem faz. Eu até queria ter tido coragem de fazer plástica, mas tenho medo de ficar esquisita, de não me reconhecer no espelho. Não estou dizendo que não farei, até porque, se eu continuar em televisão, como apresentadora, é difícil.”

    E ri, de verdade, com a piada famosa nos bastidores de TV – “estou mais cansado que o maquiador da Regina Casé” –, que no fundo materializa a pressão imposta às apresentadoras. “Acho que uma hora vou ter que fazer.”

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    #AMOR NÃO TEM IDADE

    Sou 15 anos mais velha que meu marido” (Estevão Ciavatta, diretor e produtor de TV e cinema, com quem Regina é casada há quase 20 anos).

    Unir-se a um homem mais jovem não foi fácil. Regina e Estevão tiveram que enfrentar não só o próprio medo como o preconceito. No começo, falavam: “Ih, olha lá. A Regina tá pegando o novinho da vez”. Mesmo as pessoas mais chegadas não aceitaram.

    Quando se apaixonaram, Regina vivia um casamento estável de 15 anos com o artista plástico Luiz Zerbini, pai de sua filha, Benedita, de quem até hoje é muito próxima.

    “Os amigos pensavam que eu tinha ficado louca. Muitos passaram muito tempo sem falar comigo por considerar aquilo uma maluquice. Achavam que eu tinha perdido o juízo.” Estevão foi julgado como “um aproveitador” que estava “dando o golpe do baú”.

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    “Não que ele não tivesse dinheiro, mas alguém de 20 e poucos anos nunca ia ter a grana que eu tinha. Ele era tratado como se fosse um michê”, conta Regina, no tom de voz de quem relembra uma fase da vida distante, mas dolorosa.

    “Nunca me esqueço de certa vez, em um restaurante conhecido, em que o dono veio falar comigo por cima do Estevão (faz o gesto), ignorando-o.”

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    As famílias também eram uma barreira. “Um dia, fui à casa do Estevão, e a mãe dele não me deixou sequer subir no elevador. No começo era: ‘Não! Ele vai descer aí para falar com você!’.” Como se não bastasse a pressão dos amigos, da família e da sociedade, Regina e o marido ainda tinham que lidar com as próprias angústias.

    “No momento em que percebi que estava apaixonada, sofri horrores. Tive muito medo. Foi um susto porque não pensava em me separar. É que foi um encontro tão forte. É muito difícil achar alguém que queira ir pro meio da floresta e pro meio da favela com você. Os desejos, os caminhos, os interesses. Além do que, achei ele lindo, gostoso, gato e já encostei nele, na pele dele. E ele a mesma coisa. Encostou em mim, na minha pele.”

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    Reconhecer o amor foi simples. O medo era que oscilava e se alternava entre eles. Quando Regina pensava: “Não vai ter jeito, vou ter que entrar nessa relação pra ver o que vai dar. Que droga, vai desmoronar minha vida, mas eu vou!”, aí vinha Estevão: “Será? Mas como é que vai ser? Eu quero ter filhos”. Regina, por sua vez, temia pelo passar dos anos: “Você não vai me querer mais”.

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    Regina e Estevão, na festa de casamento, no Rio de Janeiro, em 1999 (Acervo pessoal/Paulo Jabur/CLAUDIA)

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    #CASAMENTO NÃO TEM IDADE

    Em parte, talvez pelo amor romântico e legítimo; em parte, para dizer às pessoas: “Olha, isso é sério e importante de verdade”, após um ano de relacionamento Estevão pediu Regina em casamento.

    “Eu falei: ‘Você tá louco… casar… eu fui do Asdrúbal (o revolucionário e irreverente grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, criado por Regina nos anos 1970 em parceria com Hamilton Vaz Pereira, Alberto Soares, Luiz Arthur Peixoto e Danila Dantas), a camaleoa do Caetano, casar de véu e grinalda???’ ”

    Estevão ficou firme, e a relação foi de um ano de namoro e um ano de noivado até o casamento. Só foram morar juntos depois de voltarem da lua de mel, em Fernando de Noronha. Nas palavras de Regina, tudo assim, desse jeito, “foi uma arma pra lutar contra a caretice das pessoas”.

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    Deu certo. Regina e Estevão casaram, em 1999, no Outeiro da Glória, uma das igrejas mais tradicionais do Rio de Janeiro. A então eterna luta para provar que o amor deles era de verdade teve sua principal batalha naquele dia.

    “Todo mundo que subiu o Outeiro (a igreja fica no alto de um morrinho, com vista para a Baía de Guanabara) foi com aquele tom frívolo de: ‘Ah, isso aqui é casamento de revista de celebridade. Daqui a pouco tá pegando outro. Quanto tempo vai durar?’. Não levavam fé na gente, no nosso amor. E desceu todo mundo com a cara inchada de tanto chorar”, lembra Regina.

    No altar, Regina e Estevão provaram ao mundo que se amavam. “Eu e ele participamos de toda a celebração. Falamos pra caramba de nossa história, do medo, da idade dele, da minha, por que larguei uma vida inteira por ele. Eu chorava ‘bicas’. Ele também. Quando cheguei ao altar, ele estava em prantos. A declaração dele pra mim, a que eu fiz pra ele… As pessoas foram desmontando. Quando acabou a cerimônia, todo mundo chorava. As pessoas mais velhas da família, que torciam o nariz porque era uma coisa transgressora e anticonvencional, quando viram aquilo tudo, Benedita levando as alianças e dando um beijo no Estevão… Tudo desmontou o preconceito.”

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    Com o neto, Brás, no colo, e o filho, Roque. Vestido, Liana Atelier; sutiã, Água Fresca ; brincos, acervo pessoal (Gui Paganini/CLAUDIA)

    #MATERNIDADE NÃO TEM IDADE

    Ainda no altar, quando o padre falou: “Que vocês tenham muitos filhos”, Regina se questionou: “Gente, como é que vai acontecer isso?”. Estevão queria muito, era importante para ambos, mas Regina tinha medo.

    Nos primeiros anos de casamento, engravidou quatro vezes, sem tratamento. Perder os bebês foi duro. “Sofri por muitos anos.” Uma gangorra dolorosa. Achava que não ia acontecer de novo, engravidava e perdia. Em uma das vezes, chegou ao hospital com a gestação já adiantada. “Por isso digo que a gente se ama muito, foram dez anos aguentando aquilo.”

    A decisão de adotar uma criança ia e vinha. Era algo que Regina sempre quisera, mesmo antes de conhecer Estevão. Mas, quando ele concordava, ela engravidava; parecia que ia acontecer, era muito desgastante. O processo de adoção não foi mais fácil que o natural, mas o amor prevaleceu. Os dois queriam ficar juntos. Em 2013, adotaram Roque.

    Hoje, 27 anos depois de ter tido sua filha, Regina voltou a ser mãe de uma criança. No grupo de WhatsApp da escola de Roque, convive de igual para igual com as outras mães. Troca experiências típicas da maternidade com mulheres mais jovens. Reconhece que o corpo não tem a mesma energia, por exemplo, na hora de carregar o filho quando ele está dormindo. “Subir dois lances de escada com ele eu acho puxado. Mas são coisas pontuais.”

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    #INSPIRAÇÃO NÃO TEM IDADE

    “Eu quero muito fazer anúncio de fralda. Porque eu iria inspirar várias mulheres que poderiam ter partido para a adoção a se verem hoje felizes como mães. O preconceito mais triste é dizer pra você mesma que não pode, que não tem mais idade.”

    Para Regina, “o mercado publicitário deveria trabalhar com o desejo, colocar alguém que não é o óbvio podendo usar aquele perfume, aquela roupa, dirigir aquele carro. A gente vê milhares de pessoas com mais idade viajando, em restaurante, comprando, consumindo. Quero fazer anúncio de tênis”, fala com empolgação de quem transita com a mesma intensidade pela cultura designada “de jovens e dos mais velhos”. Apaixonada por rap, funk e basquete, hoje é mais próxima dos filhos de alguns amigos do que dos próprios pais deles.

    No trabalho é incansável. Com o fim do Esquenta! (em janeiro de 2017), não quis emendar outro programa parecido. “Quero um tempo para criar uma coisa totalmente nova. Estou apaixonada por tecnologia e comportamento.”

    Tem feito inúmeras palestras de sucesso que acabam se transformando em pocket-shows. Nesta nova fase, “queremos falar sobre como furar as bolhas que já existiam no mundo físico e agora nos aprisionam nas redes sociais e na internet, as bolhas de classe social, escolaridade, religião, dinheiro, idade.”

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    Vestido, Fátima Scofield; brincos, Pandora (Gui Paganini/CLAUDIA)

    #FELICIDADE NÃO TEM IDADE

    “Eu me sinto muito melhor hoje. Tenho vergonha de falar isso porque parece aquela coisa falsa de quem está envelhecendo. Mas sabe o que eu sinto? Antes, eu tinha muito mais medo, insegurança. Tinha ansiedade do que ia ser. Agora já é. Se foi, foi, já sou eu”, ri.

    Aos 63 anos – é essa a idade de Regina, que não contamos lá no início –, a mãe e avó de duas crianças ao mesmo tempo afirma: “O que eu acho legal é o orgulho de estar nesta idade fazendo tudo isso. Orgulho de não esconder quantos anos tenho e mostrar que é possível. Estou muito feliz de (nesta idade) ser capa da CLAUDIA. Acho que é um pioneirismo que quero levar para muitos lugares”.

    Quando perguntada sobre o que imagina que estará fazendo aos 70, responde “trabalhando muito”. Inspira-se em atrizes como Laura Cardoso e Fernanda Montenegro, “que, aos 88 anos, está numa novela no Tocantins, envolvida em filmes, peças, dirigindo uma série pro Fantástico sobre Nelson Rodrigues”.

    Só quer ter mais tempo para si mesma, para ler, escrever, pensar. Aprender a equilibrar melhor a dedicação ao trabalho e à família.

    Por fim, Regina nos faz uma provocação: “Quando você encontrar uma mulher mais nova, não pense que ela vai ser uma mulher incrível. E, quando encontrar uma mulher mais velha, não pense que ela pode ter sido uma mulher incrível. Ela é sua contemporânea, tem algo para trocar”.

    Toda nossa conversa sobre idade a faz se lembrar da letra de Antonio Cícero, na música cantada por Marina: “Mas os momentos felizes não estão escondidos nem no passado nem no futuro”. Para Regina, ser feliz é uma ação obrigatoriamente ligada ao presente. Porque felicidade não tem idade. Não faria sentido ter.


    Direção Criativa: Giovanni • Bianco Stylist: Daniel Ueda (MLages) • Beleza: Daniel Hernandez (MLages, com produtos M.A.C e L’Oréal Professionnel) • Assistente de beleza: Tiago Paixão • Produção executiva: Rodrigo Crespo e Stella Sette (The Box Productions) • Assistentes de fotografia: Naelson de Castro e Marcelo Andrade • Produção de moda: Joana Wood, Nine Quentin, Carol Santoro, André Philipe e João Paulo Durão

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