No ar como Santo, na novela “Velho Chico”, da Rede Globo, o corpo de Domingos Montagner acaba de ser encontrado no Rio São Francisco após mais de 5 horas de busca. Durante as gravações do folhetim das 21h, nesta quinta (15), ele deu uma pausa após o almoço e decidiu dar uma mergulho acompanhado da colega – seu par romântico na trama – Camila Pitanga, mas não voltou à superfície.
Homem de família, Montagner era casado há 14 anos e pai de três filhos. Em 2014, quando interpretava Raimundo Fonseca em “Jóia Rara”, ele conversou com CLAUDIA sobre carreira e vida pessoal. Na ocasião, ele contou que, apesar da carreira de galã na televisão, sua paixão é incorporar no circo um palhaço de nome Agenor, pela sensação de pisar no picadeiro e arrancar gargalhadas.
Nascido e criado no bairro do Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, com ascendência italiana graças ao avô paterno, o Santo de “Velho Chico”, da novela das 21h da TV Globo, jamais imaginou que se tornaria famoso. Entrou na faculdade de educação física logo após servir o Exército, ao mesmo tempo que ajudava os pais a cuidar do bar da família. Deu aulas em colégios para adolescentes durante uma década e competiu em equipes de handebol (até hoje, seu esporte favorito).
Procurou o curso de teatro interessado em descobrir novas dinâmicas de grupo para empregar com seus alunos. Acabou fisgado pelas artes dramáticas. Depois de assistir ao espetáculo UBU – Folias Physicas, Pataphysicas e Musicaes, de Cacá Rosset, grande sucesso dos anos 1980, entrou para o Circo Escola Picadeiro. Em 2004, com mais oito artistas, fundou o Circo Zanni, que mantém até hoje. Chegou já maduro à televisão por uma razão simples: não nutria o desejo de fazer novelas. “Meu foco não era esse. Em São Paulo, eu seguia uma linha diferente de trabalho, produzindo meus espetáculos”, contou ele a CLAUDIA.
A oportunidade surgiu por intermédio de uma produtora de elenco que, ao vê-lo no picadeiro, travestido de Agenor, o convidou para o teste de um programa de humor da Globo. Não passou na primeira nem na segunda vez. Na terceira tentativa, garantiu participação na série policial “Força-Tarefa” (2010), curiosamente em um papel dramático. No ano seguinte, ele apareceria novamente, em clima de romance, com a personagem de Lilia Cabral, no episódio de estreia da série Divã. Foi seu passaporte definitivo para o sucesso.
Também viveu o cangaceiro Herculano, na novela “Cordel Encantado”, o deputado Paulo Ventura, na minissérie “O Brado Retumbante”, o guia turístico Zyah, de “Salve Jorge”, Raimundo Fonseca, de “Joia Rara” e João Miguel, de “Sete Vidas”. Mesmo com carteira assinada na emissora carioca, ele ainda dirige os espetáculos de seu circo, Zanni. Também viaja pelo Brasil com sua companhia teatral, La Mínima, criada há 18 anos, junto do parceiro de palco Fernando Sampaio.
Na vida privada, ele se revela tão estável quanto na profissional. Casado desde 2002 com a produtora Luciana Lima, dez anos mais nova do que ele, Montagner afirma ter encontrado na mulher uma de suas maiores incentivadoras. Conheceram-se no Rio Grande do Norte quando ele trabalhava em um grupo de teatro que promovia intercâmbio de linguagens com trupes de Natal. Uma semana depois, estavam apaixonados. Atualmente, Luciana administra e produz os espetáculos da companhia teatral do marido. A CLAUDIA, Montagner elogiou a autoconfiança da esposa. “Ela tem uma grande compreensão da minha rotina artística e respeito pelo meu trabalho, o que acho muito legal. Nosso diálogo é sempre gostoso, leve.” O casal tem três filhos: Leo, 13 anos, Antônio, 8, e Dante, 5.
Antes de Luciana, o ator já havia passado por um primeiro casamento, sem filhos, que durou 12 anos. “Sou louco pelos meninos. Procuro não criá-los para mim, e sim para o mundo, mas sou aquele tipo de pai canguru. Gosto de carregá-los comigo”, contou. Justamente para driblar a saudade, decidiu se mudar com a família toda para o Rio de Janeiro em julho de 2013, quando começaram as gravações de “Joia Rara”. Assim pôde somar a praia aos programas que costuma fazer com os pequenos, especialmente idas ao cinema e visitas a livrarias. “A cultura precisa ser apresentada às crianças como algo rotineiro, não como um evento especial”, defendeu.
O ator alegou que sentir falta da casa com jeito de chácara que construiu no município de Embu das Artes, região metropolitana de São Paulo. É lá que o casal recebia os amigos mais chegados para jantar. “Luciana é uma cozinheira de mão-cheia”, disse. Ele também sabe se virar na cozinha. “Meu pai foi confeiteiro e trabalhou em pizzaria. Aprendi muita coisa com ele. Menos a comer fígado.”
Com 1,87 metro de altura e 90 quilos, ele afirmou cuidar bem de sua alimentação não tanto por vaidade, mas em prol da saúde. Costuma sete horas por noite e mantém uma rotina regular de atividade física, composta basicamente de pedaladas de 15 quilômetros e exercícios funcionais de três a quatro vezes por semana. Reclama que os anos como trapezista de circo deixaram sequelas na coluna. Para relaxar, gosta de tocar saxofone e ouve discos de sua enorme coleção de vinis.
Sobre o casamento, Montagner desandou a falar dos ingredientes para uma relação feliz. “Um bom casamento é aquele que inclui uma grande dose de amizade, outra de praticidade”, disse. Ele considera importante para o convívio a dois não deixar que fantasias românticas atrapalhem o dia a dia. “Nada substitui a leveza e a honestidade”, justificou. “Escutar mais do que falar também é fundamental.” Embora tenha assumido ser um pouco ciumento, o ator disse ter aprendido com Luciana a não se deixar levar por esse tipo de sentimento. Ela nunca se abala ao vê-lo em ação com atrizes lindas, por mais quentes e comentadas que as cenas sejam. Segundo ele, sua mulher não teria mesmo motivos para ter inseguranças com isso. “O antídoto é manter o foco e o distanciamento”, disse, acrescentando, em seguida, mais elogios para Luciana. “Se não fosse casado com ela, não seria quem sou hoje.”
Quem o vê como o galã da Rede Globo, pode achar difícil imaginá-lo na pele do palhaço Agenor, mas Montagner deixou claro que não precisa de nariz vermelho para colocar na própria vida mais humor, algo que considera um gênero de primeira necessidade. “Não sou piadista, mas sei rir de mim mesmo e adoro usar da autoironia”, disse. “Quando incorporo o palhaço, no entanto, faço um exercício fundamental, que é o desapego do ego. Ao pintar o rosto, ironizo a beleza. Rebaixar o ego deixa você menos ansioso”