De certa forma, o estrelato está no sangue de Ryan Gosling. Ele vivia na pequena cidade canadense de Cornwall quando um tio passou a imitar Elvis Presley. Com figurino extravagante, subia ao palco e cantava as canções do rei do rock enquanto o sobrinho, de 8 anos, o observava.
A mãe de Gosling fazia a segunda voz; e o pai era o chefe da segurança para conter os fãs. “De tão comprometido, meu tio levava os espectadores a esquecer que ele era apenas um careca de bigode”, conta o ator durante conversa com CLAUDIA no Festival de Cinema de Toronto, no Canadá.
As lembranças do tio, assim como os registros do começo da própria carreira em Hollywood, serviram de inspiração para viver o pianista Sebastian no musical La La Land – Cantando Estações, que estreou neste mês no Brasil e lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor ator.
O personagem se apaixona por Mia, a aspirante a atriz interpretada por Emma Stone, com quem vai desbravar os tortuosos caminhos atrás da fama. Gosling deu sua contribuição ao roteiro: em uma das cenas, Mia está no meio de um teste para um papel dramático quando o diretor atende o celular, ignorando seu esforço. A história aconteceu de verdade com o canadense em uma audição no início dos anos 2000.
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Diferentemente do que imaginara, o trabalho como ator mirim no programa infantil Clube do Mickey não ajudou a impulsionar a carreira. Mas ele não se arrepende dessa trajetória. Diagnosticado com déficit de atenção e hiperatividade, só aprendeu a ler aos 10 anos. Na escola, não tinha amigos e, em casa, seguia os rígidos preceitos mórmons.
“Era mau aluno, não me destacava nos esportes e só queria descobrir algo em que fosse bom”, diz. Virar artista significava fugir da carreira em fábricas de papel, seguida pela família. A persistência deu resultado. Em 2004, estourou como o galã de Diário de uma Paixão, romance com Rachel McAdams.
Depois, virou-se para o cinema independente, de onde surgiram trabalhos significativos, como Half Nelson – Encurralados, em que interpreta um professor viciado em drogas. Com o papel, veio a indicação ao Oscar em 2007. Foi durante as filmagens de O Lugar Onde Tudo Termina (2013) que se envolveu com Eva Mendes, sua companheira até hoje.
Os dois são pais de Esmeralda Amada, 2, e Amada Lee, nascida em abril do ano passado. As meninas raramente são vistas em público e muito menos fotografadas. Caseiro, Gosling diz que gosta de levá-las ao parquinho e desenhar com elas.
A discrição do casal gera boatos de separação constantes, os quais ele abafa com declarações singelas. Certa vez, indagado sobre o que buscava em uma mulher, respondeu: “Que seja Eva Mendes. não preciso de mais nada”.
No encontro com CLAUDIA, contou que considera a atriz inspiradora. Até tomou emprestado dela uma frase de La La Land: “Pedi permissão antes, claro. É muito boa: ‘Los Angeles venera tudo e valoriza nada’ ”.
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Viver em uma casa cheia de mulheres não é novidade para o ator. Seu pai deixou a família quando ele tinha 13 anos; e sua irmã, 17. O adolescente ficava aterrorizado ao ver como a mãe, de repente solteira, era assediada na rua. Essas cenas, segundo ele, convenceram-no de que as mulheres são mais fortes e evoluídas que os homens.
Elas deram origem a um filme que escreveu e dirigiu, Rio Perdido, lançado em 2013 no Festival de Cannes. Já a influência da irmã reflete em La La Land. Foi a paixão dela por musicais na adolescência que o estimulou a aprender a cantar e dançar.
Para interpretar Sebastian, por meses ele carregou um pequeno teclado para todos os lugares a fim de praticar as canções do filme. Também ensaiou incansavelmente as sequências de dança com Stone – com quem contracena pela terceira vez.
Não à toa, a crítica o vê como um dos melhores atores de sua geração. Tudo indica que o filme será uma das grandes promessas do Oscar. Já o público, especialmente o feminino, não se cansa de tanta beleza, ainda mais ampliada pelas telas de cinema.
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