Em 25 de julho de 1992, dezenas de mulheres de diferentes países da América Latina se reuniram pela primeira vez, em Santo Domingos, na República Dominicana, para debater o machismo e o racismo que estruturam a história e sociedade desse continente e as estratégias para combatê-los. Desse encontro, nasceu o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, que no Brasil coincide com a data de homenagem à heroína negra e quilombola Tereza de Benguela. Nos 30 anos de celebração desse dia, reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), CLAUDIA destaca cinco dessas mulheres, cujo trabalho nas artes, na filosofia e na política deixam marcas no hoje e reverberarão no amanhã.
Sueli Carneiro
Uma das mais relevantes pensadoras do feminismo negro brasileiro, a filósofa, escritora e ativista antirracismo Sueli Carneiro, de 72 anos, é fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra, onde uma de suas primeiras ações foi conduziu um estudo em todos os cartórios e fóruns de São Paulo para pesquisar os registros de discriminação racial. A partir desse levantamento, Sueli criou o S.O.S. Racismo – Assessoria Jurídica em Casos de Discriminação Racial, para orientar gratuitamente vítimas desse crime, incentivar suas denúncias e acionar os mecanismos legais para sua defesa. Sueli também é coordenadora do Projeto PLP 2.0, aplicativo de combate a violência contra a mulher que venceu o Desafio de Impacto Social Google, diretora-vice-presidente do Fundo Brasil de Direitos Humanos e membro do Grupo de Pesquisa “Discriminação, Preconceito e Estigma”, da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo).
Conceição Evaristo
Uma das maiores escritoras brasileiras, Conceição Evaristo, de 75 anos, é militante ativa do movimento negro, fazendo da literatura sua principal arma de luta por justiça social. Em suas obras, ela aborda com sensibilidade e crudeza questões como o racismo brasileiro e a condição de ser mulher e negra no país. Olhos D’Água, coletânea de contos com a qual venceu o Prêmio Jabuti em 2105, retrata a violência urbana contra a população negra e a realidade das mulheres da periferia, tornando-se um marco da literatura nacional contemporânea.
Francia Marquez
Advogada, ativista ambiental e mãe solo, a colombiana Francia Marquez, de 40 anos, fez história em junho deste ano ao tornar-se a primeira mulher negra a assumir o cargo de vice-presidente em seu país. Ela começou sua jornada política defendendo sua comunidade, na cidade de Suárez, de projetos de extração mineira. Apesar de ter sido mãe aos 16 anos, tendo a segunda filha aos 21, Francia formou-se em Técnica Agropecuária e, em 1997, passou a integrar a Organização de Processos Comunidades Negras da Colômbia. Depois, entre 2010 e 2013, foi presidenta da Associação de Mulheres Afrodescentes de Yolombó, intensificando ainda mais sua militância feminista e antirracista. Em 2020, se formou em Direito, pagando seus estudos trabalhando como empregada doméstica, com o objetivo de poder defender sua comunidade juridicamente.
Tanya E. Duarte
Ativista do movimento negro do México e feminista antirracista, Tanya E. Duarte trabalha há mais de 30 anos atendendo mulheres vítimas de violência doméstica e sexual. Psicóloga e mestre em medicina maya, Tanya é fundadora do projeto acadêmico Afrodescendencia Mexico, uma plataforma virtual que reúne iniciativas para negros em San Cristobal de Las Casas, com o objetivo de visibilizar cada vez mais a herança africana no país.
Dorotea Wilson
Um dos grandes nomes do feminismo no Caribe, a nicaraguense Dorotea Wilson é defensora e militante da cultura crioula, dos direitos humanos e das mulheres caribenhas de ascendência africana. É ela quem coordena a organização Vozes do Caribe, um movimento de mulheres que promove políticas municipais com uma perspectiva de gênero na da Nicarágua, e também é cofundadora do Fórum de Mulheres do país, além da Rede de Mulheres contra a Violência.