“Engenheira de profissão, a moda entrou em minha vida de forma muito intuitiva e afetiva. Sempre disse que a minha ocupação me realizava, mas faltava alguma coisa.
Com isso, aos 45 anos de idade, mudei radicalmente de área e criei a minha marca, a Santa Resistência. Na época, tive medo, mas posso garantir que hoje, após seis anos dessa aposta, estrear no maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week, é a certeza de que fiz a escolha certa.
Sabia que a minha moda autoral com DNA africano, que também traz referências ancestrais, era valorizada no mercado, mas um evento do porte do SPFW é algo distante para pequenos empreendedores.
É um lugar que queremos ocupar, só que esbarramos com as dificuldades de empreender no Brasil. Contudo, a moda, ao mesmo tempo que tem seus empecilhos, é capaz de construir pontes e abrir barreiras. Para mim, o Sankofa foi essa ponte.
O projeto Sankofa nasceu de uma ideia da Natasha Soares, do coletivo Pretos na Moda, e do Rafael Silverio, guardião da startup de inovação social inter-racial VAMO, que são duas pessoas extremamente competentes e corajosas. A iniciativa, que estreou nesta edição do SPFW, liga marcas consolidadas e respeitadas no mercado a outras emergentes, como a Santa Resistência.
É algo transformador levar essas ideias lideradas por pessoas negras para o evento. O projeto fez com que a minha marca e tantas outras fossem assessoradas pelos melhores profissionais da moda atual e isso foi fundamental no processo.
“Saber que fui selecionada e estarei junto com potências incríveis da moda no SPFW é grandioso e muito gratificante”
A minha marca madrinha, a Angela Brito, que dispensa apresentações, se mostrou extremamente generosa ao compartilhar tanto conhecimento. Ela, assim como Isaac Silva e Luiz Cláudio do Apartamento 03, já era minha referência cruzando a passarela com suas coleções. Eles tornaram tudo mais real, mais próximo e abriram os caminhos para que nós consolidássemos o movimento de racialização do evento. É representatividade.
Elizabeth de Toro, presente!
“Quando fui escolhida para estar entre as oito marcas selecionadas para racializar o line-up do SPFW 51, sabia que seria uma grande oportunidade de mostrar o amadurecimento do meu trabalho.
Sem perder a elegância, o conforto e a praticidade da mulher que usa Santa Resistência, nós voltamos ao passado e trouxemos para o presente o estilo Elizabeth de Toro.”
Elizabeth de Toro foi uma princesa africana nascida na década de 30. Mesmo pertencente à realeza, não se limitou ao convencional. Ela foi em busca de seus anseios, ainda que isso significasse que ela seria a única aluna negra a cursar direito na Universidade de Cambridge, na década de 50, por exemplo. A princesa se tornou uma das três únicas mulheres africanas advogadas e, posteriormente, na década de 60, a primeira mulher do leste africano a ser admitida na ordem dos advogados.
No mesmo período, atuou como uma modelo de sucesso, sendo a primeira negra a aparecer na capa da revista Harper’s Bazaar dos Estados Unidos e em editorias de moda de outros títulos.
Além de advogada e modelo, ela também foi embaixadora das Nações Unidas, Ministra das Relações Exteriores, atriz e escritora.
Legado nas passarelas
Junto com tantas emoções de estar inserida neste projeto pioneiro, também há o sentimento de que estou assumindo uma grande responsabilidade, principalmente pelo fato desta edição ter o maior número de estilistas negros da história. Há um legado por trás de tudo isso e eu quero ser referência para quem está iniciando.
“A Santa Resistência veio para ficar e estou aqui para provar que nós, negros, não vamos mais nos limitar aos bastidores, ocuparemos todos os lugares”
Ao ouvirem falar de mim, uma mulher, negra e que mudou de carreira após os 40 anos, espero que outras pessoas se identifiquem e acreditem que, se eu pude, eles também podem”, aspira Mônica, que desfila virtualmente com a sua marca Santa Resistência, nesta sexta-feira (25), no SPFW.