Tamara Klink traduz na moda sua relação com o mar
Velejadora e escritora traduz na moda sua relação com as palavras e com o mar
Em 2021, então com 24 anos, Tamara Klink tornou-se a mais jovem brasileira a cruzar sozinha o Oceano Atlântico. Ela saiu de Lorient, na França, cidade onde mora, rumo a Recife (PE), a bordo do Sardinha, o veleiro de oito metros de comprimento que foi sua única companhia durante os três meses de travessia. Aos 8 anos, ela já havia embarcado numa grande aventura com os pais, o velejador Amyr Klink e a fotógrafa e escritora Marina Bandeira Klink, rumo à Antártida. Na ocasião, a mãe a incentivou a escrever um diário de viagem, e Tamara aprendeu a amar o oceano e as palavras. “Hoje, vivo uma relação de dependência. Não consigo navegar sem escrever”, conta ela a CLAUDIA.
“Travessia”, “mar”, “coragem” são termos entranhados em sua existência e experiências e aparecem em muitas das páginas dos dois livros que escreveu, Mil Milhas e Um Mundo em Poucas Linhas, ambos da Editora Peirópolis. Enquanto prepara o terceiro, narrando a viagem pelo Atlântico, Tamara faz segredo sobre sua próxima aventura, mas ousou experimentar, como gosta de fazer, algo novo. Pela primeira vez, traduziu na moda sua relação com as águas salgadas e as palavras, numa coleção com a IDA. As camisetas, bucket hat, lenços, cadernos e panneaux da collab foram inspirados nas anotações, ilustrações e outros registros de viagem que a velejadora fez nos próprios diários de bordo. Ela queria criar peças “práticas e versáteis que, ao mesmo tempo, comunicassem movimento”. “As palavras bordadas nas camisetas, por exemplo, são importantes na minha trajetória e acredito que qualquer pessoa com desejo de travessia se identifica com elas”, diz.
Além de velejadora, Tamara é ativista pela preservação ambiental, uma pauta que perpassa sua relação com a moda e que ela acredita que deveria fazer parte da vida de todo mundo. “A moda é a marca de um tempo. Acredito que o caminho para a moda de hoje e de amanhã é indissociável da preocupação com o impacto social e ambiental das nossas escolhas”, afirma.
Coragem e solidão
Apesar de carregar o DNA de um velejador famoso e experiente, Tamara fez sua travessia transatlântica de mameira muito autônoma. Amyr Klink lhe disse, desde o início, que o melhor que poderia fazer para ajudá-la era justamente não dar nenhum suporte material, conselhos ou contatos. Ele já lhe havia ensinado, afinal, o mais importante: que navegar é preciso. E é possível. Tamara foi buscar as próprias respostas, aprendeu com os erros e cresceu com essa autonomia. Não à toa, ela decidiu viver na região da Bretanha, na França, que é centro de treinamento e formação de navegadores, principalmente em solitário.
Apesar de ter sido acompanhada nas redes sociais pelas “sardinhas”, seu cardume de fãs e apoiadores, a solidão foi uma das palavras que também entrou de vez no seu vocabulário. “Ela é uma companheira sempre presente. Às vezes nos conforta, às vezes desconforta. Procuro recebê-la bem e cuidar dela ao máximo”, diz ela, transparecendo uma maturidade superior aos seus anos de vida. Para a velejadora, manter as relações interpessoais em uma rotina como a dela, tornou-se a maior de suas aventuras. Mas ela não titubeia e segue firme em seus propósitos. “Acho importante protegermos nossos planos e sonhos dos medos dos outros”, afirma.
E, quando perguntada sobre seus planos para além da próxima travessia e seus grandes desejos de vida, Tamara é categórica e leve, como seu sorriso: “Não sei responder. Ainda bem.”