A Semana de Alta-Costura continua a todo vapor em Paris! O evento, infelizmente, está quase acabando, mas não faltam motivos para celebrar: na quarta-feira (05) silenciosa, as grandes marcas fizeram barulho com uma moda que instiga. De Valentino, Balenciaga, até Jean Paul Gaultier, não faltou criatividade no terceiro dia do evento. Vamos ao que interessa?
Quando moda é também escudo
Esquecer as roupas virais, os tênis sujos instagramáveis e todas as polêmicas envolvendo a Balenciaga, inclusive a campanha com crianças junto a elementos BDSM, não está nos planos de uma parcela relevante das pessoas, mas há quem espere a redenção da grife. No entanto, não foram poucas as que pararam seus afazeres para assistir ao lançamento da coleção de alta-costura de Demna Gvasalia.
Dos cristais às rendas, um trabalho minucioso trouxe roupas casuais pintadas à mão, como jeans e casacos, e produções extravagantes, tudo ao som de Maria Callas – que, coincidentemente, foi homenageada ontem por Stephane Rolland.
As famosas silhuetas da maison continuam a desafiar as proporções humanas, confirmando que o oversized pode ser ainda mais acentuado quando há qualidade na produção. Além disso, um vestido de baile armado em vermelho, trend desta temporada, chamou atenção.
O principal modelo, entretanto, apareceu só ao final: um vestido-armadura cromado, criado a partir de resina e impressão 3D, que levou 10 meses para ficar pronto. “É sobre a roupa ser uma armadura para quem a veste”, disse o diretor artístico. Mais uma vez, Demna colocou uma peça propositalmente incômoda de vestir ao final como uma metáfora para a alta-costura, altamente elaborada. É um passeio entre utopia e distopia, passado e futuro.
Abrindo portas do acervo de Jean Paul Gaultier
Desde a aposentadoria de Jean Paul Gaultier, a grife passou a comandar as passarelas de haute couture de uma forma única: ela colabora com novos nomes da moda em sua apresentação, ampliando vozes jovens e talentos disruptivos. Desta vez, Julien Dossena, diretor criativo da Paco Rabanne, ganhou a chance.
Ao olhar para o acervo de 40 anos de Gaultier, Dossena traz referências à Chic Rabbis, coleção dos anos 1990 inspirada em roupas judaicas ortodoxas. O designer também bebeu de outras fontes criativas, sendo o ambiente e a escolha de símbolos fundamentais para contar o que significa Jean Paul Gaultier na história da moda.
Na versão repaginada da coleção noventista, há um olhar romântico ao introduzir flores na estamparia e em formas tridimensionais. Envolver o corpo com bordados e tecidos fluidos, trazer vestidos que lembram túnicas e referenciar os bustiers eternizados por Madonna brinca com o conceito da feminilidade.
Para entrelaçar ontem e amanhã, conectou modelos através de uma malha amarrada em seus vestidos – ponto alto da coleção, sem dúvidas! Além disso, uniu o beabá de Paco Rabbane com Jean Paul Gaultier a partir de um sutiã de cone em paetês prateados.
Valentino: Alta-Costura também provoca
Nos jardins do Castelo de Chantilly, a Valentino apresentou Un Château. Com Kaia Gerber puxando a fila, vestida com camisa branca, um par de jeans e flats nos pés, Pierpaolo Piccioli traz roupas que representam uma “nova igualdade, onde se celebra a beleza, a singularidade e a liberdade.” Para questionar a moda, também se apropriou da locação, símbolo de exclusividade e elitismo, trazendo peças que contrastam com o ambiente.
Olhos também voltados aos maxibrincos – muito além do que estamos acostumados –, que ganharam grande espaço nas composições. A presença firme de capas e modelagens assimétricas, em conjunto, impressiona. Ele ainda levou vestidos fluidos e multicoloridos, brilhos, flores tridimensionais, bordados, rendas, babados e pelúcias à passarela.
Valentino na Semana de Alta-Costura de Paris.Piccioli é audacioso quando o tema é couture, não à toa é sempre celebrado: foi justamente nesse tipo de coleção que ele passou a colocar os artesãos do ateliê em destaque, a pontuar a falta de representatividade negra e a trazer mais meninos para modelar.