A Dendezeiro, label de Hisan Silva e Pedro Batalha, enaltece as raízes nordestinas em mais um ano de SPFW. A marca baiana fez sua estreia em 2022 e tem acumulado seguidores desde então, tornando-se um dos desfiles mais requisitados do evento.
A Dendezeiro transcende a moda como um estilo de vida, destacando-se por valores como brasilidade e inclusão. Reconhecida por modelagens adaptáveis e agênero, a marca celebra a pluralidade e a diversidade, considerada a maior marca preta do Brasil.
Em um papo com os estilistas, durante a Semana de Moda de SP, eles comentaram sobre valorização de trabalhos manuais e da inclusão.
Nas temporadas mais recentes de fashion week, especialmente no Brasil, temos visto um aumento de peças e acessórios em crochê, tricô, rendas. O artesanato cresce também com itens de couro, cerâmica, madeira e argila. Esse tipo de trabalho sempre foi muito popular em diversas regiões brasileiras e agora vemos que essa valorização, finalmente, tem conquistado outras partes do país e o mundo.
“Uma das coisas mais incríveis que está acontecendo no momento é que as pessoas do Nordeste, da Bahia, de Salvador, estão cada vez mais conseguindo assinar suas criações. Isso é algo que durante muito tempo a gente lutou, porque a Bahia sempre foi um grande berço de criação e de criatividade, só que sempre nesse local das pessoas irem, usarem, consumirem e não levarem o nome da Bahia, pegam apenas as criações”, comenta Hisan Silva.
Nesse movimento de valorização das artes, as pessoas estão expressando suas identidades e construções únicas na moda. A Dendezeiro, por exemplo, destaca-se nesse cenário ao promover a exaltação do artesanato em diferentes perspectivas estéticas. Na coleção BRS2, apresentada na SPFW N56, a marca aborda temas que ama, refletindo esse compromisso com a apreciação e celebração das criações individuais.
Os designers, em parceria com Renan Estivan para tapeçaria, a etiqueta de acessórios VEHR, o Coletivo Tattu para os bonés, e a artista Annia Rízia na criação de peças em argila, completam essa uma colaboração única da BRS2, enaltecendo as raízes brasileiras.
“Falar sobre o manual é falar sobre nosso peso, de onde a gente vem, sobre as nossas ideias e ancestralidade, sabe? É muito falar sobre o DNA que temos, então é muito massa que nesse momento estamos valorizando cada vez mais isso”, completa Pedro Batalha.
“E o manual traz um afeto, né? Acho que é um saber que muitas vezes é passado de geração em geração e que a gente sabe que existe uma subvalorização desse tipo de trabalho. A gente visualiza totalmente o oposto, acreditamos no valor daquilo que a gente tem, daquele conhecimento que a gente possui, que é ancestral, familiar e sustenta a comunidade, famílias. É algo que determina futuros diferentes às pessoas.”
“Dendezeiro é uma marca que é para todos e queremos alcançar o mundo com ela, mas, ao mesmo tempo, queremos fazer com que o mundo entenda de onde ela veio, qual é a sua raiz e DNA”, conta Hisan.
Os estilistas refletem também sobre o processo em que a moda deixa de ser estigmatizada e passa a ser vista como uma expressão mais inclusiva. A marca representa a ideia de inventar moda, permitindo que as pessoas se identifiquem com o que é criado.
“Cada vez mais, estamos nos apropriando desses termos e desses locais, utilizando a moda como ferramenta, não só do nosso dia a dia, mas como ferramenta de emancipação de um grupo mesmo, de um contexto político. Eu acho que o trabalho manual é um dos pontos principais que faz com que a gente reencontre a nossa independência”, completa Hisan.
A escolha do nome Dendezeiro está associada à maior costa de dendê na Bahia, refletindo a aspiração de tornar a marca acessível globalmente enquanto celebra as riquezas locais. É inegável o reconhecimento da diversidade de joias (não relacionada apenas aos metais e pedras, mas culturais também) e riquezas disponíveis no Brasil.