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Não me vejo mais: as mudanças no guarda-roupa e na mente das mães

A calça jeans de antes, provavelmente, não vai mais te servir. O que podemos fazer para nos encontrar (pelo menos, nas roupas!) após a chegada dos filhos?

Por Tainá Goulart
31 out 2023, 14h36
A transição de estilo após a maternidade é comum, mas não costumamos conversar sobre ela.  (Sai De Silva/Unsplash)
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Duas horas depois de colocar o jeans pré-gestação, eu já estava com dificuldades de respirar e o zíper dava sinais de querer explodir. De certa forma, eu estava feliz por vestir um jeans de ‘antes’, depois de quase 1 ano de parto do meu filho, porém, meu corpo, pedia para tirar a peça e colocar uma calça mais folgada e confortável. 

Conversando com algumas mães e lendo alguns conteúdos nas redes sociais, percebo que essa ‘transição de estilo’ é comum e que pode durar muito tempo, segundo Clélia Midori Sasaki, estrategista de imagem pessoal e fundadora do Estilo MID, cujo foco é também a autodescoberta dentro do universo da moda. 

“A maternidade tem forte influência na imagem, logo nas personalidades que construímos antes desse novo ‘papel’. Ainda mais em pessoas que têm a vestimenta como uma grande ferramenta de comunicação e expressão do seu ‘eu’ para o mundo. E, quando eu atendo mães de crianças pequenas, vejo que todas passam por uma fase desafiadora, pois o ator de ser mãe é aceitar morrer, para nascer em uma outra versão que ninguém tem controle do que é e do que pode vir a ser”, responde Clélia.

Uma gestante e mãe maximalista involuntária 

Como jornalista, eu sempre tive o meu estilo criativo como peça fundamental de comunicação, com peças chamativas e que sempre têm algo a dizer. Uma maximalista involuntária, eu diria. No entanto, ao descobrir a gravidez, veio o primeiro baque com a vestimenta na gestação, que, ao meu ver, ainda precisa de muito chão para unir o conforto com o que chamam de informação de moda. 

Uma dica desta época? O mercado plus size, que está em grande ascensão, foi minha saída para encontrar peças descoladas, confortáveis e multiuso depois de parir. Uma das marcas que me ajudou muito foi a Calma São Paulo, que tem modelagens, tecidos e estampas incríveis; a Fala, com vestidos elegantes e bem elásticos; e a Ashua, com uma alfaiataria impecável para trabalhar hoje e na época que a barriga crescia a cada mês da gestação. 

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“Ainda temos um olhar não tão aprofundado na importância da nossa imagem. Ninguém imagina que um look, por exemplo, pode explicar bastante coisa do estado emocional de uma pessoa. Com meus estudos em Semiótica, Neurociência, Psicologia da Autoimagem, Inteligência Emocional, além da Consultoria de Imagem, percebo que uma pessoa que se torna mãe precisa de tempo para se entender como novo indivíduo dentro de uma dinâmica totalmente desconhecida”, pontua Clélia. 

Nos atendimentos das mães, a especialista vê a necessidade de termos não só atenção com a imagem, mas também com o autocuidado de um cuidador, que inclui até lavar os cabelos e escovar os dentes. É de praxe ouvirmos que uma mãe não conseguiu tomar banho direito ou que um movimento de autocuidado é tomar um banho com calma e secar os cabelos, não? 

Para Jackeline Dinizo, designer e mãe da Madalena, ela foi restabelecendo o autocuidado aos poucos, por meio das peças em seu guarda-roupa: “Minha transição de estilo após a maternidade foi uma avalanche de sentimentos. A minha roupa faz parte do meu discurso, sabe? À medida que eu fui amadurecendo esse cenário do maternar, percebi que as minhas roupas já não estavam dando mais match comigo. Para melhorar, eu passei por um período de reflexão sobre meu estilo, o ser mãe e as tarefas que teria que fazer, e, então, selecionei minhas prioridades, antes de sair comprando tudo pela frente.”

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Em suas redes sociais, Jack trouxe algumas dicas de como gostar/aceitar do corpo novo (tudo no seu tempo, claro!) e de como fazer uma lista de peças e itens prioritários, como tecidos confortáveis e à prova de máquina de lavar, além de roupas frescas, resistentes e com bom custo-benefício.

“O meu lance com a moda é um lance de hobby, mas sei que está tudo bem se eu não estiver no mood de me vestir, sem culpa. Nós, como mães, precisamos entender que precisamos estar preenchidas com coisas que a gente gosta, nos sentimos bem e que nos representa no momento atual.” 

A autoimagem da mãe refletida no filho

Com o tempo, vi que meu estilo criativo se manteve, porém, que estava mais esportivo, devido ao dia a dia com meu filho. Bem aqueles vídeos e memes das mães se arrumando pra sair e fazendo agachamentos, pegando pesos, correndo de salto, e por aí vai…

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Meus looks e acessórios estão mais confortáveis, mas continuam coloridos e estampados. “Normalmente, o estilo da mãe tende a ir para um caminho mais natural e esportivo, justamente pela praticidade que a rotina pede. O grande exercício que indico é tentar trazer peças dos seus estilos predominantes para esse universo distinto, como se uma fusão fosse feita, criando algo novo”, diz Clélia, que completa dizendo ser importante a transição de estilo não só para a mulher, mas também para a criança cuidada por ela. 

A estrategista de imagem afirma também que a autoimagem dos nossos filhos está sendo formada em cima da nossa imagem, pois ela é importante para todos que nos rodeiam.

Segundo a psicóloga Amanda Scavassin, a construção da autoimagem começa na infância, a partir da relação com as pessoas que são nossas referências. “Tudo aquilo que nossos cuidadores e pessoas próximas falam da gente tem uma importância muito grande, pois há confiança da criança para com essas figuras. Então, tudo o que é falado se torna uma espécie de verdade absoluta, algo que se leva para a vida toda, produzindo sentimentos, comportamentos e pensamentos”, comenta ela.

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“Um exemplo é uma criança, em processo criativo, que se veste toda colorida, e vai até os pais, que desaprovam essa escolha constantemente, falando que não está bonito, que está brega, ou qualquer outro adjetivo pejorativo. Na cabeça da criança, aquilo pode tender a ser carregado como ‘certo’, como o melhor a se fazer, bloqueando, muitas vezes, o processo criativo”, expõe Amanda. 

Com essas informações em mente, cada vez mais, quero me reconhecer em um jeans novo, doar os que não servem mais e me sentir bem com isso, além de procurar incentivar o processo criativo da minha autoimagem e a do meu filho, pois quero que ele possa se comunicar e se expressar de várias formas, sem medo de ser quem ele quiser ser.

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