Nova geração se une em álbum que celebra os 90 anos de Tom Jobim
Os cantores que interpretam suas músicas no disco revelam a ligação carinhosa com o maestro morto em 1984
Os primeiros acordes de Garota de Ipanema surgem e não há quem não reconheça. O mesmo acontece com Águas de Março ou Eu Sei Que Vou Te Amar.
A vasta obra de Tom Jobim está no imaginário do brasileiro. O amor romântico, a defesa da mata, que ele via da janela de casa, e a exaltação aos passarinhos pontuam suas mais de 300 composições.
O criador da bossa nova, maestro, pianista e cantor tem seus sucessos cultuados no mundo inteiro. A importância dele é lembrada no CD Mario Adnet e Paulo Jobim – Jobim, Orquestra e Convidados.
Com direção musical de Adnet e Paulo, filho mais velho de Tom, o disco comemora os 90 anos que o carioca teria completado em janeiro deste ano.
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Para revisitar dez clássicos, eles reuniram cantores da nova geração que foram embalados pelas melodias de Jobim. Muitos são filhos de profissionais que trabalharam com o maestro. Estão no projeto também 35 instrumentistas, entre eles Daniel, neto do homenageado. Os arranjos originais foram mantidos.
“O Tom era tão perfeccionista que não adianta querer mudar”, explica Adnet. “É perda de tempo. Você tentará trocar uma nota aqui, outra ali e não conseguirá deixar melhor.”
O resultado inclui ainda um DVD com os bastidores da produção. Os cantores contam aqui o que os levou à canção que interpretam em reverência ao artista, morto em 1994, em Nova York, onde se tratava de um câncer.
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Alfredo Del-Penho, 36 anos
Apaixonado por samba, o cantor, compositor e violonista atua em musicais ligados à MPB. Tem dois CDs gravados. “Não sei quando escutei Chega de Saudade pela primeira vez, mas Tom influenciou tanto a minha carreira que me sinto um pouco filho dele. Gosto de cantar a música para meu filho, Heitor, de 1 ano, que também crescerá curtindo o maestro.”
Dora Morelenbaum, 21 anos
Os pais de Dora, Paula e Jaques Morelenbaum, foram da Banda Nova, que acompanhou Jobim por dez anos. “Conheci Eu Te Amo na voz da minha mãe e de Chico Buarque, com meu pai tocando violoncelo. Interpretar essa canção de entrega ao amor me enche de emoção, algo presente em toda a obra de Tom.”
Luiz Pié, 28 anos
Criado em um orfanato, ele se apaixonou por música aos 8 anos, quando chegou pelo correio uma caixa de LPs, enviada por uma família americana. Descobriu Tom na escola profissionalizante. Quando nasceu o projeto do CD, Luiz tinha contrato com a gravadora Biscoito Fino e logo se engajou. “Para me sentir seguro antes de cantar Chovendo na Roseira, namorei a letra e a melodia. Ouvia, repetia, estudava. Foi o piano de Tom, reproduzido mil vezes, que me disse como deveria colocar a voz.”
Antonia Adnet, 32 anos
Ela também fez coprodução e deu assistência a seu pai, Adnet, na direção do CD. “Não me lembro da minha vida sem tocar violão ou sem Tom rolando em casa. Ganhei intimidade sem perceber. Mas nunca tinha gravado Águas de Março. No estúdio, entrei em uma viagem, quase um transe.”
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Júlia Vargas, 28 anos
Com três CDs gravados, tem Milton Nascimento como padrinho da carreira. Foi ele que a apresentou à produção. Júlia havia tomado contato com o mundo jobiniano ao pé do piano da mãe, a maestrina e regente de coro, Sel Vargas. No projeto, coube a ela Olha Maria. “É o máximo! A canção tem um histórico especial, reúne pessoas importantes e influentes para mim”, conta. “Escrita por Tom, Vinicius de Moraes e Chico Buarque, tem uma versão – a minha favorita – na voz do Milton.”
Vicente Nucci, 30 anos
Começou a carreira no coral do colégio, tornou-se pianista e fez trabalhos para trilhas de cinema. Filho do cantor e compositor Cláudio Nucci, lembra: “Eu tinha 7 anos quando Jobim faleceu. Só entendi a comoção anos mais tarde, estudando piano e devorando a obra dele. Eu me aprofundei em Eu Te Amo e senti de verdade a técnica, os significados, as sincronias”.
Alice Caymmi, 27 anos
Filha da cantora Simone e do flautista e compositor Danilo Caymmi, integrantes da Banda Nova, Alice gravou pela primeira vez aos 12 anos, no CD da tia, Nana Caymmi. Hoje tem dois discos gravados. “Acho que minhas memórias de Tom são ainda do ventre. Minha mãe fez shows quando estava grávida de mim. É uma relação bem longa. Por isso, Falando de Amor está ligada a ela e ao maestro.”