Direitos humanos ficaram ainda mais enfraquecidos com a pandemia
Mulheres, negros, indígenas, quilombolas, LGBTQIA+, refugiados são os que mais sofreram, segundo Anistia Internacional
As mulheres estão entre os grupos sociais que mais sofreram violação dos direitos humanos no ano de 2020 no Brasil. De acordo com o informe 2020/21 da Anistia Internacional: o estado dos Direitos Humanos no Mundo, o país está entre os primeiros países no ranking que classifica os mesmos por número de mortos. Em um âmbito geral, houve um aumento expressivo de casos envolvendo a violação dos direitos universais, resultado da pandemia da Covid-19.
O isolamento social, visto como a medida mais efetiva contra a disseminação do coronavírus, contribuiu para o aumento nos números de violência doméstica e feminicídio, que cresceu em 14 dos 26 estado brasileiros, que se apoiam em medidas inadequadas de proteção às mulheres e meninas.
“Existe uma pandemia dentro da crise da Covid-19, chamada violência de gênero”, disse Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil.
“A violência de gênero aumentou em todo o mundo e as mulheres são maioria dentre os trabalhadores dos serviços essenciais: possuem maior risco de adoecimento e sobrecarga com trabalho doméstico não remunerado. As autoridades brasileiras precisam agir urgentemente”, aponta a diretora.
A pequisa também mostra que, além das mulheres, grupos sociais com histórico de descriminação, tal como negros, indígenas, quilombolas, LGBTQIA+, refugiados e pessoas que já vivem em estado de vulnerabilidade e pobreza, foram os mais suscetíveis aos diversos tipos de violações.
No que diz respeito à população LGBTQIA+, de todos os países da América, o Brasil foi o que apresentou o maior índice de morte de pessoas transgêneras.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a região das Américas é a mais afetada pela pandemia de Covid-19, com mais de 55 milhões de casos confirmados e 1,3 milhão de óbitos registrados até 29 de março de 2021. Somente no Brasil são mais de 335 mil mortes computadas.
“Vimos em 2020, o Brasil e a região das Américas assolados por desigualdade, discriminação, repressão e intensificação de violações de direitos humanos”, disse Jurema.
A crise sanitária e a má administração do país durante a pandemia agravaram a desigualdade social. Hoje, mais de 27 milhões de pessoas passaram a viver na extrema pobreza, com menos de R$246 ao mês, resultado das medidas governamentais que, em muitos casos, enfraqueceram os direitos sociais, econômicos e culturais dos que vivem em situações mais precárias.
“É urgente assegurar que [essas pessoas] tenham oportunidades iguais de viver em segurança e desfrutar seus direitos humanos”, aponta Jurema.