Foram apenas três meses e 11 vídeos, mas o período em que atuou como atriz pornô marcará para sempre a vida de Mia Khalifa. De origem libanesa, mas vivendo desde a adolescência nos Estados Unidos, ela tinha 21 anos quando foi convidada a trabalhar na indústria pornográfica. Na época, sofrendo de baixa autoestima, a proposta parecia perfeita para conquistar a validação que tanto buscava.
“Não era tanto a validação durante, mas a que levava até ali. Era sentir que eu era aceita e ouvir que era bonita, ser mimada, ter alguém correndo para trazer meu almoço. Pequenas coisas como essa fazem você se sentir o centro do mundo. Quando todas essas pessoas estavam prestando atenção em mim, de repente era como se ‘Oh meu Deus, talvez eu seja bonita'”, disse Mia à revista HERO, explicando como na época sentia que seu valor dependia de outras pessoas, especialmente homens, elogiando sua aparência.
Na entrevista, ela revela que, enquanto as empresas que produziram seus vídeos tiveram um lucro de mais 50 milhões de dólares usando sua imagem, para ela o pagamento não ultrapassou a casa dos 12 mil dólares, sem descontar impostos. Por ter assinado um contrato que pouco lhe beneficia, até hoje ela não consegue recuperar o domínio do próprio nome e até teme tentar uma ação legal contra a indústria, pois sabe que suas chances de vencer são ínfimas. “Quando eu disse a eles que pagaria para comprar meu domínio, a oferta deles foi ‘Que tal você fazer mais pornô e a gente dividir parte do rendimento?'”, contou.
@miakhalifa It is what it was
“Aquele ataque dissociativo de hora em hora por lembrar que a única impressão que centenas de milhares de pessoas têm de você é unicamente baseada nos mais baixos, tóxicos e atípicos três meses da sua vida quando você tinha 21”
Maiores que a questão financeira, porém, são os traumas que ela carregará para sempre. O primeiro veio quando ela, que é cristã, filmou um vídeo usando um hijab, o tradicional véu islâmico. À BBC, Mia contou que inicialmente havia chegado a argumentar que poderia ser morta por aquele tipo de cena, mas que acabou topando por uma mistura de nervosismo, adrenalina e intimidação. “A ficha não caiu até o dia seguinte, porque a adrenalina ainda estava muito alta. Mas, logo depois do lançamento, meu mundo inteiro ruiu.” A filmagem fez com que Mia recebesse ameaças de morte, inclusive de contas que se diziam ser do Estado Islâmico.
Hoje trabalhando como modelo e influenciadora, ela também teve dificuldades de arrumar empregos tradicionais. Em suas tentativas de trabalhar fora do entretenimento, contou, ela continuava chamando atenção, o que se tornava um problema não apenas seu, mas também de seus colegas e supervisores. “Sabendo do meu passado, eles me deram um lugar seguro para trabalhar, mas eu me sentia como um fardo porque atraía atenção indesejada para o escritório”, explicou à Hero.
Apesar de não se ver como uma vítima e acreditar ser responsável pelas próprias decisões, Mia acredita que é preciso evitar que outras jovens caiam na mesma armadilha. Por isso, ela aproveita seu grande público nas redes sociais – são mais de 20 milhões de seguidores no Instagram e 7 milhões no Tik Tok – para fazer alertas sobre os perigos da indústria, especialmente para jovens garotas que cogitam entrar no ramo.
“Por favor, pense sobre isso se está considerando a indústria do sexo. Eles tornam impossível retificar seus arrependimentos, caso os tenha no futuro”, disse ela em um post no Twitter. “Aqueles 11 vídeos me assombrarão até a morte e eu não quero que outra garota passe pelo que eu passei – porque ninguém deveria”, escreveu também em um story.
Please please please think about this if you are considering the sex industry. They make it impossible to rectify your regrets should you have them in the future. https://t.co/yPYJf7xpA4
— Mia K. (@miakhalifa) June 23, 2020
O que você precisa saber sobre gravidez em tempos de pandemia