Harvey Weinstein: o maior predador sexual de Hollywood vai a julgamento
Desde 2017, mais de 80 mulheres já denunciaram Harvey Weinstein por todo tipo de violência sexual. Agora, ele enfrenta o tribunal pela primeira vez.
Poucos anos atrás, Harvey Weinstein parecia ser um homem totalmente blindado. Produtor de enorme sucesso em Hollywood, ele está por trás de filmes e séries de TV que vão de “Pulp Fiction” a “Project Runway”, passando por “Shakespeare Apaixonado” e a franquia “O Senhor dos Anéis”. Weinstein, hoje com 67 anos, é co-fundador das produtoras Miramax e Weinstein Company.
Sempre acompanhado de celebridades do alto escalão, Weinstein viu seu castelo começar a cair em outubro de 2017. Duas extensas reportagens, publicadas pelo New York Times e pela New Yorker num intervalo de cinco dias, cravaram, sem meias palavras, que o produtor violentou sexualmente dezenas de mulheres. A lista de denúncias inclui desde propostas indecentes (o “teste do sofá” era prática corriqueira) até estupros. Agora, mais de dois anos depois, iniciou-se o primeiro julgamento de Weinstein no tribunal.
As acusações: todo tipo de violência sexual, incluindo estupros, ao longo de 30 anos
De acordo com o New York Times, Weinstein fez vítimas ao longo de 30 anos e seus alvos preferenciais eram atrizes em início de carreira e jovens funcionárias. Poderoso e bem relacionado, ele é tido como responsável por alavancar a carreira das oscarizadas Gwyneth Paltrow, Jennifer Lawrence e Lupita Nyong’o. Também foi Weinstein que mexeu os pauzinhos para solidificar a carreira de Uma Thurman no cinema cult, Heidi Klum na TV e Juliette Binoche no mercado americano.
Traduzindo: por décadas, todas as mulheres jovens e bonitas que chegavam a Hollywood sabiam que Harvey Weinstein era o homem a ser procurado. A convivência diária com essas mulheres e o status incensado do produtor criaram um cenário 100% confortável para todo tipo de violência sexual.
As primeiras mulheres a quebrarem o silêncio foram antigas funcionárias das empresas de Weinstein e atrizes pouco conhecidas, como Ashley Judd, Asia Argento e Lucia Evans. Ashley disse que, 20 anos atrás, Weinstein a chamou para uma reunião em seu quarto de hotel. Chegando ao local, Ashley encontrou o homem de roupão e ele pediu que a atriz lhe fizesse uma massagem e que o observasse tomando banho. Ela conseguiu se livrar da situação, mas Asia e Lucia não tiveram a mesma sorte – ambas afirmam terem sido estupradas pelo produtor.
Para além dos relatos de mulheres agredidas, fontes da Miramax e da Weinstein Company dizem que o magnata fez pelo menos oito acordos com vítimas, para que os casos não fossem divulgados.
Em resposta às denúncias publicadas na mídia, Weinstein lançou um pedido de desculpas e contratou ninguém menos do que a advogada responsável pelo caso Bill Cosby – ator acusado de estupro por dezenas de mulheres. Mesmo assim, afirmou que o New York Times mentiu em diversos trechos da reportagem – a matéria da New Yorker ainda não havia sido publicada na ocasião.
Logo após, Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie também quebraram o silêncio, numa reportagem publicada pelo próprio New York Times. Gwyneth diz que tinha 22 anos e estava trabalhando com Weinstein quando ele a abordou da mesma maneira que fez com Ashley Judd – durante uma reunião em seu quarto de hotel.
Angelina também aponta um quarto de hotel como o local em que foi assediada pelo produtor. “Eu escolhi nunca mais trabalhar com ele e passei a alertar outras pessoas”, diz ela.
A queda de Harvey Weinstein
O efeito cascata foi gigantesco e o caso de Weinstein superou o de Bill Cosby em magnitude midiática e simbólica. O movimento #MeToo foi desencadeado pelo escândalo e, desde então, nunca se falou tanto sobre abuso sexual em Hollywood.
Ainda em outubro de 2017, o magnata foi demitido de sua própria empresa – o outro fundador da Weinstein Company é o irmão dele, Bob Weinstein. De Meryl Streep a Barack Obama, basicamente todos os amigos badalados do produtor lhe deram as costas e o escândalo também fez com que a esposa dele, Georgina Chapman, rapidamente pedisse o divórcio. De lá para cá, mais de 80 mulheres já vieram a público para engrossar o coro de denúncias.
Não é todo dia que a gente vê um homem tão poderoso sendo amplamente massacrado por agir como um predador sexual e o caso Weinstein representa uma vitória histórica. Mesmo assim, não podemos esquecer de que a conduta desse homem envolve muito mais do que assédios socialmente condenáveis – há crimes envolvidos.
Ver uma reputação se esfarelar não é o suficiente quando falamos em estupros. Harvey Weinstein precisa arcar com as consequências jurídicas dos crimes que cometeu.
O primeiro julgamento
O processo começou a ser julgado em Nova York, nessa segunda-feira (6). Ele não é referente a todas as denúncias, somente duas. Parece pouco, mas esse cenário abre uma possibilidade: mesmo que seja inocentado em Nova York, há chances de que outros julgamentos parecidos se desenrolem no futuro. E isso pode acontecer mais cedo do que se imaginava.
Poucas horas depois de a batalha judicial ser iniciada em Manhatan, produtores de Los Angeles moveram uma nova denúncia contra Weinstein, indiciando-o pelo estupro de outras duas mulheres.
Quanto ao julgamento atual, o produtor pode ser condenado a até 28 anos de prisão. Uma das vítimas envolvidas no caso se chama Mimi Haleyi e é ex-funcionária de Weinsten – ela o acusa de estupro. A outra não quis se identificar e o denunciou por agressão sexual. Os dois crimes teriam acontecido em 2013.
Uma terceira vítima, a atriz Annabella Sciorra, também vai depor. Ela acusa Weinstein de estupro, mas o caso teria acontecido 21 anos atrás e por isso já não pode mais ser julgado, de acordo com as leis estaduais de Nova York.
No tribunal, o réu tem se mostrado abatido e usa um andador para locomoção. Em frente ao prédio, muitas mulheres estão reunidas e pedem por justiça, incluindo atrizes que o acusaram anteriormente. Para elas, a debilidade física de Weinstein não passa de encenação.
Essa primeira sentença deve demorar até março para ser concluída. A expectativa é que o julgamento dure duas semanas, seguidas de oito semanas de argumentos, depoimentos e deliberações.