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Lena Dunham: “Acho ótimo que feminismo tenha se tornado uma palavra tão importante na cultura pop”

A série Girls chega perto do fim ao mesmo tempo que sua criadora e protagonista, Lena Dunham, solidifica sua influência também fora da televisão

Por Mariane Morisawa (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 19h33 - Publicado em 21 fev 2016, 07h00
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  • Estreia hoje, dia 21, a quinta – e penúltima – temporada da série que Lena criou, escreveu, produziu, dirigiu e protagonizou. Mas isso não quer dizer que vamos deixar de ouvir falar dela tão cedo. A nova-iorquina, de 29 anos, usou a personagem Hanna Horvat, que carrega muito da história dela, para se autointitular porta-voz da geração Y logo no primeiro episódio de Girls. Agora, quer falar não só com as jovens mas com mulheres de todas as idades e do mundo todo. Ativa nas redes sociais, Lena lançou, em setembro passado, a newsletter feminista Lenny Letter, que reúne textos bem-humorados de figuras como Jennifer Lawrence, entrevistas e perfis. A mesma temática se repete no podcast Woman of the Hour with Lena Dunham, no qual recebe convidados e fala também de gênero, amizade, amor e relacionamentos. Ao mesmo tempo, se envolveu diretamente na campanha de Hillary Clinton, pré-candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos e defensora das questões da mulher. Em um ritmo que parece conter centenas de palavras em um minuto, Lena conversou com CLAUDIA em Los Angeles.

    O feminismo está em debate também em Hollywood. Jennifer Lawrence está engajada, Emma Watson, você… Que papel a cultura pop tem nessa discussão?

    Acho ótimo que feminismo tenha se tornado uma palavra tão importante na cultura pop no último ano. Assim, ela fica na cabeça de mais pessoas. É muito bacana que todas essas mulheres tenham coragem de falar sobre suas crenças e experiências. Alguém como Jen Lawrence está numa posição de muito destaque, capaz de gerar um impacto positivo incrível em jovens mulheres.

    Ampliar o alcance desse tema tem o mesmo peso de fazer campanha para Hillary Clinton?

    Faço campanha para ela para lembrar que o feminismo não se trata apenas de girl power (empoderamento feminino) ou de poder expressar sua sexualidade. É também sobre assuntos como igualdade de salários, justiça reprodutiva, saúde universal… Tudo que pode fazer as mulheres avançarem e serem tão participantes da sociedade quanto os homens. Mesclar o entendimento do feminismo no viés da cultura pop com sua compreensão pela política seria um próximo passo bem empolgante.

    Você pretende se candidatar a um cargo público?

    Não acho que sou o perfil ideal para a política. Além disso, gosto muito do meu trabalho. Só de passar três dias na campanha já estava cansada, doida por um lanchinho e uma soneca (risos). Mas admiro o que ela faz e, se puder, vou ajudar.

    Girls fala muito de amizade feminina. Qual a importância das amigas na sua vida pessoal?

    A minha relação com elas é essencial para mim. Eu diria até que são os relacionamentos mais complexos, torturantes e bonitos da minha vida. Eu só fico realmente arrasada quando brigo com uma delas. Se discuto com meu namorado (Jack Antonoff, baterista da banda Fun), fico chateada, claro, mas não tão angustiada quando isso acontece com minhas amigas. Por exemplo, se uma delas se casa, não consigo deixar de pensar na injustiça que está cometendo com a nossa amizade. Muitas estão se casando ou ficando noivas e, embora eu esteja em um relacionamento sério, acabo sempre pensando: “Como assim? É isso que todas nós vamos fazer agora?” (risos) Foi bacana colocar esses demônios para fora na série.

    Ficar famosa afetou suas amizades?

    Tenho amigos de longo tempo, em quem realmente confio e que amo muito. Eles têm orgulho de mim e me apoiam, mas também jamais me perdoariam por um deslize. Tenho sorte nessa área.

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    Qual vai ser a mensagem para o fim da série?

    Acho que é a mesma ideia com que começamos: tudo bem ser várias coisas diferentes, ser complicada, bagunçada. As personagens femininas não precisam ser só a namorada perfeita, ou só a garota sexy ou só a gordinha. Elas podem existir em muitas formas ao mesmo tempo.

    De onde vem esse seu destemor de se tornar porta-voz de questões complexas?

    Tenho uma mãe muito politizada. Quando eu era pequena, ela trabalhava constantemente com a (organização feminista) Women’s Action Coalition, por exemplo, protegendo uma clínica de abortos para que as mulheres pudessem entrar com segurança em meio aos manifestantes. Ela sempre fez sua opinião ser ouvida. Se você é criada por alguém assim, essa acaba se tornando sua natureza. Quando virei uma figura pública, fiquei surpresa com as reações negativas. Foi mais difícil do que eu imaginava. Mas, no fim, valeu a pena. Porque, se uma única pessoa vier me dizer que ganhou autoconfiança para se recuperar de um estupro, parar com uma dieta maluca eterna ou contar aos pais que é homossexual, isso terá sido suficiente. Qualquer ataque pessoal contra mim perde a importância perto disso.

    Quais seus planos para a Lenny Letter (lennyletter.com)?

    Queria expandi-la para outros países. Porque, na verdade, não existe feminismo global. As questões são muito diferentes dependendo de onde se está. Gostaria que nos tornássemos uma fonte mais diversa de conteúdo político e bem-humorado para mulheres de todas as partes. Muitas vezes, a internet é o local mais seguro para elas procurarem informação, especialmente em sociedades em que seus direitos são restritos.

    Acha que em um futuro próximo as pessoas vão ter um olhar mais suave sobre a aparência feminina?

    É um instinto antigo reparar no visual das mulheres. Sempre tivemos de cumprir um padrão diferente deles nesse quesito. Os homens eram admirados por outras qualidades, enquanto as mulheres eram vistas como esposas em potencial. Então, a avaliação passava pela aparência delas ou por quantas crianças podiam ter. Espero que, com tantas mulheres diferentes mostrando que somos muito mais do que isso, a discussão mude quando chegar até nossos filhos – porque precisa mudar.

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    Você se considera uma mulher bem-sucedida?

    Às vezes, sim, e, no minuto seguinte, acabo caindo ou alguém grita comigo. Mas sei que tenho sorte de poder fazer tanta coisa e viver tantas experiências diferentes. Também sinto que tem muita coisa que ainda quero fazer. Quando Girls terminar, vai ser um grande ponto de reflexão para mim. Espero ter um momento para apreciar o que passou, porque não tive muito tempo para aproveitar isso.

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