“Fui abusada dos seis aos oito anos”, diz futura ministra Damares Alves
A pastora e advogada explica o vídeo em que aparece dizendo que viu Jesus subir em um pé de goiaba

Damares Alves, advogada, pastora e futura Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, revelou que foi abusada sexualmente dos seis aos oito anos. Em entrevista à rádio Gaúcha, ela disse que o agressor a fez se sentir culpada. “Ele me convenceu de que eu era culpada, de que eu o tinha seduzido. Como menina cristã, eu achava que Deus estava bravo comigo e que eu não iria mais para o céu”, relatou.
Nesta semana, um vídeo em que ela conta a história de que viu Jesus subir em um pé de árvore repercutiu na internet. A fala acabou virando memes e piadas na rede.
“Eu tinha um pé de goiaba em casa e era lá que eu ia para chorar. Aos 10 anos eu quis morrer, achava que minha vida não tinha sentido nenhum”. Ela disse que mandava sinais à família de que estava sendo agredida, mas que ninguém percebia. “A ameaça era, se você falar, o seu pai morre. Eu me submetia aos abusos para o meu pai não morrer.”
“Eu peguei veneno e subi no pé de goiaba e seria meu último dia. Eu chorei porque ao mesmo tempo que eu queria morrer, eu não queria morrer (…) Eu comecei a abrir o saquinho de veneno e comecei a falar… Eu vou dizer que as crianças no Brasil têm amigos imaginários, elas não são ridicularizadas, podem brincar com unicórnios e não são ridicularizadas. Mas quando uma menina cristã fala que seu amigo imaginário é Jesus, olha os memes que estão fazendo com meu nome hoje. Olha as brincadeiras, sem nenhuma sensibilidade, a história de minha vida. Virei palco de piada porque tive a coragem de contar que uma menina de 10 anos, machucada, tinha como amigo imaginário o ser superior da vida dela que é Jesus. Quando estava abrindo o pacotinho de veneno, eu vi Jesus e ele foi meu amigo imaginário que naquele pé de goiaba me impediu de me matar”, disse.
Damares prossegue dizendo que irá trabalhar em defesa das mulheres e das crianças abusadas no Brasil. “Essa é uma nação que abusa de mulheres. Venho para esse ministério como uma menina sobrevivente, querendo que nenhuma outra precise do pé de goiaba.”
“Bolsa estupro”
Questionada sobre o que ficou conhecido como “bolsa estupro”, a futura ministra diz que os direitos garantidos não irão mudar. “Para a mulher que quiser [abortar] é lei, está garantido, o serviço de saúde está aí, é política pública e não vai ser alterado”, disse.
“Eu, Damares, com certeza não abortaria se fosse estuprada”.
Ela diz que, se a mulher quiser ter o bebê, deve ter assistência. Ela cita leis federais do Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul que amparam grávidas a partir de violência sexual.
“Do mesmo jeito que o estado financia o aborto, arca com as despesas do aborto, dá para ela assistência psicológica depois do aborto, dá para ela todo tratamento, esses dois estados criaram leis que aquela mulher que decidir ter a criança vítima do estupro vai ter a mesma assistência psicológica, o mesmo amparo estatal. Com base nessas duas leis foi criada uma lei federal. A mulher teria amparo governamental. Pegaram essa lei e disseram que é a bolsa estupro”, defende-se.
Damares Alves diz que não irá lidar com a descriminalização do aborto no Ministério porque isso é tema do Congresso Nacional.