A presidência, que antes era só disputada por homens da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), agora conta com duas mulheres atuando juntas por uma colocação no cargo executivo da Ordem de São Paulo.
Dora Cavalcanti é advogada, com 25 anos de experiência na área criminal, e Lazara Carvalho atende causas familiares há 10 anos. Mesmo em nichos distintos de trabalho, elas possuem o mesmo ideal, que é gerar mais inclusão para as pessoas negras e representatividade feminina dentro da OAB.
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As pré-candidatas também pensam na inclusão dos advogados com mais experiência no mercado, aqueles que ainda não se adaptaram ao mundo tecnológico e sofrem dificuldades em desempenhar suas funções online, principalmente durante o isolamento social. Uma das ideias é fornecer cursos e ferramentas que facilitem o trabalho jurídico executado de maneira virtual.
“Queremos ser inclusivas a partir de agora. Esse mito de que temos que fazer uma campanha com a visão do homem, com um viés ultrapassado, depois que estamos no segundo ano da pandemia, trabalhando todas nós pelo Zoom [plataforma de reuniões online], de casa, da rua, tendo que se adaptar à própria advocacia, que foi chamada a se modernizar, trabalhamos remotamente somente com certificado digital, operamos processos eletrônicos que é difícil e custoso”, salienta Dora. “Essa adaptação tem que refletir em uma entidade mais rápida, atual, representativa e muito mais acessível”, complementa.
Para Lazara, 90 anos sem nenhuma mulher no poder reflete o quão necessária é essa abertura para a pluralidade feminina. “Decidimos desafiar o senso comum de que as mulheres precisam, de uma certa maneira, que os homens a conduzam ou que ainda estamos num processo de treinamento. Resolvemos romper algo que eu ouvi semana passada sobre que nós, mulheres, precisamos ser capacitadas para liderar. Em 20 anos que trabalho com causas sociais, militando contra o encarceramento em massa, a pessoa vem me dizer que eu não sei liderar”, relata a advogada. “É exatamente por isso que estamos à frente dessa empreitada, para que exista um olhar que evidencie mais a figura feminina”, destacou.
As duas se conheceram por meio de uma vídeo-chamada, motivada por uma amiga em comum que acreditava que seria positivo as duas se falassem. “Depois dessa chamada de vídeo nos encontramos em um café e a conversa, que deveria durar apenas 30 minutos, durou horas. Nossa conexão foi imediata, nossas histórias de vida se parecem, foi um momento de sororidade e nossa aliança foi criada a partir dali”, relembra Lazara.
Para fechar a chapa e dar entrada na campanha são necessárias 176 pessoas. Ano passado, o Conselho Federal da OAB definiu que 50% das vagas nas eleições devem ser preenchidas por mulheres e 30% por pessoas negras.
Ainda não há um nome para chapa, já que o edital ainda não foi aberto para registro e, nesse primeiro momento, Lazara e Dora ainda são pré-candidatas. Depois de efetivarem a candidatura e passar o período de campanha, que será em outubro, a partir de 15 dias ,em novembro, iniciam-se as votações. Caso vençam, o mandato tem duração de três anos – de 2022 a 2024.
Dora Cavalcanti
Aos 50 anos, 25 deles dedicados à advocacia, Dora é mãe, advogada criminal, conselheira do Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) e criadora do Innocence Project Brasil, que faz uma grande busca de pessoas que foram condenadas pelo sistema e não cometeram o crime do qual são acusadas.
Lazara Carvalho
Há 10 anos na área da advocacia e 20 em causas sociais, Lazara foi vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial da seccional e é co-fundadora do movimento Elo, voltado para questões raciais. Ela é mãe e atualmente desenvolve suas funções no âmbito familiar, com enfoque na mulher contra a violência, abusos e a favor dos direitos femininos.