Basta um clique na hashtag #This_Is_Postpartum para ter acesso a um universo de diferentes realidades. Diariamente, mulheres utilizam a palavra-chave para marcar postagens em que relatam suas vivências na rotina pós-parto, compartilhando experiências e desafios da nova fase. Em especial, o de lidar com as mudanças e marcas que a gravidez deixou em seus corpos.
Hoje já são mais de 4000 publicações reunidas com o propósito de discutir os padrões estéticos relacionados ao corpo feminino após a gravidez. O número expressivo se deve à norte-americana Meg Boggs. Em 2018, Meg tornou-se mãe pela primeira vez. Foi quando percebeu a falta de representatividade que as mulheres grávidas ou que acabaram de dar à luz sentiam na mídia e redes sociais.
“Eu via fotos de barrigas perfeitamente redondas e não me identificava porque a minha definitivamente não era daquele jeito”, relatou ela à CNN. Ela ainda tentou fazer buscas específicas na internet, mas continuou sem encontrar figuras com as quais pudesse se identificar. “Parecia que minha jornada pós-parto e meu corpo não contava”.
Buscando mudar essa realidade e se conectar com mulheres em situações parecidas, ela criou um blog, postou sua primeira foto pós-parto no Instagram e esperou para ver como a internet reagiria. “Para minha surpresa, os comentários eram muito positivos, alguns do tipo ‘Eu precisava disso hoje’. Foi quando a ideia começou a surgir”, ela explica, referindo-se à hashtag.
Para ajudá-la, Meg recrutou 25 mães para compartilharem suas experiências sobre como lidavam com a própria imagem, depressão pós-parto, ansiedade, perda dos filhos e luto. Os relatos foram divulgados no Instagram e agrupados na hashtag #This_is_postpartum.
Juntas
Entre as 25 mulheres estava Ashley Dorough. Após dar à luz a uma menina com uma doença congênita do coração, ela enfrentou ansiedade e depressão, o que se repetiu no nascimento da segunda filha alguns anos depois. “Parecia que eu estava em modo de sobrevivência o tempo inteiro, o que é normal até certo ponto, mas então começou a se transformar em raiva e eu percebi que aquilo não era eu. Eu não sou uma pessoa raivosa”.
Ver outras mulheres compartilhando seus relatos sobre o uso de antidepressivos a encorajou a contar o que passava para seu obstetra, que lhe assegurou que era normal precisar de ajuda vez ou outra. Somados, terapia e medicamentos transformaram sua vida. Hoje, ela vê a campanha como uma oportunidade para que as mulheres saibam que não estão sozinhas.
Cicatrizes da esperança
Grávida de trigêmeos após um tratamento de fertilização in vitro, Desiree Fortin sabia que seu corpo mudaria, mas disse para si mesma que aquilo não importava. Até dar à luz aos bebês. “Meu corpo mudou mais do que eu havia imaginado. Havia muita pele sobrando e marcas de estrias em todo lugar”.
Para lidar com a nova realidade, ela passou a escrever sobre auto-aceitação. “(As estrias e pele) são os caminhos para minha maternidade. Elas representam meus três milagres, que eu não teria se não tivesse enfrentado a infertilidade e carregado três seres humanos de uma única vez”. Vendo o mundo por essa perspectiva, Desiree conseguiu encontrar beleza em cada marca de estria em seu corpo.
Agora ela as chama de suas “cicatrizes da esperança” por representarem “aquilo que ela tanto desejou e esperou alcançar”. Apesar de ter recebido algumas reações negativas às suas fotos, ela não se deixa abalar, pois quer, acima de tudo, empoderar outras mulheres a se amarem e dividirem suas histórias.
Novo ponto de vista
Para Meg e suas 25 companheiras, a campanha é uma missão para redefinir as percepções sociais sobre o corpo da mulher após o parto. E a única maneira de tornar isso uma coisa normal é ser transparente, direto e não deixar o tema morrer. Mesmo que tentem desmotivá-las. “Posso receber centenas de comentários negativos, mas basta uma mensagem dizendo ‘Isso era o que eu precisava ver hoje’ para eu saber que vale a pena.”
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