Segundo a União Interparlamentar, apenas 24% dos cargos do poder público são ocupados por mulheres no mundo. No Brasil, mesmo representando 52% da população, 16% das candidatas às eleições de 2018 foram eleitas.
É fato que a ausência de mulheres na política é um problema mundial, mas os dados sobre essa realidade são escassos. Sendo assim, o Projeto Me Farei Ouvir e a ONG #ElasNoPoder projetaram a pesquisa Perfil da Mulher na Política, com abrangência nacional, para entender os entraves que ainda distanciam as cidadãs da política.
Por meio do método quantitativo de análise de dados, o estudo analisou mais de 4 mil questionários respondidos por brasileiras. Letícia Medeiros, cientista política, pesquisadora confundadora do Elas no Poder, explica que a pesquisa foi compartilhada por meio de um link que ficou disponível de 4 de novembro de 2019 a 20 de dezembro de 2019. Para facilitar a participação das entrevistadas, que exercem ocupações diversas, a identificação não era obrigatória.
De acordo com os resultados, o número de mulheres que se candidatam a cargos do poder público diminui conforme a hierarquia do posto. Com isso, 70,1% das entrevistadas que já concorreram às eleições disputaram uma vaga para ser vereadora, contra 0,4% concorrendo à presidência.
Do outro lado, a pesquisa aponta que 54% das entrevistadas não tinham perspectiva de se candidatar, sendo que 40% usaram como motivo a falta de “perfil”. Para Letícia, a falta de ambição política por parte das mulheres está atrelada à falta de incentivo, de familiaridade com as questões políticas desde a infância, a precariedade do financiamento, seja por partido ou doação, dupla jornada de trabalho, entre outros. “No ombro delas, o peso é muito maior”, comenta a pesquisadora.
A relação maternidade e política parece ser estreitada cada vez mais. Segundo os dados, as mulheres que são mães ou desejam ter um filho no futuro se demonstraram mais abertas a participar da política. 47% das entrevistadas que se identificaram como mães expressaram o desejo por conquistar um cargo no poder público.
Cruzando os dados sobre a ambição política com grau de instrução, nota-se que as mulheres com maior escolaridade, ou seja com ensino superior, técnico ou pós graduação, estão menos propensas a se candidatar, já que 57% desse grupo escolheu a opção: não pretendo me candidatar.
“Essas mulheres acabam construindo uma vida mais estável, tornando-se aparentemente mais difícil abandonar isso para se aventurar pela política. Por isso, o que impacta nessa questão é mais a condição de vida que está por trás do nível de escolaridade”, comenta Letícia, que também expressa o desejo do coletivo por uma continuação do estudo. “Buscamos investimento e pesquisadoras parceiras”, afirma.
Todas juntas
Mesmo com candidatas expressando posicionamentos políticos diversos, alguns pontos da pesquisa entraram em consonância para a maioria delas. 98% concorda que são necessárias mais mulheres na política. Sobre a reserva de vagas para gênero nas eleições do Legislativo, 82% é a favor da reserva do Fundo Partidário Eleitoral para capacitação e promoção de candidaturas de mulheres.
Outro ponto em comum nas respostas: 82% das entrevistadas discorda muito ou discorda com a frase “mulher não vota em mulher”, e 91% discorda muito ou discorda da frase “eu prefiro votar em homens”. A estrutura dos partidos também é vista como machistas (89%) e racistas (83%).
A ONG lançará, em abril de 2020, uma Plataforma de capacitação de mulheres, em parceria com o Instituto Update. O objetivo do site é treinar e capacitar campanhas femininas gerando impacto nas eleições de outubro. Para viabilizar o projeto, um financiamento coletivo ficará no ar até dia 24 de março.