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Tamara, um filme sobre a luta de minorias

Entrevistamos Elia Schneider, a diretora do filme, para entendermos mais sobre o longa

Por Natalia Maruyama
Atualizado em 31 out 2018, 14h56 - Publicado em 30 out 2018, 10h17
 (Eduardo Parra / Colaborador/Getty Images)
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Lançado em 2016, Tamara é um filme que conta a história de Tamara Adrian, primeira mulher transexual a ser eleita como deputada na Venezuela. Ele estreia em São Paulo na quinta-feira (1) e terá uma sessão especial na Casa Florescer, Centro de Acolhida Especial para Mulheres Transexuais e Travestis.

O longo é uma ficção e é baseada em fatos reais. Ele traça a trajetória de Teo, um advogado bem sucedido que é interpretado por Luis Fernandez. Ao longo do filme é possível acompanhar todo o processo do protagonista para realizar o seu maior desejo: ser uma mulher.

Entrevistamos Elia Schneider, a diretora do filme, para sabermos um pouquinho mais sobre os bastidores da produção e sobre como foi todo o processo de criação.

CLAUDIA: Como foi a produção do filme e como se inspirou para produzir a protagonista?

Elia Schneider: A produção do filme é de Joseph Novoa, um renomado produtor em Venezuela. Tivemos ajuda financeira do Senac e Vermelia. Tamara é uma coprodução entre Venezuela, Peru e Uruguai.

Meu filho estava estudando Direito na Venezuela e ele me contou sobre uma professora que estava dando uma aula muito importante e essa professora fez a transição de homem para mulher e eu fiquei, imediatamente, interessada na história e conheci Tamara Adrian.

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Nós decidimos que seria uma ficção com cenas da vida de Tamara, mas também com cenas de outras pessoas transexuais. Tivemos a participação de Tamara durante as gravações e em todos os festivais que fomos. O filme é totalmente baseado em eventos verdadeiros e em uma vida real.

CLAUDIA: Como falar de um assunto tão delicado como a transexualidae?

Elia Schneider: Precisamos falar sobre transexualidade e precisamos fazer as pessoas entenderem isso. A própria vida de Tamara é um exemplo de direitos humanos e de uma pessoa que precisa desses direitos, não porque ela está pedindo por eles, mas porque ela deveria ter direitos como qualquer outra pessoa. O filme é como se alguém estivesse falando: “Ei, tem pessoas aqui que precisam ser ouvidas e precisamos que você ouça.”

Muitos dos transexuais estão nas ruas porque eles não tem como estudar, já que foram expulsos das escolas, então eles fazem trabalhos nas ruas, e isso é muito ruim, porque acabam não tendo uma educação. Quando eles são encontrados pelas polícias nas ruas, eles são torturados e mortos, e não há nenhuma lei de discriminação.

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Por isso, em 2015, Tamara foi eleita deputada da Assembleia Nacional, no intuito de mostrar que a comunidade LGBT é muito vulnerável e não devemos fazer piada sobre eles.

Não é só um filme sobre a comunidade transexual, é um filme sobre minorias, sobre como elas são excluídas. Eles também têm direitos e deveríamos respeitar isso de uma maneira legal. Tamara sempre diz que não temos como mudar a sociedade a não ser através da lei.

CLAUDIA: As mulheres transexuais no filme são transexuais na vida real?

Elia Schneider: Sim.  Em uma cena que atuam Tamara e uma transexual, eu não contei para ela sobre o que a cena iria se tratar, apenas falei que Luis Fernandez, que interpreta a protagonista, iria fazer algumas perguntas para ela e ela teria que responder a elas e foi isso que ela fez e nós gravamos. Essa é realmente uma cena documentária já que ela conta sobre a vida real dela.

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CLAUDIA: Na sua opinião, qual a importância de um parceiro na transição?

Elia Schneider: O ponto principal do filme é mostrar que você não se apaixona por alguém por algo que ela tem no meio das pernas. Você se apaixona e ama essa pessoa. Não importa o que acontecer você vai estar ao lado dela. Vai muito além de ser homem ou mulher.

CLAUDIA: Poderia falar sobre a depressão sofrida pelos transexuais?

Elia Schneider: Sou psicóloga graduada pela Universidade Católica da Venezuela e estou um pouco sobre a depressão nas pessoas. A partir do momento que alguém não se aceita da forma que é e tem que passar por diversas lutas já que a sociedade também não te aceita da forma que você quer isso, isso pode ocasionar uma depressão social.

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Eu acredito que você pode nascer homem ou mulher, mas há variações em todas as mulheres e homens. Todos são diferentes e você não é Deus para dizer para as pessoas o que elas podem fazer ou quem elas podem ser.

CLAUDIA: Você tem alguma cena predileta no filme?

Elia Schneider: Eu gosto muito da cena em que Tamara vai ao banheiro pela primeira vez após realizar a cirurgia de transição de sexo. É uma cena sem palavras que representa o momento em que ela está aceitando a humanidade dela. É a primeira vez dela naquele corpo e é algo muito doloroso no sentido físico e emocional. Ela se liberta do sentimento do corpo de homem e aceita o seu novo corpo.

Também conversamos com Tamara Adrian, a ativista transexual em que o filme foi inspirado.

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Confira o recado dela para os transexuais brasileiros:

“Esse é o momento em que vocês devem se organizar para não serem afetados por políticas públicas. Encorajo vocês a participar ativamente da política e da criação de programas de capacitação, para preencher as lacunas na área da educação. Por favor, não desistam. Vamos lutar juntos e criar um mundo melhor onde todos vivam com dignidade”.

Veja cena exclusiva do filme aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=MGIETHVAbUo&feature=youtu.be

 

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