“Todo país que avança em educação tem uma população que se mobiliza”
Fundadora do Todos Pela Educação, Priscila Cruz conversa sobre a importância de um ensino público de qualidade
O Prêmio CLAUDIA chega a sua 23ª edição e, neste ano, o foco principal do evento será a educação. A equipe da premiação viaja por todo o Brasil, sob a coordenação da jornalista Giuliana Bergamo, em busca de pessoas que atuam por um Brasil mais igualitário e inclusivo.
CLAUDIA conversou com Priscila Cruz, finalista do ano de 2017, presidente e fundadora da organização sem fins lucrativos Todos pela Educação. Ela fala sobre a importância do ensino público de qualidade no Brasil. Confira:
CLAUDIA: Você poderia falar sobre o que é o movimento Todos Pela Educação e como ele surgiu?
Priscila: É um movimento que nasce justamente dessa ideia de que a gente precisa colocar a educação no seu papel de centralidade. Como a gente não tem uma sociedade organizada para fazer isso, o que pensamos é organizar a sociedade para demandar isso a público. A gente tem uma produção técnica forte, a gente produz propostas, ouvimos professores, alunos, fazemos pesquisa de campo, olhamos pesquisas existentes… a partir disso construímos propostas.
CLAUDIA: Qual o trabalho da organização com os candidatos [à Presidência]?
Priscila: Neste ano temos um programa chamado ‘Educação Já!’, a gente fez justamente isso: primeiro construímos um programa de governo para a educação. O que acontece no Brasil é o seguinte: cada gestor vai lá e cria suas prioridades sem nenhum sequenciamento correto, aí acontece o que temos hoje: 7% dos jovens têm aprendizado mínimo em matemática, 2,5 milhões de crianças fora da escola. Porque tem muita descontinuidade e falta de planejamento. Daria para fazermos muito mais com os recursos que temos. Não só o executivo deve agir, mas também o legislativo deve agir. Se o legislativo não aprova, fica mais complicado. Deve haver uma harmonia de propósitos.
CLAUDIA: Como tem sido a recepção dos candidatos?
Priscila: Sempre digo que a educação, por ser uma área muito estudada, em educação ninguém discorda que precisamos investir melhor na primeira infância (crianças de 0 a 3 e 4 a 5 anos). Esporte, cultura, desenvolvimento social… isso precisa estar harmonizado para que todas as crianças brasileiras, principalmente as mais pobres, cheguem à escola prontas para aprender. O que temos que ver é, na hora de votar, saber se o candidato tem o conhecimento necessário sobre.
CLAUDIA: A gente vive um momento complicado no país. Surgem aí movimentos que também trazem o tema educação como centro, a exemplo da Escola Sem Partido. Como é a conversa e a relação da organização com grupos assim?
Priscila: Eles não aparecem pro diálogo. É complicado, mas o Todos Pela Educação vem se posicionando contra. Eles usam esse nome, mas a escola tem sim um partido. Quem vai ser contra esse fato? A escola realmente não pode ter partido, mas nessa expressão está embutida sim um partido e uma ideologia própria. Inclusive, nessa ideia, perseguem os professores de esquerda e não fazem essa crítica aos professores que são de direita. Temos que ser razoáveis e pensar sobre qual é a real função da escola.
CLAUDIA: Conte um pouco como a educação como trabalho e objetivo e como surgiu na sua vida.
Priscila: Foi um pouco sem querer. Eu fiz Direito e Administração. O meu trabalho não fazia mais sentido pra mim. Tive uma oportunidade de trabalhar no Ano Internacional do Voluntário, da ONU, e larguei tudo. Foi a melhor decisão da minha vida, e fui trabalhar ganhando bem menos do que ganhava, mas me encantei com o quanto que um cidadão ou um grupo de cidadãos pode influenciar o país, influenciar uma ideia. Aí a partir dessa experiência, comecei a trabalhar com voluntariado na escola, e me veio essa angústia de ver que todo mundo que está ali no dia a dia na escola pública, precisam de ajuda. Todo país que avança em educação tem uma sociedade civil forte, uma população que se mobiliza. Foi aí que o Todos Pela Educação surgiu.
Assista à entrevista completa aqui.
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