Se no Brasil, 70% de todas as garotas que já praticaram algum esporte foram desencorajadas a persistirem por acreditarem que “este não é o seu lugar” – imagine para uma pequena egípcia? Dos 123 atletas que formam a delegação do Egito participantes da Rio 2016, somente 37 são do sexo feminino – o que simboliza uma minúscula estatística de 30%. O motivo do afastamento da maioria delas é, nada mais, do que a obrigação, instituída pelos próprios companheiros, de assumirem o papel de mãe e dona de casa.
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E os empecilhos não acabam por aí: elas também necessitam de que seus companheiros as autorizem a desempenharem qualquer função que não seja a doméstica, sem contar na drástica diferença salarial entre homens e mulheres, e na inflexibilidade do código de vestimenta dos país – que segue os preceitos da linha sunita do islamismo: 90% dos pouco mais de 93 milhões de cidadãos são praticantes da religião. Mas nem todas as pedras no caminho foram capazes de arrefecer a bravura e o talento da jovem dupla egípcia de vôlei de praia, Doaa Elgobashy, de 19 anos e sua parceira Nada Meawad, de 18 anos.
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No jogo que marcou a estreia de ambas, neste último domingo (7), a equipe enfrentou as experientes Laura Ludwig e Kira Walkenhorst, da Alemanha, na Praia de Copacabana, e perderam por dois sets a zero – mas nem de longe a derrota foi o ponto mais importante da partida. Tanto Doaa, quanto Nada, usavam calças (há a necessidade de que a equipe precise jogar com os mesmos trajes) – a integrante mais velha também estava com um hijab, tradicional véu do Islã. E chamaram a atenção por entrarem para a história dos Jogos Olímpicos do Egito: as duas formam a primeira dupla a disputarem as Olimpíadas.
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Doaa e Nada, que treinam a modalidade há apenas um ano e meio, e três meses, respectivamente, estão bastante satisfeitas com o resultado, que poderia ter sido melhor caso disponibilizassem da mesma estrutura e condicionamento da equipe europeia. A jovem de 19 anos também é uma das responsáveis pela posição do Egito na Copa Continental da África – e também leva o mérito de ter sido a primeira mulher, junto com Lames Nossier, a ser laureada com o ouro em uma disputa fora de casa nesta modalidade. O que prova que nem o calor de Copacabana, tampouco as dificuldades e o preconceito, foram capazes de impedir que o sonho dessas meninas fossem adiante!
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