Comer emocional: quando a alimentação vira refúgio
Há quem encontre na comida a solução para fugir de problemas emocionais
Além da comida, o que você coloca no prato? Duas xícaras de tristeza, quatro colheres de felicidade e uma pitada generosa de culpa ‒ esta é a refeição cotidiana de quem encontra na alimentação um refúgio para as suas emoções.
“Desde pequenas, as pessoas ligam os sentimentos à alimentação”, diz a psicóloga Marina Vasconcellos. Pense na situação hipotética: a mãe faz um bolo maravilhoso, enquanto a avó prepara o melhor pudim já visto e o pai cozinha um delicioso arroz doce naquele que seria o dia mais memorável da sua infância. Então, você cresce e sempre que come bolo, pudim e arroz doce tem um pouquinho da felicidade sentida antes. Não há nada de errado nisso.
Buscar prazer na alimentação é normal e, inclusive, um sinal de saúde do ser humano: ela ajuda a aliviar a tensão, pois comer não tem somente uma dimensão fisiológica, mas também emocional e comportamental.
O sinal de alerta aparece, porém, quando essa procura é feita para esquecer dos problemas e tentar lidar com os sentimentos através da comida. “Quando existe alguma dificuldade emocional, algumas pessoas automaticamente procuram recompensas na refeição”, diz ela.
“O problema é que a gente devia lidar com as emoções, não descontar na comida”, esclarece a psicóloga. Este comportamento é conhecido como fome emocional ou comer emocional. Ela normalmente acontece a partir da ingestão de alimentos que trazem uma recompensa maior, identificadas pelo cérebro, como os ricos em gorduras e açúcares. Em seguida, vem o sentimento de culpa ou tristeza por ter ingerido aquilo.
Com estas emoções, a restrição alimentar pode aparecer. “Restrição gera um comer transtornado, porque cria uma relação disfuncional com a comida”, pontua a nutricionista Luna Azevedo. “Elas acabam consumindo muito abaixo das suas necessidades nutricionais e calóricas, levando o organismo naturalmente ao estresse metabólico, com sinais de fome”, completa.
“Isto não é uma estratégia inteligente, porque é preciso comer o suficiente para seu corpo funcionar. E você consegue descobrir quanto precisa através de um acompanhamento nutricional“, acrescenta a profissional.
“Uma rede de apoio profissional é crucial para lidar com essa situação. Muitas vezes, a terapia familiar se faz necessária, porque essa dinâmica pode estar acontecendo por conta de condutas da família, especialmente quando há uma grande preocupação com o corpo, dizendo que a pessoa está muita gorda ou magra, por exemplo”, explica Marina. O primeiro passo é buscar ajuda.