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Dilema na era coronavírus: engravidar agora ou esperar a pandemia passar?

Desde o início da pandemia, muitas mulheres postergaram os planos de gravidez. Mas, o que se sabe sobre os riscos e efeitos da Covid em grávidas?

Por Camila Pati
Atualizado em 1 fev 2021, 12h54 - Publicado em 15 dez 2020, 15h00
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  • Nesta semana, o Ministério da Saúde informou que, por ora, não vai recomendar, em seu plano de imunização nacional, que grávidas e mulheres em fase de amamentação tomem a vacina contra a Covid-19.

    Nas primeiras fases de testes, é comum que grupos considerados de alto risco não participem, segundo a médica obstetra Laura Penteado, diretora médica da healthec Theia. “Agora, com as pesquisas avançando, algumas vacinas estão começando os testes”, diz Laura.

    Se pouco se sabe dos efeitos da vacina em gestantes, é igualmente verdade que ainda são poucas as respostas sobre o comportamento do vírus nas grávidas. O clima de incerteza tem feito muitas mulheres adiarem os planos de engravidar.

    Uma enquete realizada pela Theia em sua base de clientes mostrou que mais de um terço das mulheres, 35%, que estavam planejando engravidar suspenderam os planos por conta do coronavírus.

    É o caso da jornalista Adriana Cavalcanti, de 37 anos. Ela já é mãe de Sabrina – nascida no ano passado – e passou por um parto prematuro extremamente complicado. Por isso, achou melhor esperar. “Sabrina nasceu de 27 semanas, com 800 gramas, era uma gestação gemelar, infelizmente meu filhinho partiu no mesmo dia”, contou ela, cuja gravidez foi fruto de fertilização in vitro.

    Por conta da prematuridade, sua filha ficou mais de 100 dias na UTI neonatal. A falta de vacina e o medo de reviver o trauma de um parto prematuro são os principais motivos para que ela espere mais um pouco, mesmo tendo a preocupação com o fato de já ter 37 anos de idade. “Por conta dessa nova onda de casos em São Paulo e no Brasil, tenho medo de engravidar, pegar essa doença e somar à possibilidade de ter um parto, de novo, prematuro. Tenho essa chance porque o primeiro já foi assim”, diz Adriana.

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    Quais os efeitos do coronavírus nas grávidas?

    Um dos efeitos que se tem notícia da Covid-19 em grávidas é justamente o maior índice de prematuridade. “Em pacientes que contraem a doença no terceiro trimestre de gestação, há maior taxa de prematuridade e baixo peso em bebês, relacionadas à Covid”, diz Laura.

    Recentemente, Romana Novais e o DJ Alok passaram por isso. Raika, filha do casal, estava prevista para nascer em janeiro de 2021, mas, por causa Covid-19, Romana teve parto prematuro. A menina ainda está na UTI neonatal.

    Casos de aborto ligados á doença ainda estão sendo estudados, e não há evidência científica de uma relação. “É um número pequeno nos estudos e por isso ainda não se comprovou o aumento”, diz. Mas, pesquisa recente, publicada em novembro por pesquisadores brasileiros, comprovou, que mulheres grávidas infectadas pelo novo coronavírus têm mais chances de desenvolverem um quadro de pré-eclâmpsia. Complicação potencialmente grave da gravidez, a pré-eclâmpsia, se não tratada, pode acarretar convulsões e, em última instância, a morte da mãe e do bebê.

    Uma pesquisa da Theia feita em outubro deste ano, com mais de 450 mães em todo país, mostrou os principais medos das mulheres grávidas. A incerteza sobre a saúde do bebê foi o fator mais apontado, por 60%, seguido pelo receio de perder o filho, com 50% das respostas.

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    Apesar de preocupante, Laura diz que a pandemia de coronavírus é bem diferente da situação da epidemia de febre zika, em 2015 e 2016. “Naquela época não havia controle e era comprovada a má formação. O impacto de contrair zika era grande. Foi um período que, dependendo de onde a mulher estava, era contraindicado engravidar”, diz Laura. O zika vírus causa microcefalia em bebês.

    Nas pesquisas sobre coronavírus, não foi correlacionado cientificamente que a transmissão cause algum tipo de má-formação fetal. “Há casos em que o bebê nasce e testa positivo. A grande maioria dos bebês é assintomática”, diz a médica.

     O que levar em conta na hora de decidir engravidar ou não

    A decisão de tentar engravidar ou postergar a gravidez por conta da pandemia deve ser individualizada. Segundo a médica, não há resposta certa já que o comportamento do vírus é ainda duvidoso. “A decisão deve levar em conta a idade da paciente e o contexto: com o que ela trabalha, se tem home office, se a exposição ao vírus é pequena, se vai ficar afastada do trabalho presencial durante a gestação”, diz.

    Em relação à idade, a médica lembra que, para aquelas com mais de 35 anos, há uma dificuldade maior em engravidar naturalmente. “Postergar um ou dois anos pode trazer prejuízo no fator reprodutivo. Em pacientes mais próximas dos 40 anos a taxa de sucesso acaba diminuindo”, diz.

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    CLAUDIA consultou três mulheres que estão tentando engravidar, mas que não quiseram se identificar. O fator idade aparece como um receio maior até do que o coronavírus.

     “Meu principal medo era não conseguir engravidar, porque não conseguimos ter controle desse processo como um todo. Tenho medo também da saúde durante a gestação, sei que tudo vai ficando mais complicado com o passar do tempo”, disse uma das mulheres, que tem 38 anos. Os planos, para ela, continuam na pandemia. “Não podemos perder tempo, por conta da minha idade e da reserva ovariana”, disse.

    Outra entrevistada, de 33 anos, e que também está no processo de tentar engravidar disse que teve medo de ficar grávida no começo da pandemia. “Hoje, depois de meses observando o desenrolar dos tratamentos, não tenho mais medo disso, mas penso que é um momento triste do mundo para dar à luz, em que as pessoas não poderiam vir nos visitar para ver o bebê”, diz. Ela segue com seus planos de ter filho. “Já estou com idade próxima aos 35 anos, então não posso esperar muito”, diz.

    Conseguir engravidar e escolher uma boa médica são os dois principais medos desta mulher de 30 anos que também não quis se identificar porque tem medo de que o seu empregador saiba que ela está tentando engravidar. “Não postergamos os nossos planos por causa da pandemia”, afirmou.

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    Além de evitar ao máximo a exposição ao coronavírus, praticar distanciamento social e utilizar as medidas higiênicas disponíveis, as recomendações mais importantes para uma gravidez segura, segundo Laura, são o acompanhamento pré-natal, atividade física e alimentação equilibrada.

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