As 10 dúvidas mais comuns sobre câncer de mama
A médica mastologista Maira Caleffi responde as principais questões sobre a doença, considerada a mais comum entre as mulheres
No Brasil e no mundo o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres. A boa notícia é que cerca de 95% dos casos diagnosticados no início possuem grandes chances de cura, por isso é importante estar atenta e atualizada sobre causas, exames e tratamentos.
Conversamos com a Maira Caleffi, médica mastologista, presidente e fundadora do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (IMAMA) e da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA), para saber como esse câncer ocorre e quais são as causas e tratamentos.
A especialista respondeu as 10 perguntas mais comuns sobre o câncer de mama. Confira abaixo e tire todas as suas dúvidas sobre o tema:
1. O que é o câncer e por que ele surge?
“O câncer é um desarranjo no crescimento das células. Então ele está ligado à idade, ao processo de degeneração e múltiplas mutações. O que mais chama a atenção é que o câncer em geral se trata de células que criam a capacidade de serem imortais, e é por isso que ele é tão temido. Afinal, como a gente vai fazer ele desaparecer para tratar? Porque as células normais nascem e morrem, mas as células de câncer não estão programadas para morrer.
Ele tem um aumento de risco em pessoas mais velhas, quanto mais idade mais chance de ter câncer. Conforme a idade avança, ocorrem mais casos de câncer de mama na mulher. Ele está associado ao excesso de peso, à obesidade, ao sedentarismo, ao abuso de álcool e aos hormônios, principalmente os da menopausa.
As mulheres, atualmente, têm um perfil diferente de antigamente. Isso aumenta também o risco, porque há muitas mulheres que acabam não tendo filhos, ou filhos mais tarde, acima dos 35 ou 40 anos, e isso também aumenta o risco. Então são múltiplos os fatores [para que o câncer ocorra].”
2. Existe alguma forma de prevenir o câncer de mama?
“Não existe prevenção de câncer de mama, a prevenção é de um mal maior, o que chamamos de prevenção secundária. Quanto mais precoce o diagnóstico, menor o tamanho do tratamento, menos impacto e mais chance de cura. Então a prevenção propriamente dita são os exames de rotina e o controle dos riscos.
Os fatores genéticos, germinativos, estão sendo muito estudados atualmente. São os casos em que a gente nasce com as mutações. Eles são, no máximo, 5% a 10% do total. A gente diz que 90% são de origem e de combinações ambientais e que 10% ou menos estão ligados a fatores hereditários.”
3. O que é a mamografia e porque aperta as mamas?
“Mamografia é o único exame de rotina que detecta precocemente o câncer de mama. É o único que foi comprovado ter resultado para diminuir o estágio da doença. Ele aperta porque tem que colocar a mama entre duas chapas, que vão comprimindo a mama para que possam penetrar os raios X, e ver alguma coisa, porque a mama tem muita gordura.
O aperto é rápido e pode salvar sua vida. Fazemos tantas coisas que doem e continuamos fazendo, como botox… A mamografia é o único exame para detectar o câncer de mama.”
4. Quando devo começar a fazer mamografia?
“O Instituto Nacional de Câncer (INCA) afirma que a mamografia deve ser feita a partir dos 50 anos até os 69, de dois em dois anos. Mas muitos especialistas em mama, os mastologistas, tanto brasileiros, como principalmente os norte-americanos, acreditam que o início deve ser mais cedo. Isso porque a metade dos casos de câncer de mama já acontece antes dos 50 anos.
Então, para quem não tem história familiar nenhuma, a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia) recomenda fazer uma mamografia entre 35 e 40 anos para checar que está tudo bem; acima dos 40, anualmente, e não parar com 69 anos como diz o INCA. Se você tiver uma história familiar, um familiar abaixo dos 50 anos, deve começar de 10 a 15 anos a menos do que a idade que o familiar teve. Então, se sua mãe teve aos 40, você começa aos 25.”
5. Tenho casos na família, devo aumentar a frequência de exames?
“É tão frequente o câncer de mama que daqui a pouco todo mundo vai ter um câncer na família, isso não quer dizer que você, pessoalmente, tenha mais risco de ter. Pessoas que têm casos de câncer de mama ou ovário abaixo dos 50 anos, seus familiares são mais propensos a ter câncer de mama. Ou vários casos, três, quatro casos de câncer em geral. É preciso analizar se essas pessoas eram fumantes ou se é ligado à faixa etária. Então, não é todo mundo que precisa sair fazendo exames.”
6. Ter silicone atrapalha o exame?
“Ele pode dificultar o exame físico, de palpação, e ser mais doloroso. É também mais complicado fazer a mamografia, porque com pacientes que têm próteses de silicone é preciso apertar os cantinhos, e não a prótese toda. É importante associar a ultrassonografia sempre, porque tem cantinhos e lugares externos perto do osso do peito e das costelas que a mamografia, para quem usa silicone, não pega.
Existe essa dificuldade, mas não é por isso que as usuárias de prótese tem mais ou menos câncer, a incidência não aumentou. Toda pessoa que vai colocar uma prótese, independentemente da idade, precisa consultar um mastologista. Então a mulher que está pensando em colocar, ou tem prótese, precisa ser paciente de um especialista nessa área.”
7. O exame de toque é realmente eficiente?
“O exame de toque do médico é, o da paciente não, está mais para um autoconhecimento do corpo. Como exame da mama eu não acredito que seja válido e os estudos mostram que não é eficiente. Então a gente até parou de falar de autoexame. Eu não falo de autoexame, eu falo de autoconhecimento do corpo, inclusive da mama. Não importa como você faz, mas você precisa se olhar, apalpar, olhar no espelho e ver se a mama está diferente. É um conhecimento, é se apropriar e se responsabilizar dessa parte do corpo.
É conhecer seu corpo, saber que tem pintas, que o bico está mais para dentro. É muito importante esse conceito de autoconhecimento versus autoexame. Ele não é a mesma coisa e acho que as pessoas gostam muito mais falar de autoconhecimento, ‘eu conheço minhas mamas’.”
8. O uso de anticoncepcional por muito tempo aumenta o risco de câncer de mama?
“A gente já sabe de muitos estudos que foram feitos em populações de mulheres que fizeram o uso de anticoncepcional por 20, 30 anos, e que apresentam riscos. E sabemos também que as mulheres que tomaram mais de 5 anos antes do primeiro filho tem potencial de risco. Então, embora a gente saiba que isso possa agravar, ninguém deixa de tomar, evitando uma gravidez indesejada.
A partir dos 40 anos não se deve tomar, pois vira uma reposição hormonal. Depois dos primeiros filhos, tem que arrumar outro jeito de tomar anticoncepcional, até porque tem outros fatores, como problemas cardiovasculares, varizes e trombose. Há opções, como camisinha, DIU, laqueadura e outros métodos. Então não existe essa história de ficar tomando anticoncepcional para sempre ou até a menopausa.”
9. Quais são os casos em que é necessário fazer mastectomia?
“A mastectomia é o tratamento que também pode ser preventivo. Então existem mastectomias profiláticas, que são cirurgias redutoras de risco – elas não tiram o risco totalmente. Isso é muito importante porque é comum ouvir: ‘Tira tudo de uma vez porque quero que isso nunca mais apareça’. Porém, ela reduz o risco, mas não o elimina totalmente.
Mastectomias, geralmente, são feitas em tumores maiores e, nesses casos, hoje em dia, o tratamento sistêmico começa antes, como quimioterapia, para torná-los menores. Geralmente, tumores retroareolares, atrás do bico e dos mamilos, às vezes levam à mastectomia. Então é uma modalidade de tratamento local e cirúrgico, mas não é a única, têm várias outras. A mastectomia, desde o desenvolvimento da plástica de reconstrução mamária, tem sido muito mais aceita e menos temida, porque os resultados são ótimos.”
10. Quais são outros tipos de tratamento contra o câncer de mama?
“Existem os tratamentos conservadores da mama, se os tumores forem pequenos ou ficarem pequenos depois da quimioterapia, em que são retiradas apenas fatias da mama. Acessamos as axilas, as ‘línguas’ ou linfonodos axilares, que são gânglios axilares, para compreender se a doença só está na mama ou se há outros riscos.
Existem tratamentos complementares de radioterapia, depois de um tratamento conservador por exemplo, sempre tem que tratar o resto da mama com radioterapia. Às vezes, a radioterapia precisa ser feita depois de uma mastectomia, dependendo do estágio da doença. A complexidade do tratamento aumenta conforme o tamanho da doença no diagnóstico. Por isso a importância do diagnóstico precoce, quanto menorzinho o caroço, menos tratamento.”