Marcela Mc Gowan fala sobre a real efetividade dos métodos contraceptivos
A eficácia diminui quando o uso não atende às indicações dos fabricantes, caso de quem atrasa os anticoncepcionais, por exemplo
Na década de 1960, a criação da pílula anticoncepcional gerou uma verdadeira libertação sexual feminina. O uso não só permitiu que o sexo fosse separado da procriação, como também propiciou que as mulheres finalmente tivessem mais controle sobre sua própria fertilidade. Daí em diante, camisinha a látex, DIU, injeções e outros métodos contraceptivos apareceram no mercado, com proteção superior, muitas vezes, a 99%. Junto às opções, surgiram relatos de pessoas que engravidaram mesmo usando os métodos ‒ um fenômeno explicado pelo uso ideal X uso real.
As porcentagens indicadas pelos fabricantes se referem ao uso perfeito do produto. Na prática, elas mudam um pouco quando as recomendações não são seguidas. Conversamos com Marcela Mc Gowan, ginecologista e ex-BBB, e a ginecologista Halime Abdala para entender melhor o assunto.
Marcela exemplifica: “os contraceptivos orais chegam a mais de 99% de eficácia se houver o uso ideal, sem atrasos. Mas isso cai no uso habitual”. E o que está por trás disso? “Assim como outras medicações, o anticoncepcional possui um período de ação no nosso organismo, bloqueando a ovulação ao manter alguns hormônios na corrente sanguínea. Tomando atrasado, você libera espaço para eventualmente ovular”. As falhas também podem acontecer em outros casos, como quando o DIU está mal posicionado dentro da cavidade uterina.
Chance de engravidar usando métodos contraceptivos quando o uso não é ideal
Confira a taxa de eficiência “na vida real” de alguns dos principais métodos, conforme o Índice de Pearl, um indicador específico para o uso real:
- Laqueadura tubária: 0,5 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Implante: 0,5 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- DIU de cobre: 0,8 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Injetáveis mensais: 3 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Pílulas combinadas: 3 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Pílulas progestagênios: 3 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Anel vaginal: 3 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Adesivo: 3 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
- Camisinha masculina: 16 entre 100 mulheres engravidam em 1 ano
Atenção à troca de método contraceptivo
“Durante a troca de um método para outro, é bem comum acontecer uma gravidez indesejada, porque existe um tempo para que o novo passe a funcionar”, explica Halime. Isso varia de acordo com a opção: o DIU de cobre, por exemplo, passa a funcionar na hora que é inserido, enquanto as pílulas podem demorar mais. “O ideal é que a paciente mantenha outro método nesse intervalo de adaptação do corpo, como o preservativo, além de conversar com o médico”, acrescenta ela.
Por que continuar usando preservativo?
“Os preservativos são importantes mesmo para quem já aderiu a algum outro método, porque aumenta a chance de não engravidar e previne infecções sexualmente transmissíveis”, diz Marcela, e reforça: “preservativos femininos e masculinos são os únicos métodos capazes de te proteger contra as ISTs”.
Como escolher o método?
“Além da eficácia, é importante considerar seu estilo de vida e conforto. Algumas pessoas, por exemplo, têm o costume de usar pílulas e, ao colocar DIU, ficam encanadas achando que não estão protegidas”, pontua a especialista. Contraindicações e a própria adaptação também são levados em conta.
Idade importa?
“A idade não é um fator relevante para escolha de anticoncepcional. A paciente em idade fértil pode fazer uso dos diferentes métodos a partir da primeira menstruação”, esclarece Halime. Marcela completa: “o que vai ser ajustado são as características pessoais, a fim de beneficiar as mulheres com as escolhas mais benéficas a elas”.