A alimentação é uma grande dúvida para pacientes com câncer. Sem receber muita informação em consultas, muitos pacientes recorrem à internet e dão de cara com uma avalanche de informações, muitas vezes, sem comprovação científica alguma. Remédios milagrosos, dietas mirabolantes e restritivas são muitos dos mais de 100 mil resultados que aparecem no Google ao se pesquisar alimentos e câncer.
A falta de informação confiável e de fácil acesso foi um dos motivos que levou a médica nutróloga Andrea Pereira, do departamento de oncologia e hematologia do Hospital Israelita Albert Einstein, a escrever o livro “Dieta do Equilíbrio – a melhor dieta anticâncer”. Nele, ela traz dados comprovados por vários artigos e estudos que mostram que não é preciso e nem recomendado apostar em radicalismos.
Embora não existam dietas que curem o câncer, o papel da alimentação saudável e equilibrada na prevenção da doença é, sim, fundamental. Como ela explicou em entrevista a CLAUDIA, a dieta anticâncer segue quatro princípios básicos:
1.Evitar alimentos açucarados e calóricos: “esse tipo de alimento aumenta o risco de câncer em duas frentes. Primeiro: ao consumir uma grande quantidade desses alimentos, vamos apresentar uma probabilidade maior de obesidade e dificilmente teremos um peso saudável. Segundo: o excesso de açúcar no sangue aumenta o risco da doença. Por esse motivo, os pacientes diabéticos descontrolados também têm uma chance aumentada de ter câncer, porque o nível sanguíneo de açúcar deles é alto”, explica.
2.Reduzir o consumo de sal: “o excesso de sal aumenta o risco da doença. Devemos evitar temperar nossa comida com grandes quantidades de sal.”, explica.
3.Aumentar o consumo de frutas, verduras e legumes. “Infelizmente, com o excesso de trabalho e a escassez de tempo, as pessoas cozinham cada vez menos em casa, preferindo comidas prontas”, diz.
4.Reduzir o consumo de carne vermelha e produtos processados: o excesso de carne vermelha (> 500 a 700 g/semana) aumenta o risco de câncer. Equilibrando o consumo de carne branca, vermelha e ovos ao longo da semana, dificilmente ultrapassaremos a quantidade recomendada de carne vermelha. Devemos lembrar que a carne vermelha não é só a bovina. Carne de porco e de carneiro, presunto, salsicha, linguiça, salame e bacon também estão nessa categoria e entram na conta semanal.
No livro, ela dedica um capítulo inteiro para a relação entre a obesidade e o câncer. “No caso de câncer, temos 26 tipos associados a obesidade”, diz. A estigmatização da obesidade só agrava o problema, diz. “O preconceito gera menos pedidos de exames de prevenção de câncer para homens e mulheres por parte dos profissionais da saúde”, diz. Isso associado à falta de estrutura adequada dos laboratórios para atender pessoas com obesidade, leva a diagnósticos mais tardios de câncer, aumentando o mais risco de morte. A seguir, a autora responde a algumas das principais dúvidas em relação à alimentação e câncer:
Como pacientes devem se alimentar durante o tratamento de câncer?
“Durante o tratamento temos que a massa muscular faz muita diferença no prognóstico. Baixa muscular leva a mais efeitos colaterais da quimioterapia; mais complicações pós-cirúrgicas como infecções, óbito e fístulas; mais dias de internação. Para manter uma boa massa muscular devemos ter um consumo adequado de calorias e proteínas, além de atividade física regular”.
Qual o papel da alimentação tanto na prevenção quanto no tratamento do câncer de mama?
“O principal fator de risco para o câncer de mama é a obesidade, tanto para ter o câncer como para recidiva e o aparecimento de um segundo câncer. Então, precisamos evitar o ganho de gordura por parte das pacientes.
Um outro aspecto da obesidade é que ela aumenta o risco de óbito nessas mulheres com câncer de mama, além de aumentar risco de infecção e inchaço após a cirurgia de mama.”
Quais são os alimentos mais cancerígenos que encontramos nas prateleiras do supermercado?
“Os alimentos ultraprocessados e processados tem uma maior quantidade de corantes, conservantes, açúcar, gorduras e sal, além de serem pobres do ponto de vista nutricional, com poucas fibras e considerados uma caloria vazia. E, por todos esses fatores, eles aumentam risco de câncer devendo ser evitados.”
Uma dieta anticâncer é orgânica?
“A maioria dos estudos não mostrou que pessoas que consomem alimentos orgânicos tiveram menos câncer em relação aos que consomem os não orgânicos, porque uma adequada higienização dos alimentos reduz a quantidade dessas substâncias. Embora os agrotóxicos possam aumentar o risco de câncer, isso ocorre com as pessoas que trabalham com esses produtos.”