Menopausa sob controle: terapias hormonais para aliviar essa transição
Para suavizar os baques físicos e emocionais causados pelo fim da menstruação, especialistas prescrevem terapias hormonais capazes de tornar essa transformação quase imperceptível.
Diferentemente do que muita gente acredita, os primeiros sinais da menopausa não começam aos 50 anos, mas cerca de uma década antes. É o início do fim da fase reprodutiva feminina, quando há uma queda na produção dos hormônios sexuais (estrogênio, progesterona e testosterona). Ao longo de dez anos, a mulher enfrenta TPM e fluxo menstrual acentuados, passando à irregularidade do ciclo e outros reflexos incômodos: das ondas de calor, que atingem até 80% das mulheres, à falta de lubrificação vaginal, insônia e alterações de humor. Até hoje, a única solução viável apontada pela medicina para atenuar os sintomas desse período, chamado pré-menopausa ou climatério, é a reposição hormonal.
Indicada há algumas décadas, tornou-se alvo de desconfiança desde 2002, quando um estudo americano relacionou a administração da progesterona ao aumento da incidência de câncer de mama. De lá pra cá, no entanto, a pesquisa foi reavaliada e relativizada. “Muitas falhas foram encontradas. Entre elas, o fato de estudar mulheres em idades já avançadas, com problemas preexistentes e que começaram a terapia em função da pesquisa”, explica Mauro Abi Haidar, chefe da disciplina de endocrinologia ginecológica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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Novas leituras e interpretações da publicação médica levaram à conclusão de que o risco de câncer de mama associado ao uso de terapia hormonal é baixo. Especialmente se comparado aos seus benefícios. O procedimento é hoje considerado seguro e eficaz, desde que se faça um acompanhamento regular e que se respeitem os casos de contraindicação (problemas no fígado, no coração ou histórico de câncer de mama ou endométrio na família). “O alívio proporcionado por métodos alternativos é muito inferior”, afirma a ginecologista Maria Celeste Osório Wender, presidente da Associação Brasileira de Climatério.
O tratamento costuma associar o estrogênio – cuja baixa é responsável pela maior parte dos sintomas – à progesterona, necessária para proteger o útero contra o câncer de endométrio. São muitas as dosagens e combinações possíveis. “O segredo está em considerar a individualidade de cada paciente”, diz Mauro Haidar. Há cinco anos, a maior parte das terapias era feita via oral. Hoje há soluções mais modernas, como o gel e o adesivo, de aplicação tópica. “Como não passa pelo fígado, o hormônio ministrado através da pele não interfere na coagulabilidade do sangue, reduzindo a probabilidade de infartos, AVCs e embolias”, explica Maria Celeste. Com isso, mulheres hipertensas, fumantes, obesas e com risco de trombose, para quem os comprimidos não são indicados, passaram a se valer dos benefícios da terapia. O gel e o adesivo conseguem ainda maior estabilidade do nível de hormônios no sangue, melhorando a qualidade do tratamento.
É possível não só amenizar os sintomas físicos da pré-menopausa mas também evitar o desgaste emocional inerente a essa fase. “Estudos da sociologia e da antropologia revelam que, nas sociedades que privilegiam a juventude, o fim da fertilidade pode ser arrebatador”, afirma o ginecologista Malcolm Montgomery em seu livro …Era uma Vez a Menopausa (Integrare Editora, 39,90 reais). “As mulheres não precisam ser submetidas a esse tabu”, diz. A solução, segundo ele, é não deixar que haja uma queda brusca nas taxas hormonais. Dessa forma, o corpo não percebe a falência dos ovários e faz a transição de forma quase imperceptível.
Em uma conduta mais conservadora, ao se aproximarem dos 40 anos, as mulheres são orientadas a interromper o uso de contraceptivos hormonais para observar se já apresentam sintomas de climatério. Quando eles aparecerem, inicia-se a terapia hormonal. Em oposição, o que Montgomery sugere é que, perto dessa idade, as mulheres passem a usar métodos contraceptivos que suspendam a menstruação enquanto ela ainda é regular. “O tratamento consiste no bloqueio do ciclo, feito mediante a aplicação de implantes subcutâneos, que liberam diariamente quantidades fixas de hormônio”, explica ele. Como qualquer método contraceptivo hormonal, os implantes também melhoram os sintomas da TPM e as irregularidades menstruais. Durante os anos seguintes, a paciente é supervisionada. “No momento em que surgirem as alterações hormonais que indicam a queda da fertilidade, o anticoncepcional será gradativamente trocado pela reposição”, explica Montgomery. A mulher não deixa de passar pelo processo da menopausa, mas já não há janelas para o aparecimento dos sintomas.
Vale ressaltar que os implantes são caros e controversos. “Não há nenhum estudo que garanta a segurança dessa técnica sob o ponto de vista metabólico”, afirma Maria Celeste. Mas é possível obter o mesmo efeito com pílulas anticoncepcionais. “Já existem no mercado duas opções, à base de estrogênio natural, capazes de suspender a menstruação e controlar os sintomas do climatério”, explica. Nesse caso, o medicamento pode ser tomado até os 55 anos – idade em que a chance de engravidar é zero. Ao se interromper o uso da pílula, inicia-se a terapia hormonal, que tem efeitos positivos também na pós-menopausa.
Quem usa contraceptivos comuns, que combinam estrogênio e progesterona, consegue resultados semelhantes se mantiver o tratamento até perto dos 50 anos. Com a diferença de que a menstruação, que nesse caso é decorrência de um ciclo falso, continua a aparecer todos os meses. As precauções ficam por conta das doses de hormônio, que costumam ser maiores nos anticoncepcionais do que na terapia hormonal, aumentando os riscos do uso a longo prazo. “É tudo uma questão de avaliar eficácia e segurança, indicações e benefícios”, pondera Maria Celeste. O que não vale, em hipótese alguma, é sofrer sem necessidade.