Alteração na menstruação afetou 80% das mulheres na pandemia
As alterações no ciclo são devido ao estresse e tensão que a maioria das mulheres vem passando por conta da pandemia da Covid-19, de acordo com pesquisa
Um estudo da Universidade Federal de Lavras (UFLA) identificou que 77% das mulheres tiveram alteração no seu ciclo menstrual durante a pandemia. A pesquisa, coordenada por Bruno Del Bianco Borges, englobou aproximadamente 940 mulheres em idade reprodutiva de cinco regiões do país. As participantes foram divididas em dois grupos: mulheres que tiveram a Covid-19 e mulheres não infectadas.
Em torno de 97% das mulheres avaliadas reclamaram de problemas relacionados à saúde mental. Entre as não infectadas pelo vírus, 98% relataram alterações no ciclo menstrual. No grupo das mulheres que testaram positivo para Covid-19, o percentual foi de 80%.
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As não contaminadas relataram aumento de estresse, ansiedade, nervosismo e insônia. A maioria das mulheres (90%) que tiveram múltiplos novos sintomas relacionados à saúde mental tiveram alterações no ciclo, o que indica a relação entre os dois fatores.
Fernanda Torras Correia, médica ginecologista e mastologista, acredita que estresse e tensão durante o isolamento social são os principais responsáveis por essas ocorrências. “O nosso estado emocional pode impactar na qualidade do ciclo menstrual quando temos estresse, distúrbios emocionais como depressão, ansiedade”, diz a especialista. A alteração menstrual acontece quando há algum tipo de mudança no processo natural que nosso corpo faz até a vinda da menstruação, segundo a médica.
O nosso corpo, diz Fernanda, dá sinais quando nosso ciclo está desregulado. “O momento em que vivemos traz uma carga imensa de ansiedade e estresse, causando mudanças no número de dias do ciclo menstrual, número de dias de menstruação, fluxo menstrual, coloração e odor da menstruação, além de alterações na libido, dependendo dos dias da menstruação da paciente se ela desejar engravidar o ciclo desregulado pode causar dificuldades”, diz a ginecologista.
Como a alteração no ciclo ocorre?
Fernanda explica que o cortisol altera os padrões de secreção de um hormônio chamado GNRH que, consequentemente, altera a secreção de dois outros hormônios essenciais ao funcionamento ovariano e a ovulação: o luteinizante (LH) e o folículo estimulante (nomeado FSH).
“Quando os níveis de LH e FSH são baixos, os ovários podem não produzir estrogênio adequado para ocorrer a ovulação e, consequentemente, a menstruação, causando as alterações no ciclo menstrual. Essas alterações não resultam necessariamente na cessação total do ciclo menstrual, podendo levar desde o início do sangramento antes do esperado (ciclos mais curtos) até atrasos menstruais que duram meses”, pontua.
Uso pílula devo me preocupar?
Mulheres que tomam pílula não experimentam esse tipo de atraso no ciclo menstrual. “Isso porque a pílulas fazem com que as mulheres tenham uma menstruação ‘artificial’, ou seja, a menstruação não acontece pelos hormônios naturais, mas pela ingestão de hormônios contidos na pílula (estrogênio e progesterona) e independe do funcionamento do ovário”, afirma.
Minha menstruação está atrasada e agora?
Atrasos menstruais não são normais e nem sempre significam gravidez, eles devem ser sempre avaliados por um especialista, segundo Fernanda. “Qualquer mulher com atraso menstrual, que não utiliza nenhum contraceptivo, primeiramente deve excluir uma gestação. Excluída a gestação, aconselho a mulher a realizar registros dos ciclos menstruais e qualquer sintoma relacionado a ele, por três meses. Se o seu ciclo menstrual continuar anormal, procure avaliação médica. Se houver parada total da menstruação, vá ao especialista antes desse período”, orienta a especialista.