“Minha filha mais velha foi morar com o namorado, enquanto meu caçula mudou-se por causa da faculdade. A casa, que antes escutava reclamações da falta de espaço para caber todas as tralhas, virou uma mansão. Os chinelos espalhados deram lugar a uma organização que irrita. O silêncio passou a gritar alto. Eu chorei quase 24 horas sem parar. Do dia para a noite, me senti completamente sozinha”, conta a criadora de conteúdo Alessandra Losacco (@alefitmom1), ao relembrar a síndrome do ninho vazio (SNV).
Este termo é dado à tristeza profunda que atinge os pais quando seus filhos saem de casa, segundo a psicóloga Danielle Lamarca. “Assim como a chegada, a partida deles traz a necessidade de reconfiguração do espaço físico e mental. Nesse processo, porém, algumas pessoas apresentam melancolia demasiada e preocupações em excesso, que podem levar a ansiedade e outros problemas psicológicos, é aqui que surge a síndrome.”
Quem passou pela mesma situação foi a influenciadora Angela Dariva (@angeladariva). “O mais velho recebeu a aprovação no vestibular e precisou morar em São Paulo. Naquele momento, senti que estava em uma queda feliz”, diz ela, que explica: “Queda, porque vem o sentimento de estar caindo num buraco vazio, encerrando um ciclo de construção e intimidade. Feliz, porque a gente vibra com as conquistas dos filhos.”
Os sintomas e as consequências da síndrome do ninho vazio
Entre os sintomas mais comuns da SNV, estão tristeza, raiva, choro compulsivo, sentimento de solidão, alterações no sono, alimentação e libido, abatimento e desmotivação. “Os efeitos são diversos, pois cada indivíduo reage de maneira singular”, explica a psicóloga Tabata Labiapari. Alguns pais ficam mais suscetíveis a estados depressivos e a comportamentos compulsivos, como vícios em jogos, álcool e alimentação desregulada.
“Nessa reorganização familiar, também é possível acontecer uma separação do casal, pela falta de adaptação à vida nova ou por discordâncias sobre como agir. Além disso, o próprio filho pode ser afetado, com o sentimento de culpa, ou tendo problemas na atual relação amorosa, no caso da mudança ter acontecido por essa motivação”, completa Danielle.
Mães são as que mais sofrem
Ainda que as mulheres tenham conseguido maior inserção no mercado de trabalho nas últimas décadas no Brasil e tenham outras responsabilidades além da criação dos filhos, a síndrome do ninho vazio ainda é mais frequente entre as mães. Segundo dados do IBGE, em 2016, as mulheres dedicavam uma média de 18 horas semanais a cuidados de pessoas ou afazeres domésticos, 73% a mais do que os homens (10,5 horas), fator que corrobora para a problemática.
Tabata explica que a menopausa é outro ponto que diferencia o impacto da SNV entre homens e mulheres. “Durante essa alteração fisiológica, as mulheres passam por uma fase de transição hormonal que pode afetar negativamente aspectos como autoestima, humor, ansiedade, depressão, energia vital e disposição. E esses sintomas sincronizados com os da SNV podem deixar tudo mais intenso.”
“Um fator importante é que, independente do gênero, normalmente o perfil de quem sofre do problema são pessoas dedicadas quase que exclusivamente aos cuidados da família, sacrificando em excesso os próprios interesses”, acrescenta.
A dor passa: as mães que tiveram Síndrome do Ninho Vazio contam
“É o começo de outro ciclo, mais distante, cheio de incertezas, dúvidas. ‘Será que meu filho está pronto? Será que vai dar conta?’ pensamos. Ninguém está pronto, mas a vida é um eterno processo de aprendizagem”, pontua Angela. Ela ainda diz: “Superar esse momento, um segundo corte do cordão umbilical, nos cobra confiança no que ensinamos a eles.”
Alessandra é prova de que tudo passa: “no começo, pipocavam memórias das crianças almoçando depois da escola, dos beijos de boa noite e dos cafés da manhã na correria. Naquele momento, eu estava sentindo falta de tudo e sabia que era um caminho sem volta, porque nunca será como antes. E dói, dói muito, mas também ficamos felizes com o que está acontecendo. É um misto de emoções inexplicáveis, que vai da dor mais profunda à alegria mais intensa de ver que cresceram”.
No momento de transição, ela aproveitou para se dedicar aos estudos, aprofundar seus conhecimentos e investir no Instagram. Ainda foi convidada para escrever dois livros e hoje permanece focada naquilo que deseja.
Luana buscou foco em si mesma, sempre admirando o filho: “Espero ansiosamente pelos passos do João na construção da vida dele, sentindo aquela dor do distanciamento, mas também aquele prazer de ver um homem cheio de valores surgindo. A porta do quarto está sempre aberta, a das oportunidades também. Até porque a vida é assim, um constante recomeço”.
Como é feito o diagnóstico?
“O diagnóstico da síndrome do ninho vazio é feito quando os sintomas prevalecem por mais de seis meses após a saída dos filhos”, esclarece Tabata. Muitas vezes, porém, há uma confusão com outros transtornos, como depressão, e problemas que surgem com o avanço da idade ou por conta de questões conjugais, segundo a psicóloga.
Prevenção contra a síndrome do ninho vazio
“Antecipar os efeitos da Síndrome é a melhor prevenção contra a SNV”. Os pais podem, antes mesmo da saída do filho de casa, procurar por novos interesses, atividades prazerosas, ampliação do contato social e terapia.
Como superar a síndrome do ninho vazio?
A saída é a terapia e, em casos mais graves, medicação psiquiatrica, de acordo com Danielle. “Encontrar pessoas que estão passando pelo mesmo processo também é importante, além de conversar com os filhos antes e depois da saída, sem pressioná-los”, conclui a especialista. No final, dedicar a si é valioso, e entender que os filhos foram feitos para construírem o próprio futuro, também.