No último domingo (1º), uma declaração do influenciador Carlinhos Maia tornou-se um dos tópicos mais comentados do Twitter. Em um vídeo publicado no stories do Instagram, ele criticou adolescentes que têm pensamentos suicidas, chamando-os de imbecis. “Venha perguntar a uma mulher de 75 anos, que até hoje trabalha, sustenta os netos, tá varrendo o quintal, catando latinha na rua para sustentar os bisnetos. Venha perguntar se ela se matou com 16 anos”, diz ele.
Carlinhos tem mais de 16 milhões de seguidores no Instagram e é incrivelmente popular entre os adolescentes. Sendo assim, esse tipo de declaração irresponsável reverbera com força – e isso é bem problemático.
O suicídio ainda é um tema cercado de tabus e palavras de desprezo, como as do influencer, só pioram o sofrimento de quem pensa em tirar a própria vida. Mas, tendo isso em mente, a pergunta que surge é: como eu posso ajudar alguém numa situação assim?
Para o psiquiatra Carlos Felipe de Oliveira, que é diretor da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio e atua junto ao CVV (Centro de Valorização da Vida), o primeiro passo é não desqualificar a dor do outro. Ao perceber que alguém próximo a você está apresentando sinais de profunda tristeza e descrença em relação à vida não trate isso como algo sem importância, algo que pode ser revertido simplesmente com força de vontade. “Tem que estar claro para você que aquela pessoa está sofrendo e que ela pode estar passando por um processo de depressão”, aponta o médico.
Isso obviamente também se aplica a outro tipo de situação: quando alguém próximo tentou cometer suicídio. Em casos assim, é muito comum que as pessoas comentem que aquela pessoa não queria realmente se matar, mas apenas chamar a atenção. “De fato, aquela pessoa quer chamar a atenção, mas não no sentido de ‘se mostrar’. Ela quer chamar a atenção para a profunda dor que está sentindo“, diz o psiquiatra. Ou seja: é um pedido de socorro.
Tendo isso em mente, depois de compreender a gravidade da situação, o segundo passo é mostrar-se realmente disposto a ajudar. Mas como fazer isso sem ser invasiva? Para o psiquiatra, uma conversa franca e amorosa ainda é o melhor caminho. “Eu sou solidário com o que você está passando. Não estou sentindo a sua dor, mas quero te ajudar com isso”, sugere Carlos como boa forma de mostrar apoio. E repare nessa parte importante: não tente dizer que você sabe pelo que aquela pessoa está passando, afinal, você realmente não sabe.
Ah, e falar coisas como “tenha força de vontade” e “daqui a pouco isso passa” definitivamente não é a solução. “Isso desqualifica a dor do outro”, frisa Carlos.
O médico também aconselha que você conte a mais alguém sobre o que está acontecendo. Alguém que tenha muita intimidade com a pessoa deprimida e que seja de total confiança, lógico. Mas isso não seria uma maneira de expor um assunto íntimo sem consentimento? Carlos é enfático em dizer que não. Quando um ente querido está lidando com depressão e angústia profunda, pedir o apoio de mais alguém é o mais sensato a se fazer.
Essa medida é ainda mais importante nos casos em que a pessoa deprimida tem dificuldade de se abrir com você. Em conjunto é mais fácil ver a melhor forma de se aproximar e ajudar quem precisa. Obviamente isso não significa que você tem o direito de sair por aí espalhando a intimidade dos outros. Bom senso, né?
O próximo passo é aconselhar a pessoa deprimida a buscar acompanhamento profissional. Uma rede de apoio e afeto é algo que ajuda muito quem está deprimido e pensando em tirar a própria vida, mas isso não significa que amor e palavras bonitas vão resolver o problema. Tratamento é essencial! Carlos diz que a pessoa pode buscar um psicólogo ou ir direto ao psiquiatra, o que importa é entrar em contato com o profissional que deixe o paciente plenamente confortável.
O médico também chama a atenção para outro ponto importante: não deixe a pessoa deprimida sozinha. Mesmo depois que ela iniciar o tratamento, se faça presente e continue mostrando que você se importa.