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@Eco.fada, a influencer que prega veganismo com consciência social

Ellen Monielle, de 23 anos, ensina nas que comer de forma saudável e sem animais pode ser barato e acessível

Por Joana Oliveira
Atualizado em 1 nov 2022, 16h21 - Publicado em 1 nov 2022, 10h00
Ellen Monielle, a @eco.fada.
Ellen Monielle, a @eco.fada. (Arquivo pessoal/Reprodução)
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Tudo começou com uma conta no Instagram para ensinar receitas veganas para os amigos e mostrar como uma alimentação livre de produtos de origem animal pode ser barata e acessível. Foi assim que Ellen Monielle, de 23 anos e natural de Natal (RN), transformou-se na @eco.fada, uma influenciadora com quase 40 mil seguidores que propaga um veganismo popular e com consciência social. “Comer como ato político” é o seu lema. “Comer como ato político é saber que tudo que você come gera um impacto econômico, ambiental, social. E, a partir desse conhecimento, passar a se alimentar de forma consciente, entender melhor, por exemplo o ciclo do alimento até ele chegar no nosso prato”, diz. A conversa com CLAUDIA durante uma viagem de imersão em Tumbira, comunidade ribeirinha do Amazonas, organizada pelo Creator’s Academy, que conecta pessoas aos biomas brasileiros.

Ellen é formada em Relações Internacionais, mas sempre focou os estudos em temas como diplomacia alimentar, desigualdade e fome. Ela, que se apresenta como uma ativista antiespecista (ou seja, luta pela igualdade de direitos entre os animais humanos e não humanos), entende que falar de veganismo significa falar de justiça social e desigualdades. Ainda mais num país onde 33 milhões de pessoas passam fome. “É muito difícil chegar com esse papo de alimentação vegetal para quem mal tem o que comer no prato. Quando uma pessoa que está passando fome consegue comprar alguma coisa no mercado, ela não vai escolher uma fruta, mas provavelmente um alimento ultraprocessado, que geralmente é mais barato e vai saciar a fome dela”, reconhece.

E ela não gosta dessa história de “comida de verdade”. “Tudo é comida de verdade. O que a gente tem que questionar é a qualidade desse alimento. Sempre tento furar esses discursos para não propagar uma narrativa do veganismo como algo elitista.” Uma armadilha na qual ela mesma já caiu. “Quando eu tinha 12 anos, vi um vídeo de animais sendo abatidos e, a partir dali, comecei a repensar o consumo de todos os produtos de origem animal. Mas, naquela época, só achava conteúdo de blogueiras brancas, que comiam coisas muito caras e faziam receitas complexas”, lembra. Até a questão regional era um empecilho: era difícil achar os mesmos alimentos em Natal. “Uma vez, andei a cidade toda com meu pai, tentando achar framboesa e blueberry para comprar. Quando afinal encontramos, era muito caro. E eu baseei meu veganismo nisso, em frutas que nem sabia o nome e produtos industrializados.”

Foi ao entrar em contato com pessoas que praticam agricultura familiar e de subsistência que Ellen aprendeu, realmente, sobre alimentação saudável, a variedade alimentar do reino vegetal e o quanto pode ser barato e acessível comer bem. E, então, ela decidiu propagar esse conhecimento. “É importante mostrar que tem gente preta e periférica, nordestina, como eu, fazendo parte do veganismo, falando disso”, reivindica.

Frequentadora de eventos internacionais, como a Conferência pelo Clima (COP), a jovem lamenta que o norte global tenha “engessado” a ideia de sustentabilidade, ao ditar o que significa ser ou não sustentável, com base exclusivamente em parâmetros europeus. “A comida atravessa muito mais do que meramente os aspectos de nutrição, e isso não é contemplado nessa visão. Ela tem um papel afetivo, social, de nutrir para além do estômago”, explica. Por isso ela rebate o racismo e a intolerância religiosa presente em parte do movimento vegano, que aponta o dedo para religiões de matriz africana que utilizam produtos de origem animal em sua gastronomia e em seus rituais. “Foi esse racismo que fez eu me afastar um pouco de conteúdos sobre veganismo e focar mais na cadeia da alimentação no Brasil e suas muitas desigualdades”, conta.

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Em seus estudos e pesquisas, Ellen descobriu como a colonização e o racismo estrutural proveniente dela estão intrinsecamente relacionados também ao direito à alimentação de qualidade no país. “Antes de serem sequestrados e trazidos ao Brasil como escravos, os africanos que aqui chegaram tinham uma dieta majoritariamente baseada em plantas, e isso foi se perdendo ao logo da colonização. Hoje, o povo preto é maioria nas comunidades vulneráveis e estão comendo o alimento ultraprocessado do branco, tendo o maior nível de incidência de doenças cardiovasculares e diabetes”, explica.

Por isso, Ellen produz conteúdo para conscientizar a todos sobre a necessidade de políticas públicas de nutrição, a começar por uma educação alimentar nas escolas. “Não precisa todo mundo ser, necessariamente, vegetariano ou vegano. Precisamos é de políticas nutricionais de base, para que as pessoas aprendam na escola, desde pequenas, que é possível se alimentar de forma mais saudável para nós e para o planeta.” Ela celebra a existência de projetos como o Favela Orgânica, no Rio de Janeiro, que busca modificar a relação das pessoas com os alimentos para evitar o desperdício, preservar o meio ambiente e conscientizar sobre cada etapa do ciclo alimentar. “Para além da questão animal, essa é uma luta por comida sem veneno no prato dos trabalhadores, pela preservação dos nossos recursos naturais e pelo direito básico à alimentação mesmo”, conclui.

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