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Equidade financeira: classe e raça interferem na desigualdade das finanças

As diferenças entre as próprias mulheres, principalmente quanto a raça, precisam vir à tona também na hora que o assunto é dinheiro

BAIXE O EBOOK 10 nov 2023, 07h41
A busca pela equidade financeira ultrapassa gêneros, precisando também abordar raça  (Getty Images/Reprodução)
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São sete anos frequentando antessalas de consultórios médicos e terapêuticos. É uma conta fácil: um ano a menos do que a idade do meu filho. Conversando com quem também espera, é como se eu participasse de uma espécie de laboratório no universo feminino, nas diferentes concepções de família e de estruturas da sociedade, uma vez que quem cuida do filhote e o leva nas consultas ou sessões são majoritariamente mães, avós e babás. Nesse período todo, com jeitinho, tento puxar um assunto que é tabu entre todas elas: o dinheiro.

Acumulo muitas reflexões e constatações. Uma delas é que a independência financeira é (ou deveria ser) um pilar da vida de todas, apesar de classe e raça.

Mas, triste dizer, mulheres de grupos historicamente marginalizados enfrentam desafios adicionais. São casos que vão da não promoção aguardada no trabalho até a não liberação de crédito bancário para empreender.

O empoderamento financeiro passa a ser uma ferramenta ainda mais significativa para essas mulheres em sua busca por equidade e justiça. A capacidade de controlar as nossas finanças — e a luta para que outras também possam — pode proporcionar liberdade, segurança e dignidade para todas. 

Sim, troquei a palavra igualdade por equidade. Embora os conceitos estejam relacionados, o significado é mais complexo. A igualdade de gênero, por exemplo, refere-se à ideia de que todos os indivíduos devem ter os mesmos direitos, oportunidades e tratamento em todas as áreas da vida, incluindo educação, emprego e vida familiar. Mas será que essa paridade parte de um mesmo lugar, de uma mesma condição?

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A equidade de gênero, por outro lado, reconhece que homens e mulheres, que brancas e pretas, que cis e trans, carregam contextos distintos e começam de pontos diferentes devido às desigualdades históricas e sociais.

O que fazer para que todas possam atingir o mesmo nível de oportunidades e acessos? Até mesmo ali na antessala do consultório, é possível reconhecer os variados pontos de partida e a necessidade de abordagens diversas para que alcancemos a equidade.

O empoderamento passa por aprender a dominar seus próprios recursos, economizar, planejar e investir

Paola Carvalho
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De volta ao consultório, optei pelo silêncio. Uma mãe, de olheiras escuras, aconchegou-se no sofá, escorou a cabeça na parede. Tirava um breve cochilo durante a terapia de 45 minutos do filho atípico.

Despertou antes do fim da sessão com o barulho de crianças no corredor e me olhou buscando talvez um colo, talvez o balançar da cabeça ao concordar com o que ela tinha para dizer.

“Pego serviço daqui a pouco, não vou dar conta. Vou ter de interromper a minha carreira, pedir transferência do cargo de gestão para outro com carga horária menor, não sei. Descobrimos o autismo dele faz pouco tempo, é preciso se dedicar ao tratamento agora, né?” Conversamos. 

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Em um outro dia, de novo optei pelo silêncio. Dessa vez, a mãe precisava desabafar. Aquele momento eufórico de colocar tudo para fora, sabe? Sentada no mesmo lugar do sofá, vestida com roupa de ginástica, contava os planos sobre o seu sabático profissional.

“Estou aproveitando esse momento que eu tenho que cuidar do meu filho para também cuidar de mim. Consegui uma licença que, mesmo não remunerada, será boa para atravessar essa fase”, concluiu.  

Não preciso ser óbvia sobre a diferença entre as histórias dessas duas mulheres. “Imagine a dor, adivinhe a cor”, já dizia a estampa da blusa que uma amiga faz questão de vestir. 

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A equidade financeira envolve a tomada de consciência não só da protagonista da história, mas também de todo o elenco que a envolve e, a bem da verdade, de toda a sociedade.

O empoderamento, esta palavra tão banalizada hoje, passa por aprender a dominar seus próprios recursos, economizar, planejar e investir, mesmo diante de tantos atravessamentos e sobrecargas.

Por isso, é algo que precisa ressoar além, chegar a todas as classes, gêneros e raças, estejam elas nos consultórios, nas famílias, nas empresas, no governo ou em qualquer outro lugar.

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