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Tayná Leite: “Olhar para desigualdade de gênero sem falar em raça é erro”

Uma conversa sobre desigualdade com a líder de Direitos Humanos do Pacto Global da ONU no Brasil

Por Naiara Taborda, direto de Nova York*
Atualizado em 20 mar 2024, 11h27 - Publicado em 20 mar 2024, 08h07
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  • Acelerar o alcance da igualdade de gênero, focando na redução da pobreza e investindo em mulheres – o objetivo proposto pela Organização das Nações Unidas não é simples, e nem parece próximo de ser realizado. Para chegar lá, é preciso unir diferentes frentes, dos governos às empresas, integrando ações e ampliando debates ainda vistos como incômodos, mas essenciais. Este, aliás, foi o grande objetivo do side event realizado no último dia 14 pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil, com apoio do Youtube, que reuniu lideranças e corporações em uma tarde de debates e trocas em Nova York. 

    Criado em 2003, o Pacto Global da ONU – Rede Brasil é uma iniciativa para acelerar a jornada de sustentabilidade das empresas participantes da rede, a partir do compartilhamento de boas práticas, jornadas de capacitação e oportunidades de trocas.

    “As empresas são essenciais nesta conversa sobre aceleração da ODS 5, que trata da igualdade de gênero, e da agenda como um todo. A gente precisa entender como o capital está chegando na economia, para quem ele chega, como ele chega e em que quantidade”, diz Tayná Leite, líder de Direitos Humanos do Pacto Global da ONU no Brasil. 

    Os dados da ONU Mulheres e ONU DESA deixam claro a urgência do assunto: se os padrões atuais persistirem, prevê-se que aproximadamente 8% da população feminina global (342,4 milhões de mulheres) viverá com menos de 2,15 dólares por ano/dia até 2030.

    No Brasil, segundo dados do IBGE, as taxas de pobreza caíram de 36,7% para 31,6% em 2022. Porém, considerando os dados da população negra, 40,0% eram pobres em 2022, o dobro da taxa da população branca ( 21%). O arranjo domiciliar formado por mulheres pretas ou pardas, sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos concentrava a maior incidência de pobreza: 72,2% dos moradores desses arranjos eram pobres.

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    Por este motivo, falar de desigualdade de gênero sem considerar a cor da pele é missão quase impossível por aqui. “Nós temos questões de raça e gênero que precisam ser consideradas causas e não só sintomas. É um erro comum achar que resolvendo desigualdade social você resolve gênero e raça, quando na verdade é muito mais provável que aconteça o contrário”, aponta.

    “Nosso papel é mais do que reclamar, é conseguir avançar juntas e oferecer soluções e caminhos. Muitas questões são globais, mas a primeira especificidade do Brasil é que o racismo funda a nossa sociedade. Talvez nenhuma outra tenha se estruturado em cima da escravização de pessoas por tanto tempo quanto a nossa, e depois da suposta abolição legal e formal não tivemos políticas públicas por muito tempo para essa população. Não olhar para raça enquanto um problema central na desigualdade de trabalho é um equívoco que agora a gente está começando a corrigir.”

    No último Observatório 2030, criado pelo Pacto Global – Rede Brasil para apoiar o setor empresarial com dados e evidências para fortalecer as ações empresariais rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), apenas 9 das 109 empresas reportaram dados sobre colaboradoras negras em seus quadros funcionais no 2º ciclo – acendendo um alerta. 

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    “Estamos falando de empresas signatárias do Pacto, com relatórios robustos, ou seja, o crème de la crème empresarial, e só 3% reportaram. Por que? Porque não tem, e isso é muito constrangedor. Se olharmos para a base da pirâmide empresarial, certamente fica pior. É importante que a gente olhe para isso de maneira separada, mas também integrada. Este é o lugar do pacto: temos este problema, é vergonhoso, como vamos mudar isso? Sabemos que eventos não mudam o mundo, mas colocar tanta gente influente em um mesmo local debatendo tudo isso tem o potencial de nos ajudar a chegar lá”, finaliza.

    * A jornalista viajou a convite do Youtube

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