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3 erros e 3 acertos da educação autoritária de uma mãe chinesa

Uma chinesa muda o significado da palavra supermãe e garante que a tolerância zero é o melhor caminho. Nossos especialistas avisam: Amy Chua, autora do livro Grito de Guerra da Mãe-Tigre, erra feio em algumas coisas, mas também acerta.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 01h25 - Publicado em 7 abr 2014, 22h00
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  • Será que vem aí uma nova revolução na educação?
    Foto: Getty Images

    Se a professora de direito Amy Chua, americana de origem chinesa, tem um objetivo na educação de suas filhas, ele é garantir que Louisa, 18, e Sophia, 21, sejam, no mínimo, o máximo. Se possível, melhores que o máximo. Ameaçar, chantagear e até xingar faz parte do kit de estratégias dela. Os detalhes de seu polêmico método estão no livro Grito de Guerra da Mãe-Tigre (Intrínseca), que e é best-seller nos Estados Unidos. Nas primeiras páginas, Amy explica: “O tigre, símbolo da força e poder, em geral inspira medo e respeito”. O que ela não esperava é que pudesse causar também indignação. De mães de todo o mundo.

    Qualquer mãe brasileira que se considere linha-dura sente-se uma manteiga derretida perto da rigidez de Amy. Proibir as meninas de ver TV ou jogar no computador. Chamá-las de lixo. Devolver o cartão de aniversário que elas fizeram justificando que deveriam ter caprichado mais. Não aceitar nenhuma nota que não seja A – resultado insatisfatório é sinônimo de preguiça. Ela escreve: “Essa possibilidade (de fracasso) não é tolerada. O modelo chinês se baseia no sucesso. É assim que o ciclo virtuoso de confiança, trabalho duro e mais sucesso é gerado”.

    Para quem a questiona, alardeia o desempenho de suas pupilas: Sophia já se apresentou um concerto de piano no Carnegie Hall. Louisa, além de talentosa violinista, é a primeira aluna da sala. As duas estão em harmonia com o tal modelo chinês que a mãe persegue. Amy Chua é louca ou sábia? Temos alguma lição a aprender com ela? Será que tudo o que pensamos (e fazemos) ao educar nossos filhos está errado? Entrevistamos craques em busca da resposta. Confira!

    Sim, a mãe-tigre tem razão porque…

    …Participa ativamente da educação

    Temos cada vez menos tempo para ficar com os filhos. Envolvidos na maratona de tarefas do dia a dia, muitos pais terceirizam boa parte daeducação para a escola, a babá, a avó… Amy pode não usar os melhores métodos para formar Sophia e Lulu, mas acompanha de perto o processo deaprendizagem delas – e isso merece aplauso. “Educar não é simplesmente dizer qual é a norma, é fazer com que ela seja cumprida. Essa mãe participou da criação dos hábitos das filhas. Há uma lição para tirar daí”, aponta a psicopedagoga Maria Irene Maluf, de São Paulo. Outro mérito deAmy: ela acredita em sua maneira de conduzir a educação e passa essa segurança para as garotas.

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    …Decide o que é bom para as filhas

    Mais um ponto positivo no boletim de Amy é o fato de ela assumir a escolha do que considera melhor para as meninas. Determina, por exemplo, as atividades extracurriculares delas. “Até certa idade, essa é mesmo funçãoda mãe”, acredita o diretor pedagógico Marcelo Cunha Bueno, da escola deeducação infantil e ensino fundamental Estilo de Aprender, em São Paulo. Uma criança precisa de direção, de parâmetros. “Ela não tem responsabilidade para escolher sozinha. O certo é dar um menu de opções”, diz Maria Irene. Mas é preciso que os pais estejam convencidos de que aquelas são as melhores opções.

    …Não exagera na proteção

    Amy não cansa de alfinetar os pais ocidentais: “Tenho notado que eles são extremamente preocupados com a autoestima de suas crianças. Tentam constantemente assegurar a elas que são boas, mesmo que tenham ido mal numa prova”. E a crítica dela procede, pois a alta dose de proteção pode ter efeitos desastrosos. “Há uma supervalorização da autoestima”, concorda Bueno. “As famílias criam bolhas que afastam as crianças dos problemas. Com isso, impedem que elas entrem em contato com situações difíceis, importantes para o desenvolvimento.” A psicopedagoga Maria Irene acrescenta: “Ela quer chamar a atenção para quanto estamos sem rumo na educação, quanto premiamos por premiar. Temos uma exigência mínima quedá tudo e não pede nada em troca”. Se você precisa de mais um motivo para cobrar disciplina e começar a desenvolver o senso de responsabilidade dos seus pequenos, aí vai: crianças responsáveis provavelmente viverão mais. É o que garante um estudo recente conectando personalidade e expectativa de vida, o Longevity Project, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Então é hora de pegar o chicotinho e começar a jogar o jogo duríssimo da chinesa? Não, esse não é o melhor caminho. A fim de não cair nos erros que vê os ocidentais cometendo, ela opta por uma conduta que vai para o outro extremo. E peca também, como você verá a seguir.

    Não, a mãe-tigre não tem razão porque…

    …Usa a violência para ensinar

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    Obrigar a filha a treinar três, quatro horas seguidas de piano sem poder ir ao banheiro, chamá-la de “patética” e “lixo”. Para Amy, nada será prazeroso até que esteja dominado. O educador Marcelo Bueno discorda. “Claro que o processo de aprendizagem não é diversão. No início, é preciso superar dificuldades. Mas sou a favor de propor o desafio, de estimular a criança a ter o gosto por aquilo que ela não sabe. No caso das filhas de Amy, é o medo que as move. Elas simplesmente reagem a isso, viram vítimas e não aproveitam o caminho para atingir o objetivo”, explica Bueno.

    …É obcecada pelo primeiro lugar

    Amy exige que as filhas atinjam o mais alto grau de qualidade, nas mais variadas disciplinas e atividades. Para isso, usa métodos terríveis. O equívoco é considerar a criança forte o bastante para suportar altas doses de pressão. Pior: achar que ela precisa disso para se sentir motivada. “Todo mundo precisa de coragem para se superar, mas há limites… Isso pode não ter afetado as filhas dela, mas é uma tremenda arrogância, uma intolerância com as diferenças pessoais”, alerta o professor Nilson José Machado, titularde pedagogia da Universidade de São Paulo. “O ‘bestismo’, que vem do termo the best (em inglês, o melhor), prega que temos que ser os primeiros em tudo, e isso é impossível. Prefiro o princípio de fazer o melhor que for possível.” O psiquiatra e educador Içami Tiba, autor do livro Família de Alta Performance (Integrare), também questiona esse comportamento. “Duas crianças tiram nota 7 em uma prova. Se uma delas tem competência para tirar 10, é preguiçosa. Se a outra só consegue tirar 6, se esforçou, deu o máximo de si”, pondera.

    …Impõe suas vontades sem dó

    Conforme cresce, a criança deve exercitar a autonomia para aprender a escolher. E Amy merece nota zero porque atropela as filhas com normas. Para Tiba, a imposição não ensina responsabilidade. “Ao tentar fazer as coisas do jeito que a mãe manda, o jovem perde o senso de organização interna, que é mais importante do que a que vem de fora. Isso atrapalha o desempenho.” Louisa já deu pistas de que a mão de ferro da mãe não traz felicidade. Certa vez, aos 13 anos, ela lhe disse: “Eu odeio a minha vida, odeio você!” Em seu consultório, o pedagogo e psicólogo Josef David Yaari,de São Paulo, recebe muitas pessoas com carreiras brilhantes, mas que se sentem derrotadas. “Não se pode falar de sucesso profissional quando se está infeliz no resto.”
     

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