Deixe uma caixa de lápis de cor e uma folha de papel em branco diante de uma criança para ver o que acontece. Mesmo a mais inibida logo soltará a imaginação – e, pode acreditar, o resultado, por mais rudimentar que seja o desenho, será um belo retrato de seus sentimentos e emoções no momento. O mais bacana é que ninguém precisa ensinar uma criança a desenhar. Parece que todas já nascem sabendo e com a consciência de que é algo muito divertido. “Penso que o atrativo está no fato de que, ao desenhar, a criança traz imagens mentais para o papel. Transforma o que tem na sua imaginação em uma linguagem artística, criando sua obra de arte e ainda deixando registrado o que está sentindo, pensando ou desejando”, explica a psicopedagoga Maria Cristina Natel, vice-presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia/Seção São Paulo. “Ou seja, desenhar é comunicar aquilo que não pode ser dito por palavras.”
O pacote de emoções que vai parar no papel é vasto e inclui medos, tristeza, alegria e ansiedade. Traduzir exige atenção dos pais, mente aberta e coração disponível. Quando não há formas definidas, por exemplo, é a própria criança que fornece as informações mais valiosas. “Para ter ‘olhos para enxergar’ o que o desenho parece querer mostrar, a família deve ficar atenta às histórias que os filhos contam sobre aquilo que desenharam, além de observar cores, traços e formas. O desenho pode ser o início de uma boa conversa sobre emoções e sentimentos.” Em alguns casos, será preciso buscar a ajuda de um profissional para entender as mensagens.
A melhor parte é que não precisa muito para fazer uma criança desenhar. Mas os pais podem, claro, dar uma forcinha para estimular o artista adormecido. Confira, a seguir, cinco dicas da especialista para que seu filho desenhe mais e mais:
1. Valorize qualquer desenho. Não importa que pareça um simples rabisco. O que vale é a diversão – que não será menor porque a criança não produziu uma obra de arte. E lembre-se de que a imagem revelará muito sobre seu filho.
2. Crie o ambiente certo. Proporcione um espaço atraente e confortável. Crianças até 2 anos, por exemplo, preferem rabiscar livremente em superfícies lisas e sem limites – o apoio pode ser uma mesa espaçosa ou até mesmo o chão. “Embora a imaginação e a diversão não dependam de recursos externos, quanto mais estimulante for o local, maiores serão as oportunidades de exploração e aprendizagem.”
3. Ofereça recursos. A mesma lógica do ambiente vale para os materiais de desenho. A criança não depende de papéis incríveis e um conjunto luxuoso de lápis, com 36 cores ou mais, para se divertir. Mas, quanto mais recursos e suportes disponíveis, maiores as possibilidades de criação.
4. Fuja de modelos. Evite oferecer imagens para copiar e sugerir temas para o desenho. “Isso mata a espontaneidade e impede que a criança revele senso crítico. Melhor incentivar a autonomia.”
5. Não dispense os livros com desenhos prontos. Mas saiba que esse é um recurso para os mais velhos. Não há uma idade certa, mas é preciso ver se a criança já adquiriu certas habilidades. “Para colorir, ela precisa ter coordenação, conseguir respeitar os limites do traçado e saber segurar corretamente o lápis ou giz de cera.” Mas não se esqueça: esses livros nunca serão tão estimulantes quanto o papel em branco.
Segundo a psicopedagoga Maria Cristina, porém, o mais importante é que os adultos concedam o máximo de liberdade à criança para desenhar ou brincar de outras coisas. E saibam respeitar o tempo dela. “A brincadeira só tem valor se for espontânea e prazerosa, jamais uma obrigação.”