As mulheres já representam 58% dos brasileiros com curso superior. O que, de alguma forma, nos levaria a pensar que atingem cargos e salários mais altos em suas carreiras. Na prática, no entanto, é bem diferente: elas ganham, em média, cerca de 27% menos que os homens nas mesmas posições. E ocupam só 37% dos cargos em níveis de gerência. “À medida que atingem o topo da pirâmide salarial, as mulheres enfrentam mais desigualdade em relação aos homens”, observa Hildete Pereira de Melo, Coordenadora do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero da Universidade Federal Fluminense.
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Confira, abaixo, na CALCULADORA DE SALÁRIOS, desenvolvida por CLAUDIA e MdeMulher, quais as diferenças salariais de acordo com gênero, raça, profissão, rendimento por atividade principal e idade. Os dados foram calculados a partir da Pnad 2014.
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Não são poucos os motivos que geram as diferenças. Veja, aqui, os principais deles.
1. Estereótipos de gênero
“Meninas não gostam de matemática.” “Homens devem ser fortes e agressivos.” A criação de papeis sociais é extremamente limitadora – embora, muitas vezes, passem despercebidos. Na prática, permanecem bastante presentes. “Quando as mulheres são tão agressivas quanto os homens no mercado de trabalho, são julgadas como ambiciosas, masculinas. Isso é uma construção social que acontece por conta do gênero”, diz Nadine Gasman, representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil. Ao assumir esses papeis, ascender na carreira fica cada vez mais difícil. “As mulheres não se candidatam para uma vaga sem ter aproximadamente 90% de certeza que são capacitadas. É quase um autoboicote, porque os homens se candidatam, às vezes, com apenas 60% de certeza”, disse Maria José Tonelli, Doutora em Psicologia Social e Professora da Fundação Getúlio Vargas.
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Um estudo feito pela Peterson Institute for International Economics, em fevereiro de 2016, analisou mais de 22 mil companhias em 91 países e chegou à conclusão de que a diversidade de gênero em cargos de liderança gera mais lucro às empresas. Isso acontece, porque a inclusão de mulheres em ambientes masculinos traz visões diferentes de gestão, o que é muito benéfico para os negócios. A professora Doutora em Sociologia Carmen Migueles, da Fundação Getúlio Vargas, endossa essa posição: “Existe uma visão errada no Brasil de achar que equidade de gênero é um tema estritamente feminista. Ela é um dos principais fatores para evoluir as economias e é um erro das lideranças não perceberem isso”.
2. Maternidade
A carreira de homens e mulheres tende a crescer mais entre os 25 e 35. Exatamente a mesma em que as mulheres têm filhos – mais de 40% das mulheres brasileiras viram mães nesta faixa etária. A falta de apoio à mulher durante esse período faz com que a maternidade se torne um fardo no mercado de trabalho.
A falta de políticas públicas, como uma licença paternidade maior (hoje os homens podem se afastar por apenas cinco dias), creches que funcionem em período integral e leis que apoiem as lactantes são alguns dos quesitos que precisam ser revistos para que as mulheres consigam equilibrar de maneira justa suas carreiras com a maternidade.
As empresas também precisam investir. Criar núcleos de auxílio para as mulheres que estão saindo ou retornando da licença maternidade e centros que trabalhem para valorizar as mulheres dentro das companhias são algumas das ações incentivadas pela representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, para diminuir a desigualdade entre os gêneros. “As pessoas acham que a mulher não vai querer determinado cargo porque tem filhos, mas ninguém pergunta para ela o que ela gostaria. É esse tipo de preconceito que faz com que nós não sejamos promovidas da mesma maneira que os homens”, completa.
3. Preconceito
Empoderar as mulheres para que se sintam capazes de subir nos cargos ou abrirem seus próprios negócios é uma das medidas necessárias não só para encurtar o prazo estabelecido pela ONU para um mundo igualitário até 2030, mas, também, para criar um ambiente mais justo para homens e mulheres. “O preconceito com o sexo feminino é histórico e ainda existe. Vivemos em uma sociedade patriarcal e ainda não conseguimos transformar essa realidade de maneira permanente. A melhora acontece devagar, mas espero ver logo a diferença e não só quando tiver netas”, finaliza Hildete Pereira de Melo.
Curso Abril de Jornalismo 2016
Reportagem: Aline Takashima, Giovanna Maradei, Lola Almeida, Nathalia Cariatti, Thaís Varela
Arte: Ana Mastrochirico, Gabriela Cestari
Fotos e vídeos: Martim Passos
Agradecimentos: Edward Pimenta, Cristina Naumovs, Bruna Sanches, Doberman Filmes, Escola de Dados