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Desânimo e pouca informação afastam alunos do 4º ano do Ensino Médio em SP

Alunos e professores dizem não entender como funcionará quarto ano do Ensino Médio

Por Nathalie Páiva
18 jan 2021, 10h00
Ensino bilíngue.
Ensino bilíngue. (krisanapong detraphiphat/Getty Images)
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Com a chegada da pandemia da Covid-19 (coronavírus), alunos e professores tiveram que se reinventar para enfrentar um ano letivo totalmente remoto. Mesmo com o esforço dos profissionais da educação, o governo do Estado de São Paulo percebeu os déficits causados pelas dificuldades de acesso ao ensino online  e resolveu criar o quarto ano do Ensino Médio, a opção de um ano a mais de estudos para os alunos que quiserem se preparar melhor.

Uma atitude muito bem divulgada mas pouco explicada na opinião de André Sapanos da APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). “O governo, apesar das propagandas que fez sobre o quarto ano do Ensino Médio, não deixou claro para alunos, tampouco para as direções das escolas e professores, como funcionará essa oportunidade de recuperação. É mais uma propaganda”, diz o sindicalista.

Toda informação e apoio eram necessários em um ano em que o abandono da escola atingiu níveis estratosféricos. Em 2020, o índice de evasão escolar no Brasil chegou a 10 milhões. Se, de um lado a taxa de analfabetismo no Brasil vem caindo com o passar dos anos, do outro, o desafio de concluir a formação, que já era enorme, se agravou.  Mais da metade dos alunos nem chegaram a concluir o Ensino Médio, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O problema já atinge 69,5 milhões de brasileiros.

Valéria Alveiro, professora em Ribeirão Pires, cidade do ABC Paulista, conta que alguns alunos das suas turmas de terceiros anos do Ensino Médio desistiram para começar a trabalhar ou simplesmente por não conseguir acompanhar o conteúdo mesmo com todo recurso oferecido na medida do possível pelas direções das escolas. “Nós tentamos ajudar os alunos na medida do possível, com atividades impressas, Google classroom, atendimento às dúvidas dos alunos praticamente 24h por mensagem, mas mesmo assim muitos desistiram”, explica a profissional.

A educadora ainda diz que, mesmo com a evasão, os estudantes receberam a oportunidade de nesse mês de janeiro recuperar o tempo perdido. “Nas escolas em que leciono optamos por dar mais uma chance neste mês aos estudantes, mas mesmo assim os reflexos de 2020 sempre estarão presentes na vida deles.”

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Sapanos acha que o governo erra duas vezes ao colocar 40 alunos em uma sala: não é bom nem para o aprendizado, nem recomendado em termos sanitários. “Professores terão uma dificuldade enorme para saber sobre o conteúdo não aprendido e ajudar o aluno a recuperar. Neste sentido é um erro o governo querer montar salas com 40 alunos. Serão muitos estudantes com lacunas diferenciadas. O ideal seria salas com um número reduzido para trabalhar.”

Gabrielle Bomtempo Pucci cogitou fazer o quarto ano do Ensino Médio, mas optou em fazer um curso preparatório para vestibular. Ela sonha estudar Hotelaria e Turismo, como curso superior. “Com a continuidade da pandemia imaginei que o quarto ano seria do mesmo jeito que foi o terceiro, o que não compensa já para mim, visto que meu objetivo é entrar em uma faculdade. Não posso perder mais um ano”, explica a estudante.

Outra estudante que desistiu da opção é Eduarda de Oliveira Martins. Por estar perto de completar 18 anos, achou melhor tentar ingressar no curso técnico de contabilidade, pela ETEC (Escola Técnica Estadual), de sua cidade Ribeirão Pires.” Desde que soube da possibilidade do quarto ano, pensei em fazer pois senti muita dificuldade para aprender no ano passado, terminei meus estudos sem saber nada do terceiro ano do Ensino Médio, mas quero agora recuperar o tempo perdido com cursos”, diz.

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A reportagem de CLAUDIA passou dias procurando estudantes interessados em cursar o quarto ano do Ensino Médio, mas a grande parte dos alunos que encontramos optaram por repor o tempo perdido com outras opções de ensino.

Sapanos diz que, para a alternativa funcionar, alunos e mestres deveriam receber suporte o que não ocorria nem em tempos sem pandemia. “Os professores tiveram que usar aparelhos pessoais para lecionar ou investir em notebook, tablet, telefone. E ainda tentar aprender a usar as ferramentas ofertadas pelo governo com atraso. Nada substitui o ensino presencial, principalmente nessa fase de aprendizado”, diz.” Os alunos que mais precisam de nós são os mais desamparados pelo governo por não ter condições dignas para realização dos seus estudos em casa. A dificuldade de acesso a internet é um claro exemplo.”

O governo do Estado de São Paulo informa que todas as inscrições para o quarto ano do ensino médio foram realizadas em 2020. E os alunos que decidirem neste ano participar da opção podem entrar em contato com a respectiva, Diretoria de Ensino, a partir de quarta-feira, 20, e até 29 de janeiro.

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Objetivo é ofertar as aulas presenciais, mas tudo depende das evidências da área de saúde. A medida foi criada para atender às dificuldades enfrentadas pelos estudantes durante a pandemia. “Essa ampliação tem como objetivo aprofundar os conhecimentos e corrigir possíveis lacunas na aprendizagem em determinadas disciplinas. A medida visa contribuir com a formação integral dos alunos e apoiá-los no ingresso ao ensino superior, se assim desejarem. O aluno deve escolher entre 3 e 13 disciplinas para compor seu currículo”, informa o Estado.

Segundo o Estado, cada escola tem autonomia para desenvolver a sua ação de acolhimento. Quanto ao material, os alunos utilizarão os mesmos que tiveram acesso no 3º ano. O início do ano letivo de 2021 será em 01 de fevereiro. E para não sobrecarregar os professores a Seduc abrirá processo para contratação de 10 mil professores temporários com o objetivo de que estes docentes ministrem as aulas presencialmente. Os interessados devem se cadastrar até 20 de janeiro.

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