Os especialistas tendem a recomendar que todos os adultos trabalhem em conjunto para ensinar os pequenos a navegar com segurança
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“Olha como ele aprendeu sozinho! Dá para acreditar?” Toda família já teve seu momento de puro deslumbramento ao ver uma criança – às vezes até um bebê – interagir com uma tela de celular. A agilidade com que dedinhos tão pequenos encontram os caminhos virtuais é mesmo incrível – e o assombro dos adultos, compreensível. O que nem pais nem professores admirados podem é se deixar levar e pensar que têm pouco ou nada a ensinar sobre tecnologia à criançada de hoje, que já chega ao mundo rodeada de toda essa parafernália, com a qual ganha intimidade rapidamente. Está aí uma conclusão perigosa.
“Você deixa uma criança só na rua? A mesma coisa vale para a internet”, resume Erika Kobayashi, coordenadora de programas da Childhood Brasil, entidade que trabalha na prevenção ao abuso sexual infantil. Ela lembra que, apesar da facilidade tecnológica, a nova geração não sabe se proteger narede. Em coro com alguns educadores e especialistas em tecnologia, ela faz um alerta: os adultos precisam assumir a educação virtual das crianças e dos adolescentes. Mas, afinal, de quem é a responsabilidade: dos pais ou dos professores? Quem deveria, por exemplo, ficar de olho no que rola na comunidade que a classe criou em uma rede social?
A resposta a essas questões não é simples, porque o espaço virtual embaralhou as responsabilidades. Ocorre que, na internet, é mais difícil determinar de quem é a posse do território onde os problemas e conflitos acontecem. Há várias situações que podem se transformar em risco. Por exemplo, quando um aluno acessa a internet do próprio telefone durante o período de aula ou quando faz em casa, mas a pedido da escola, uma pesquisa no Google sobre o aparelho reprodutivo. Ou, ainda, se começa a trocar narede mensagens agressivas com um colega.
Justamente pela dificuldade em estabelecer limites entre os deveres dos educadores e os da família em casos assim, os especialistas tendem a recomendar que todos os adultos trabalhem em conjunto para ensinar os pequenos a navegar com segurança. “É papel dos dois estar presente na redee mediar as situações de conflito online. E nem é preciso ter conhecimento especializado para isso”, afirma a psicóloga Juliana Cunha, coordenadora psicossocial do Helpline, canal de orientação gratuito a crianças e adolescentes vítimas de violência na internet da ONG SaferNet.
Plano de combate
O bloqueio de sites e até de certas palavras e imagens foi a primeira medida tomada por escolas do mundo todo, numa tentativa de barrar conteúdos inadequados. Mas os alunos logo passaram a se dedicar à tarefa de descobrir como quebrar as barreiras dos softwares de segurança colocados nos computadores das escolas. “Adolescentes veem filtros de conteúdo como um jogo de forças: ‘Não querem que eu veja?’ Então, quebrar o sistema vira um desafio”, diz a pesquisadora Cristina Ponte, coordenadora da equipe portuguesa do projeto EU Kids Online, que pesquisa o uso da internet naEuropa. Outro problema é que os filtros frequentemente barravam pesquisas solicitadas pelos próprios professores. “Acabou mudando o paradigma. Hoje as políticas de segurança estão voltadas para a cultura de respeito”, diz Cristina.
O trabalho de conscientização que os adultos precisam fazer com essa nova geração para enfrentar os perigos da rede tem várias etapas. Mas, segundo Juliana Cunha, da ONG SaferNet, o primeiro grande passo é pais e educadores criarem um código de conduta para as crianças na rede, do mesmo modo que estabelecem regras para a diversão no recreio ou um passeio no parque. Com os pré-adolescentes e adolescentes, a orientação pode ser aprofundada. Deve-se discutir com eles o conceito de identidade, tão alterado nos últimos tempos por causa do advento das redes sociais. “Tudo o que se publica ali faz parte da construção da identidade. Nenhuma informação postada passa impunemente”, alerta Regina de Assis, especialista em mídias na educação, do Rio de Janeiro. Nessas conversas, ela diz que os adultos têm de “abrir o jogo” sobre os riscos de assédio, a perda de privacidade e os danos ao se navegar em sites que incitam a violência.
Especificamente em sala de aula, educadores podem trabalhar uma navegação mais construtiva com a garotada. “O professor deve falar sobre sites inadequados e apresentar aqueles que são interessantes, enriquecedores para o estudo, pois cabe a ele oferecer um menu de alternativas de pesquisa aos alunos”, diz Regina. E pondera: “Tomar consciência da urgência do diálogo sobre segurança na internet é importante, mas não é preciso pânico”.
disso com crianças e adolescentes.