A Jamaica é um dos paraísos tropicais do Caribe
Foto: Reprodução Revista BONS FLUIDOS
A ilha da Jamaica é muito mais do que um paraíso tropical encravado no Caribe. Esse local, terra natal do cantor Bob Marley e onde a música é o balanço da vida, é o berço da cultura rastafári.
Ela surgiu no início do século 20 como reação às deploráveis condições sociais e econômicas dos descendentes de escravos africanos trazidos para a América durante o período colonial. “O movimento rastafári foi a maneira encontrada para devolver a autoestima e a crença espiritual de um povo massacrado pela desigualdade social”, explica o historiador Paulo Antunes, membro do Foco de Atividade de Cultura Alternativa, de São Paulo. Inicialmente um movimento local, ganhou o mundo, principalmente, pelo reggae de Marley, que pregava o não-conformismo e tinha um forte engajamento social.
Somos todos um só
De acordo com Roger Steffens, um dos autores do livro “Reggae Scrapbook”, pesquisador e profundo conhecedor dos princípios rastafáris, “esse é um movimento que veio transcender religião, classe, cor. Os rastas têm a sua própria linguagem, acreditam que todo discurso deve ser feito de maneira positiva e construtiva. Tentam nunca usar ‘você’. Para eles, deve ser ‘eu e eu’, ‘eu e você’, ‘eu e Deus’, no qual todos somos um. Rasta for I”, explica.
Isso mostra por que diferença é uma palavra que não existe para os rastas. O ideal de que somos todos irmãos se expressa também na bandeira do movimento. Diferentemente da jamaicana, que traz os tons verde, referindo-se à natureza; amarelo, ao sol; e preto, ao povo, a bandeira rasta substitui o negro pelo vermelho, cor que simboliza o sangue, presente em todos os seres humanos, sem distinção de cor, sexo, raça ou classe social.
O que os rastas são, sim, é diferentes. Talvez por sua aparência pouco convencional ou seu jeito alternativo de ver o mundo, muita gente ainda torce o nariz na presença de um deles. Mas, quando comparados a seguidores de outras crenças, é possível ver que tudo não passa de maneiras distintas de expressar a mesma coisa: pregar o bem e amar ao próximo.
Assim como os evangélicos não cortam os cabelos, por exemplo, os rastas também mantêm seus dreadlocks intocáveis. “É como o voto nazareno, que está na Bíblia e diz: ‘Não cortar os pelos'”, explica o historiador Paulo Antunes. “Esses canudos se formam porque os fios não são penteados e simbolizam a união com Jah e ainda uma vida justa e natural.”
Apesar de ter morrido há mais de 20 anos, a imagem de Bob Marley é reverenciada nos quatro cantos da ilha
Foto: Reprodução Revista BONS FLUIDOS
Esse é apenas um dos princípios dessa cultura tão rica e variada. Conheça outros preceitos que a norteiam:
· Dizia Bob Marley: “Somos o que fazemos, e não o que falamos”. O compromisso com a palavra dada, o amor ao próximo e a luta contra a sociedade moderna e seus valores invertidos são um dos principais mandamentos.
· “Em busca do mais natural possível, os rastafáris seguem uma alimentação ital [termo rasta que significa ‘puro’, ‘limpo’]”, conta Antunes. “Eles evitam tudo o que for industrializado, enlatado, com conservantes, condimentos ou muito cozidos, preservando assim as vitaminas, proteínas e a força vital do alimento.” Vegetarianos, alguns abrem exceção aos peixes.
· Os seguidores do movimento não fazem alterações no corpo, como tatuagens, cortar qualquer parte do corpo ou pele, assim como o cabelo e barba, que também não devem ser escovados. “Os rastas preservam o corpo, porque ele é o nosso templo, é a nossa casa sagrada”, fala Paulo Antunes. Tal filosofia explica em parte a morte prematura de Bob Marley, nascido em 1945 no interior do país. Em 1981, aos 36 anos, o astro do reggae faleceu de um câncer (começou com uma ferida no dedão do pé, que deveria ser amputado) não tratado corretamente. Tudo porque retirar parte da carne é contra um dos muitos princípios rastafáris.
· A maioria dos rastas vivem nas montanhas para ficarem próximos da natureza e longe da babilônia, como é vista a cidade.