Tradições
(LUTSI, 27 ANOS, PAI DE AJUTA, 1 ANO E 2 MESES)
Alto Xingu (MT)
“Em nossa cultura Yawalapiti, todos os homens passam por rituais de iniciação. O mesmo ocorre com as crianças. Ainda bebês, elas tomam diariamente o ahi atandangü, um chá de ervas para fortalecer.
Os cuidados que tenho com Ajuta, como pai, são bem parecidos com os da mãe. Somos muito presentes. Na aldeia, as crianças vivem em contato com a natureza, de onde tiramos elementos para usar no artesanato. Meu filho gosta muito das penas, em especial das amarelas.
Como é bastante quieto e fica muito assustado no contato com pessoas desconhecidas, uso as peninhas para brincar. Ou passo devagar no rosto dele, fazendo carinho. E então Ajuta se distrai e se acalma.”
Cumplicidade
(RICARDO TOSCANI, 38 ANOS, PAI DE ALICE, 9)
Eu e a Lucia, mãe dela, dividimos igualmente as tarefas e os cuidados. Fico com as atividades cotidianas, mas faço o que precisar. Arrumo o cabelo, amarro a faixa do uniforme de kung fu e assisto aos desenhos. Quando necessário, me imponho como pai, ainda que procure resolver os conflitos com muita conversa.
Alice é, acima de tudo, minha parceira. E acompanhar o crescimento dela é uma mistura de tantas coisas que sinto como se estivesse em uma montanha-russa. Tenho certeza de que ela será uma mulher incrível, que saberá se virar. Carrego, porém, alguns medos pelo mundo que ela vai enfrentar mais para a frente.”
Lição de casa
(HÉLIO EUCLIDES, 43 ANOS, PAI DE ÂNGELA BEATRIZ, 5 ANOS)
Rio de Janeiro (RJ)
“Minha esposa, Viviane, vive dizendo que a Ângela parece ter saído da minha barriga, e não da dela. Realmente somos muito ligados. Pelas manhãs, sou eu quem cuido da nossa menina. Acordo, troco, dou café da manhã e tento pentear o cabelo – ainda não peguei muito o jeito desta última função.
Daí, eu a levo para a escola na garupa da minha bicicleta, com a mochila pendurada no guidão. Em casa, Ângela fica todo o tempo ao meu lado. Vem de mansinho, pede para ensiná-la ou deixar uma louça para ela lavar – enquanto a seguro em uma cadeira.
Também aprendo muito com ela. Não falo mais palavrões, voltei a pedir desculpas, dar bom-dia e boa-noite… Tento dar exemplos e quero que ela saiba que sempre pode contar conosco.”
Calmaria
(FILIPE REDONDO, 34 ANOS, PAI DE HELENA, 2 anos,E DIANA, 5 MESES)
São Paulo (SP)
“Fui criado em uma família onde a mãe lidava com os filhos e o pai tinha o papel de provedor. Em casa, as coisas são diferentes. Eu me esforço para não repetir padrões machistas. Para que ninguém se sobrecarregue, divido tudo com a Luciana, mãe das minhas Helena e Diana.
Quando tínhamos só a mais velha, era mais calmo. Agora, são duas crianças, em fases distintas, para dar banho, vestir, alimentar, pôr na cama… e por aí vai. Em compensação, me considero muito mais tranquilo do que quando era pai de primeira viagem. Lembro de checar se Helena estava respirando enquanto dormia.
Com Diana nunca fiz isso. Por mais cansativo que seja, tudo é compensado pelo amor que sentimos por elas. Tudo que faço é para ver minhas filhas sorrirem. Tento ser um pai próximo, carinhoso, presente e amigo. Torço para que, no futuro, elas encontrem uma sociedade melhor e mais igualitária para as mulheres.”