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Só saio da minha casa na moda de antigamente

Tenho certeza de que vivi na época de Tiradentes. Vou até transformar minha casa em museu!

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 04h36 - Publicado em 5 jan 2010, 21h00
André Albert (/)
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Desde criança eu adorava estudar a 
Inconfidência Mineira e seus personagens
Foto: arquivo pessoal

Demoro até uma hora e meia pra me arrumar. Afinal, não é fácil vestir sete anáguas, ceroula, corpete, espartilho, vestido, luvas e chapéu. Sim, esse é o traje que uso no dia a dia. Tenho quase 60 vestidos feitos à moda dos séculos 18 e 19.

Há quem diga que sou uma malucona. No fundo, são uns invejosos! Tudo que brilha por conta própria incomoda, não é?

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Podem dizer que sou excêntrica ou fora do meu tempo, mas louca, não!

Em outra vida, eu vivi em Ouro Preto

Sou carioca. Porém, há 32 anos adotei Ouro Preto, no interior de Minas Gerais, para viver. Desde criança eu adorava estudar a Inconfidência Mineira e seus personagens, como Tiradentes e Marília de Dirceu. Vim pela primeira vez à cidade aos 11 anos, quando participei de uma apresentação de dança. No momento em que pisei aqui, tudo me pareceu familiar. Eu nunca tinha estado nessas ladeiras e casas, mas era como se já as conhecesse.

Como acredito no espiritismo, percebi que era um resgate do meu passado. Voltei ao Rio de Janeiro encantada, falando que queria morar em Ouro Preto. Quando chegou a idade, passei no vestibular para Farmácia e Bioquímica em Juiz de Fora, também em Minas Gerais, e me transferi para cá em seguida.

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Não basta vestir uma roupinha

Cinco anos atrás, algo despertou em mim. As pessoas acham que o 21 de abril é só um feriadão. Mas ninguém lembra dos responsáveis pela liberdade que a gente respira, os inconfidentes mineiros: Tiradentes, o poeta Tomás Antônio Gonzaga e tantos outros. Lembram menos ainda de Marília de Dirceu, personagem que adotei para a vida. Então, iniciei um resgate da biografia deles. Comprei livros, encomendei trajes de época, fui a antiquários…

Como nunca me casei, mobiliei a casa com a minha cara, no estilo do século 18. São três andares com móveis da época em que Marília esteve aqui. Há só uma ou outra coisa nova, de 70 anos atrás.

Vou transformar minha casa em museu

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Minha casa chama a atenção já na fachada, que é inclinada. Tenho uma capela, onde faço reverência todos os dias aos que estão ”no andar de cima”. No 21 de abril, homenageio os inconfidentes com uma medalha, um por um. Ofereço tudo a esses heróis que o Brasil tem e ninguém lembra. Quando me vejo no chuveiro, sem ter que usar paninhos e caneca, agradeço por viver numa época tão farta!

Agora, estou bancando uma restauração da casa. Quero abri-la ao público em abril. E vou cobrar ingresso! Já dou palestras sobre Marília e os inconfidentes. Agora vou ter um lugar mais do que adequado para isso.

Eu me aplaudo de pé pelo que faço

É claro que, às vezes, preciso usar roupas do século 21. Se cair um temporal, não vou arrastar anáguas por aí, né? Mas até no Rio eu visto trajes antigos. É claro que isso gera mal-entendidos. Uma vez, fui ao Jardim Botânico, ao lado da TV Globo, e todos queriam tirar fotos. Me irritei, porque a única coisa que perguntavam era: ”Qual é a próxima novela das seis?”.

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As pessoas só estudam a Inconfidência Mineira pra fazer vestibular. Por isso, sei que meu trabalho é importante e me aplaudo de pé todos os dias. Quanto mais me envolvo com o tema, mais tenho certeza de que estive aqui com Tiradentes e os demais. Quem eu fui, não sei! Se eu dissesse que fui Marília, estaria mentindo. Mas admiro a musa que ela foi!

E espero, sim, ter um Dirceu. Se possível, que venha com uma carruagem. É o que falta no meu projeto. Mas eu sou exigente: quero um homem tão culto quanto Tomás Antônio Gonzaga, que me aceite como sou e que queira se vestir com roupas da época. O traje está no meu armário, esperando por ele…

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