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5 tópicos para entender como funciona uma plantação de café sustentável

Cecília Seravalli, gerente de sustentabilidade da Nespresso, afirma que as mudanças climáticas podem fazer o café "deixar de existir" em até 50 anos

Por Kalel Adolfo
8 ago 2023, 09h50
Entenda como funciona uma plantação de café sustentável.
Fomos conhecer uma das 1500 fazendas fornecedoras da Nespresso, que conta com um processo de cultivo sustentável.  (Atlantide Phototravel (Getty)/Reprodução)
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No início deste mês, tivemos o prazer de conhecer uma das fazendas fornecedoras da Nespresso — “Cachoeira da Grama”, localizada no interior de São Paulo. A área (belíssima, diga-se de passagem) ganha ainda mais graciosidade ao descobrirmos o processo sustentável presente em cada hectare da propriedade. Da plantação à exportação, a companhia garante que cada passo na cadeia de produção esteja pautado no cuidado com o planeta — algo que, segundo Cecília Seravalli, gerente de sustentabilidade, é uma das prioridades máximas da empresa.

Sustentabilidade não é apenas dar um destino correto às cápsulas

“É muito importante frisar que ser sustentável não é apenas dar um destino correto às cápsulas. Precisamos ter um cuidado com as pessoas que trabalham no campo, com a preservação das áreas da fazenda. Claro, o programa ‘Triple A’ [que visa garantir a qualidade do nosso café] faz parte do objetivo comercial da Nespresso. Porém, não adianta um café ser extremamente bom, sem antes garantirmos o bem-estar de quem está cultivando, se a propriedade não está cumprindo a legislação local e o código florestal”, declara.

Aliás, para além da plantação e colheita, a especialista reitera a importância de garantir a sustentabilidade no transporte dos grãos. “Apesar desse não ser o principal ponto de poluição, é extremamente relevante otimizar as rotas de transporte e mudar os tipos de combustível que são utilizados. Hoje, por exemplo, contamos com a entrega verde, onde fornecemos os nossos produtos por meio de carros elétricos e bicicletas”, afirma.

Como funciona uma plantação de café sustentável

Imagens da “Fazenda Cachoeira da Grama”, uma das propriedades fornecedoras da Nespresso. (Valmir Moraes (Weber Shandwick)/Arquivo pessoal)

A seguir, Cecília Seravalli explica os pilares de uma plantação de café sustentável (e como a Nespresso se compromete com este movimento). Confira:

1. Descarbonizar a cadeia de valor

O primeiro pilar está ligado às emissões de carbono e mudanças climáticas: “António Guterres, secretário-geral da ONU, nos avisou que não estamos mais na era de aquecimento global, e sim durante a ‘era da ebulição’, pois o planeta começou a ‘ferver’, literalmente. É um cenário catastrófico, e nós, como uma grande empresa, precisamos puxar esse movimento não apenas para gerar uma mudança em toda a cadeia, mas também porque está afetando diretamente o café”, explica Cecília.

Inclusive, a gerente de sustentabilidade revela que o compromisso da Nespresso é tornar-se ‘Net Zero’ [neutralizar as emissões de carbono] até 2035: “Companhias importantíssimas estão conseguindo desenhar uma meta até 2050, então estaríamos 15 anos adiantados.”

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2. Circularidade

O próximo pilar é a circularidade, que ultrapassa a tradicional (porém importante) reciclagem das cápsulas. “A circularidade é olhar para toda a cadeia produtiva. Saímos desse modus operandi de descartar as máquinas assim que saem de linha. Nada disso. Precisamos pensar em todos os materiais”, diz.

Ela exemplifica: as cápsulas da Nespresso, tanto da linha Vertuo quanto da linha original, já contam com 80% de alumínio reciclado em sua composição. Todas as máquinas, independente de sua geração, têm 50% de plástico reciclado em sua fabricação. “Os produtos precisam ser feitos para durar, não trocar”, aponta.

3. Agricultura regenerativa

A agricultura regenerativa, como o nome sugere, baseia-se em cuidar do solo, criando soluções que insiram a natureza como protagonista de todo o processo. “Pense que você entra em uma trilha de Mata Atlântica e se depara com toda aquela exuberância. A temperatura é amena, existe bastante biodiversidade, diversos tipos de vegetais, plantas, árvores e flores. O solo é marrom, escuro, descompactado, então observamos formigas, bichinhos. Tem vida ali. É exatamente isso que desejamos replicar em um cultivo de café”, ilustra.

Para isso, a Nespresso aposta em plantios de cobertura, arborização dos cafezais, utilização de compostagem e a diminuição de fertilizantes e insumos químicos. “Queremos que a agricultura regenerativa represente 95% das nossas plantações no mundo inteiro até 2030”, declara Cecília.

E como a companhia irá medir isso? Através de uma ferramenta chamada ‘Rainforest Alliance’, uma organização sem fins lucrativos que certifica a sustentabilidade em fazendas. “Eles montam scorecards, que avaliam as propriedades em bronze, prata e ouro. Queremos ser, minimamente, 70% ouro. É um trabalho árduo, mas imprescindível”, compartilha a gerente de sustentabilidade.

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4. Cuidado com as pessoas no campo

O quarto pilar de qualquer plantação sustentável é o cuidado com as pessoas no campo. “Buscamos garantir uma renda mínima para os cafeicultores, até porque, os pequenos produtores do Brasil não são tão pequenos assim. Se você pensar numa África, ou até na Colômbia, as fazendas de café equivalem a um quintal de casa”, exemplifica.

“Lembro de uma vez que escutei o head de sustentabilidade global falar que, no Congo, chegou a ver um cafeicultor carregando três sacas de café em cima de um animal de carga. Esse era todo o cultivo dele. Então, se acontecer uma geada, ele ficará sem toda a sua renda anual. Portanto, garantir ao menos uma renda mínima é essencial para que o cafeicultor prospere”, complementa.

5. Meta de certificação como ‘Empresa B’

Por último, Cecília afirma que o certificado da Nespresso como ‘Empresa B’ é o resultado de todos esses esforços. “Somos certificados desde abril do ano passado. Essa é uma credencial muito importante quando falamos sobre sustentabilidade, pois ela não avalia apenas o nosso produto, mas também o processo. Trata-se de um questionário que avalia a companhia em até 200 pontos. Preenchemos um formulário e enviamos evidências de temas relacionados a colaboradores, comunidade, governança corporativa, meio ambiente e clientes”, esclarece.

A certificação ‘B’ possui validade global, e para garanti-la, é necessário o envio de milhares de documentos. A Nespresso, segundo Seravalli, precisou separar 17.000 evidências para alcançar tal feito. Contudo, ela garante que o selo não é a parte mais relevante da conquista: “O principal ponto é usar o certificado como ferramenta de gestão e diagnóstico. Entendemos o que somos e onde precisamos melhorar. A partir disso, montamos planos de ação para buscar melhorias sustentáveis e aumentar a nossa pontuação para cima de 90 [atualmente, temos 84 pontos, sendo necessários 80 para garantir o selo”, explica.

O café pode “acabar” em 50 anos

Por fim, Cecília Seravalli faz um alerta: caso os cafeicultores, a nível global, não adaptem suas práticas de cultivo e produção a um padrão sustentável, logo o café se tornará comercialmente inviável, deixando de “existir” nas mesas de maior parte da população em apenas 50 anos.

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“Há dados que comprovam essa consequência, e o principal fator é a mudança climática. Pense: o café é cultivado entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio. Para isso, precisamos que a temperatura nessa região seja equilibrada, que chova nas épocas certas, especialmente em época de florada, para que os grãos se desenvolvam corretamente. Se chover um pouco antes da época ideal, uma colheita inteira pode ser prejudicada”, revela.

E da mesma forma que a chuva antecipada prejudica a colheita, a escassez de precipitações faz com que o grão não expanda o suficiente. “É muito delicado. Temperaturas extremas, como geadas, são capazes de queimar cafezais inteiros. Não é mais algo para se pensar no futuro, pois está acontecendo no presente”, alerta.

Ela relembra que, há três anos, quando uma intensa geada acometeu as plantações em uma época inesperada, o café atingiu o seu maior preço (R$ 500,00 por uma saca). “Na pandemia, uma saca de café da pior qualidade atingiu R$ 1500, que é o valor de um café especial. Com a diminuição da oferta, provocada pelas mudanças climáticas, podemos ver o café desaparecer da mesa dos brasileiros em cinco décadas. A hora de agir é agora.”

Máquinas e cápsulas para curtir a experiência Nespresso

Cafeteiras e cápsulas Nespresso

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